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Reação institucional está aquém da gravidade do ato terrorista – por Jeferson Miola
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Reação institucional está aquém da gravidade do ato terrorista – por Jeferson Miola

Por Jeferson Miola

A reação política e institucional ao atentado perpetrado pelo bolsonarista radicalizado Francisco Wanderley Luiz está muito aquém da gravidade do ataque terrorista ao STF.

Chama atenção o silêncio do presidente Lula a esse respeito. E nenhuma autoridade se pronunciou oficialmente em nome do governo federal.

Não foi um ato qualquer. E não foram meras “explosões”, como se referiram ao acontecido os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco.

Menos ainda pode ser considerado um quase poético “desatino”, como o procurador-geral da República Paulo Gonet inacreditavelmente classificou o ocorrido.

O que aconteceu foi um evento de máxima gravidade: foi um atentado terrorista com todas características descritas em manual, ou seja, um ato de terror político executado com violência e emprego de explosivos para produzir danos impactantes e matar pessoas com o objetivo de causar pânico e disseminar um clima de medo na sociedade.

As autoridades policiais concluíram tratar-se de terrorismo. Ainda que tenha sido executado in loco por um único indivíduo radicalizado, não foi um ato isolado, mas um evento associado a uma estratégia de ação política violenta, vocalizada pelas lideranças extremistas, Bolsonaro à frente.

A auto-explosão do autor não tem o significado de um suicídio convencional, porque foi um ato extremado, de auto-imolação, que evidencia que o bolsonarista radicalizado estava determinado a fazer tudo que fosse necessário para concretizar seu ataque terrorista, inclusive o “gesto glorioso” de exterminar a própria vida.

Francisco Wanderley Luiz seguiu as palavras do líder-mor do extremismo, Bolsonaro, que se beneficia da demora do PGR em instaurar ações penais contra ele para andar pelo país fazendo pregações contra o STF e conclamando seus seguidores extremistas a “acabar com a própria vida pela nossa liberdade”.

O ato terrorista de 13 de novembro não tem a mesma magnitude do 8 de janeiro, mas também é gravíssimo e precisa ser analisado no contexto da radicalização crescente da extrema-direita bolsonarista e das ameaças constantes ao Estado de Direito.

Por enquanto, a resposta da institucionalidade democrática a este grave acontecimento ainda é bastante tíbia, quando poderia representar uma oportunidade para uma vigorosa ofensiva democrática contra o extremismo cada vez mais radicalizado.

Os setores comprometidos com a democracia e com a defesa do Estado de Direito precisam se unir acima das diferenças ideológicas para construírem respostas contundentes às ameaças extremistas.

O sepultamento do PL da Anistia, a retomada do PL 2630 de regulamentação das fake news, e a reivindicação de funcionamento verdadeiramente “normal” das instituições, em especial da PGR, no julgamento justo dos criminosos que atentaram contra a democracia, são algumas das medidas que precisam ser urgentemente concretizadas.

A população brasileira precisa ser alertada sobre o significado deste atentado terrorista, sua conexão com o 8 de janeiro e sobre os riscos que o extremismo representa para a sobrevivência da democracia. O extremismo não pode continuar sendo normalizado e naturalizado.

A ausência de respostas eficazes das instituições, dos partidos políticos, das organizações sociais e da sociedade encoraja a escalada do extremismo com seus terrorismos.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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