Por Luiz Carlos Prestes Filho

ENTREVISTA N.18 – ESPECIAL REGULAMENTAÇÃO DE JOGOS.

Para o engenheiro Renato Dias Regazzi, autor de livros sobre liderança, convergência empresarial setorial e desenvolvimento, a regulamentação de jogos de apostas em dinheiro administrados pela iniciativa privada no Brasil é algo fundamental, pois: “A cadeia produtiva do setor dos jogos está relacionada ao entretenimento sendo muito extensa, englobando vários setores diretamente e indiretamente de forma complementar e correlata, abrindo oportunidades para médias, pequenas e micro empresas participarem como fornecedores de produtos e serviços ou operadores de novos modelos de negócios.

Renato Dias Regazzi

Luiz Carlos Prestes Filho: Qual a sua visão sobre os encaminhamentos no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF) que podem regulamentar os jogos de apostas em dinheiro administrados pela iniciativa privada no Brasil?

Renato Regazzi: Entendo que sendo regulamentado, os jogos serão mais uma opção de arrecadação de impostos e fontes de emprego e renda para muitos brasileiros, que poderão trabalhar nesta cadeia produtiva, que engloba diversos setores econômicos, com destaque para os setores do turismo e entretenimento, que são considerados setores promissores, visto a tendência mundial de aumento do tempo das pessoas para o lazer, que será uma das tendências para as próximas décadas.

A roleta é um autêntico clássico dos jogos de cassino (Creative Commons)

Prestes Filho: No momento da crise, criada pela Covid 19, a regulamentação abriria oportunidades para as médias, pequenas e micro empresas reunidas?

Renato Regazzi: A cadeia produtiva do setor dos jogos está relacionada ao entretenimento sendo muito extensa, englobando vários setores diretamente e indiretamente de forma complementar e correlata, abrindo oportunidades para médias, pequenas e micro empresas participarem desta cadeia produtiva convergente, como fornecedores de produtos e serviços ou operadores de novos modelos de negócios para o setor.

Prestes Filho: Temos como favorecer as empresas brasileiras com a regulamentação dos jogos?

Renato Regazzi: Por meio da informação e programas de incentivo, como crédito, acesso a tecnologia, inovação e capacitação das empresas brasileiras para se tornarem competitivas para operarem neste setor, além de fomentar também o encadeamento produtivo, valorizando as compras e os empregos locais. Até porque a Cadeia Produtiva da Economia de Jogos do mundo promove atividades nas áreas de arquitetura e indústria gráfica, hospedagem e restaurantes, entretenimento e inovação tecnológica, entre outras.

Caça-níqueis em Las Vegas, Nevada-EUA (Creative Commons)

Prestes Filho: Será que não chegou a hora para promover um grande estudo institucional sobre a Cadeia Produtiva da Economia de Jogos no Brasil?

Renato Regazzi: Para entender e operar no setor dos jogos, buscando melhores resultados para as empresas brasileiras, existe a necessidade de entender como funciona esta cadeia produtiva, compreender as suas interações com os demais setores econômicos – a matriz de insumo e produto. Desta forma o setor poderá criar mais resultados para o país e a sua população, por meio de políticas públicas de desenvolvimento econômico e social. Então, o estudo da cadeia produtiva dos jogos é fundamental no momento para o Brasil.

Em 2019 o Enjoy Punta del Este, no Uruguai, foi incluído na lista do World Travel Awards, como o melhor cassino e resort do mundo. Na lista mundial também estão incluídos cassinos de Las Vegas e Monte Carlo (Martin Gutierrez/Divulgação)

Prestes Filho: O encadeamento produtivo na área de jogos é grande?

Renato Regazzi: As possibilidades de encadeamento produtivo são grandes. Desde o desenvolvimento de fornecedores para a montagem das instalações para a realização dos jogos ou construção de sistemas online, ao setor audiovisual, gráfico, do turismo, dos serviços de alimentação, segurança, tecnologias da informação e comunicação, produtores de equipamentos, sistemas elétricos e eletrônicos, serviços de manutenção e muito mais.

Este setor pode impactar positivamente empresas da indústria, comércio, serviços e alimentos se houver uma política pública de fomento ao adensamento de cadeia produtiva nacional.

Hotel Cassino (Creative Commons)

Prestes Filho: O Estado do Rio de Janeiro tem ativos históricos na área com o Cassino da Urca e o Quitandinha.

Renato Regazzi: Para os melhores resultados, para os investimentos no setor, será necessário identificar locais que tenham um “DNA” dos jogos, uma história e cultura, juntamente com a presença do setor do turismo dinâmico. Estas são exatamente as condições do Estado do Rio de Janeiro, que já teve ativos relevantes, que ficou na memória de muitas pessoas, e que podem ser resgatados. Sendo então uma boa oportunidade de fomento para a economia do Estado.

O Cassino da Urca foi um Hotel Cassino brasileiro de fama internacional localizado no bairro carioca da Urca. Com a proibição dos jogos em 1946, foi fechado e ficou sem atividades até 1953, quando Assis Chateaubriand iniciou as obras de instalação da sede no Rio da TV Tupi (Divulgação)

Prestes Filho: Estrategicamente, quais instituições deveriam ter voz ativa na estruturação de programas e projetos voltados para jogos no Brasil?

Renato Regazzi: As federações do comércio e da indústria, as associações comerciais e representantes do setor de turismo, bares, restaurantes e o Sebrae, por meio do fomento ao empreendedorismo e as micro e pequenas empresas. Também, algumas universidades e escolas técnicas, visando a pesquisa e a formação profissional para preparar as empresas e as pessoas a se capacitarem para o setor.

E instituições do setor da fazenda e de segurança para garantir a integridade e a regulamentação do setor.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Cineasta, formado em Direção de Filmes Documentários para Televisão e Cinema pelo Instituto Estatal de Cinema da União Soviética; Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local; Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009); É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).