Por Luiz Carlos Prestes Filho –
Para o Diretor da Cinemateca do MAM, Ricardo Cota, a pandemia fortaleceu a imagem da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A atual gestão acertou em frear os projetos de dimensão internacional e valorizar aqueles voltados os artistas nacionais. Os patrocinadores aprovaram.
Luiz Carlos Prestes Filho: Como você avalia a situação atual?
Ricardo Cota: Muito difícil, sobretudo do ponto de vista familiar. A preocupação é grande com os idosos e outros familiares do grupo de risco. Há uma sensação de impotência. No meu caso, felizmente, todos estão se cuidando e mantendo uma rede de proteção que inclui o afeto como item fundamental. Felizmente, do ponto de vista da gestão do MAM, mesmo diante de todas as dificuldades, conseguimos manter a equipe unida, empenhada. Tanto nos cuidados para com o Museu de Arte Moderna (MAM), quanto da Cinemateca. Grande parte disto se deve ao trabalho de integração promovido pelo novo Diretor-Executivo, Fábio Szwarcvald, seus Conselheiros e a equipe técnica. Aqui a renovação e a modernização aconteceu, mesmo durante a pandemia.
Prestes Filho: Os projetos da Cinemateca paralisados?
Cota: Estávamos no meio de uma mostra dedicada ao ator e cineasta Paul Newman, que tivemos que interromper. Também, suspendemos a mostra dedicada aos cem anos do crítico e cineasta francês, Eric Rohmer. Ambas serão retomadas. Não desistimos de nada, porém tivemos que acelerar a presença da Cinemateca on-line, o que acabou sendo muito positivo.
Prestes Filho: A situação da produção cultural no Brasil, você imaginava que chegaria ao ponto atual?
Cota: Acho que ninguém previu o tamanho do impacto da pandemia na produção cultural. A solução, no primeiro momento, encontra-se na dinamização do uso responsável das redes sociais, numa retomada da valorização dos artistas próximos. A Covid 19 deu uma freada em projetos de dimensão internacional. Teremos que olhar e valorizar cada vez mais os nossos artistas nacionais, o que já vinha sendo feito pelo MAM e pela sua Cinemateca. Mas a tendência é aumentar essa participação.
Prestes Filho: Medidas sociais? Medidas tecnológicas?
Cota: Socialmente, tivemos que fechar imediato da sala e do setor de pesquisa. Foi difícil tomar esta decisão. A sala estava num ótimo momento de público. Ano passado chegamos a ter 10 mil espectadores ano, um número historicamente formidável. O setor de documentação e pesquisa estava em processo de instalação em novo espaço físico. Mais amplo e confortável, na Rua do Senado 204. Tanto a sala, quanto a mudança serão retomadas à medida do possível, com todo cuidado e garantindo a segurança dos profissionais e do público. Quanto às medidas tecnológicas o momento foi importante para incrementar a presença da Cinemateca nas redes sociais e para uma reforma técnica, necessária há anos, da Sala de Cinema Cosme Alves Netto.
Prestes Filho: A retomada será em 2021?
Cota: Na verdade, já retomamos os trabalhos. Em julho, mês dos 65 anos da Cinemateca, realizamos – pela primeira vez – duas mostras de cinema totalmente virtuais. A primeira, programada em conjunto com a Associação Brasileira de Preservação do Audiovisual, está colocando no ar filmes brasileiros ligados ao tema da memória, da preservação e dos filmes de arquivo. A segunda, em conjunto com a Faculdade de Educação da UFRJ e o Dia Internacional da Animação, reúne filmes infantis realizados a partir de oficinas com crianças. Estes filmes foram realizados pré-pandemia e tiveram circulação limitada.
Prestes Filho: Como está a situação dos investimentos?
Cota: O Museu e a Cinemateca, mesmo durante a pandemia, permaneceram atuando de forma firme no esquema de trabalho em casa. Conseguimos junto a Petrobras o patrocínio para a Mostra de Filmes Infantis e estamos com outras frentes de captação abertas. A imagem do Museu e da Cinemateca, felizmente, é positiva junto aos patrocinadores.
Prestes Filho: No momento você sonha somente com o fim da pandemia?
Cota: Acho que o sonho de todos é que surja uma vacina que combata a Covid-19. O retorno ao convívio social, sobretudo com os familiares, é muito importante. Mas não devemos sonhar com um bom futuro sendo imprudentes no presente. É preciso manter o foco nos cuidados, na responsabilidade individual, no respeito ao próximo. É um grande desafio, não apenas no que diz respeito à saúde da sociedade brasileira, mas à sua conduta ética.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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