Por Pedro do Coutto –

A votação da noite de quarta-feira, que terminou com a aprovação da Medida Provisória do presidente Lula reestruturando os ministérios, mostrou de forma clara que, ao contrário do que sustentam alguns comentaristas, uma grande parte dos deputados não é conservadora, mas deseja participar mais das decisões de poder do governo, sentindo-se representada nas etapas da Administração, incluindo contratos de obras com verbas públicas.

A questão refletiu uma larga margem de votos a favor do Palácio do Planalto, ao contrário do que vinha sendo exposto no noticiário até pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, colocando em dúvida o destino da MP que entre outras alterações, dividiu o Ministério da Economia na Fazenda, no Planejamento, no Trabalho e na Previdência Social. Alice Cravo, Camila Turtelli, Gabriel Saboia, Jennifer Gularte, Lauriberto Pompeu e Sérgio Roxo, O Globo desta quinta-feira, destacam o episódio na Câmara dos Deputados.

PELA TANGENTE – Um alívio tanto para o governo quanto para o próprio Arthur Lira, que assim se livrou de uma interpretação caso o desfecho fosse outro de ter obstruído a reforma ministerial. A sua imagem ficaria sensivelmente comprometida ainda mais do que a do próprio presidente da República que, se não assumisse diretamente a articulação política, o encaminhamento da matéria não sairia do lugar. A matéria só se movimentou a partir de Lula da Silva atuar diretamente para liberar R$ 1,7 bilhão do orçamento dos parlamentares para a realização de obras de seus interesses eleitorais.

Interesses eleitorais sempre existirão. São eternos. O que é preciso dizer é que não há conservadorismo quando setores do Legislativo ensaiam uma insatisfação e uma obstrução. Ser conservador não é isso. A resistência inicial de votar matérias de amplo interesse do governo e do país tem como objetivo um acordo fisiológico. Não quero dizer também que tudo que é fisiológico é negativo. Muitas vezes, uma obra, objeto de destaque de um deputado ou senador, é de interesse coletivo. Mas é preciso ver os interesses políticos dos parlamentares na resistência inicial.

Sobre o assunto escreveu também Daniel Weterman, O Estado de S. Paulo. Frisou que com a liberação de emendas no valor de R$ 1,7 bilhão, este ano Lula já repassou ao Legislativo R$ 5,5 bilhões. Mas o Congresso, acrescenta Weterman, ainda quer mais participação. É do jogo político, sem dúvida. E se examinarmos concessões através da história, encontraremos decisões fisiológicas muito maiores.  Não espantam os analistas políticos mais antigos essa sequência de fatos integrantes da ação humana.

GOOGLE –  Na edição de ontem de O Globo, Dimitrius Dantas publicou reportagem, destacando os ataques em massa do Google, incluída a Meta e o Facebook, contra o Projeto de Lei que estabelece sanções penais em relação às fake news e às mensagens que tentam inocular a violência na vida política brasileira. Atingiram 13 milhões de mensagens em várias escalas da comunicação desenvolvida.

O impulsionamento do Google e do Facebook foi medido pela Netlab na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O ministro Alexandre de Moraes já determinou a retirada de publicidade comercial combatendo o projeto da plataforma do Google.

DESEMPREGO – Reportagem de Carolina Nalin e Maeli Prado, O Globo desta quinta-feira, revela com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, que o índice de desemprego permaneceu em 8,5%, o que representa 9,1 milhões de homens e mulheres. Ao todo, a mão-de-obra ativa do país está em 98 milhões de pessoas, mas abrange tanto os de carteira assinada quanto os trabalhadores informais sem vínculo empregatício.

Os trabalhadores informais encontram-se na escala de 42% do índice global. Por seu turno, o Instituto Brasileiro de Economia da FGV identificou uma queda de 1,6% na procura por emprego. Conclui-se que essa redução decorre do Auxílio Brasil de R$ 600 por unidade familiar carente, acrescido de R$150 por filho de até seis anos de idade.

Cláudia Moreno, economista do C6 Bank, diz que o desemprego só não voltou a subir porque a pesquisa tem base nos que estão procurando ocupação e não nos que deixaram de procurar em função do Auxilio Brasil. A renda média dos brasileiros e brasileiras manteve-se em R$ 2.891 por mês. A meu ver, muito baixa.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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