Por Ricardo Cravo Albin

A possível volta do Conselho Estadual de Cultura.

Sou de um tempo em que os conselhos de cultura – estadual e federal – funcionavam a todo vapor. O Conselho Federal de Cultura então, meu Deus!, era sempre aureolado por personalidades míticas, cujos titulares eram as mais reconhecidas personalidades do fazimento cultural do país. Lembro-me de que – nos corredores do prédio clássico do Ministério da Cultura no Centro Carioca (o de Le Corbusier e de seus então jovens seguidores Oscar Niemeyer e Lucio Costa) – encontrei-me dezenas de vezes com Gilberto Freyre, Manuel Diegues Junior, Jorge Amado, Câmara Cascudo, Marcos Vinicios Vilaça ou Eduardo Portella. E isso só para citar luminares que trespassam o novelo da temporalidade. Bem, quanto ao Conselho Federal de Cultura, ninguém sabe exatamente porquê, finou-se por motivos banais: a conjugação da burocracia mal explicada e o despreparo de governos incompetentes.

Todas essas memórias – quase sempre acabrunhantes – para agora lhes dizer que há poucos dias o Instituto Cravo Albin recebeu na Urca o Conselho Estadual de Cultura. Raríssima ocasião que o colegiado reuniu-se fora de sua sede, a pedido de seu Presidente, um jovem agente cultural chamado Jhonny Barroso. Que vem realizando, ao longo deste 2019 que agora se encerra, uma programação de interferências, levantamentos e apoio aos municípios do Estado do Rio de Janeiro. Barroso reativa o Conselho Estadual, ao que senti, com o fogo animador de quem quer promover coisas úteis. À reunião compareceu, além do Presidente do INEPAC, o urbanista Claudio Prado, a recém-empossada Secretária Estadual de Cultura, Professora Danielle Ribeiro Barros, cujas intervenções exibiram preparo técnico. Mas também, o que é raro, simplicidade e simpatia.

O Presidente Barroso anunciou na Urca uma novidade estimulante: o Conselho irá reunir-se periodicamente em cidades diferentes do Estado do Rio. E isso para atingir objetivos concretos: criar Conselhos Municipais de Cultura, tomar o pulso das carências de cada região, auscultar reivindicações dos grotões profundos do pouco estudado Estado Fluminense. E, sobretudo, defender o patrimônio público local.

Nada mal para melhorar-se o processo cultural e se integrarem todos os municípios de um estado rico em folclore e criatividade como o quase sempre sofrido Estado do Rio.

Ao final da reunião, sugeri ao Conselho que tentasse resgatar certas tradições que tramaram a história da sedimentação cultural no Rio, em especial os prêmios Golfinho de Ouro e Estácio de Sá, criados por mim no Museu da Imagem e do Som (em 1967) para consolidar a erupção nacional que foi o lançamento dos “Depoimentos para a Posteridade”. Célebres, diria mesmo celebérrimos prêmios, foram eles atribuídos ao longo de quase quarenta anos. Agora, imaginem doze homenagens anuais (6 Golfinhos e 6 Estácios) multiplicadas por quarenta anos. Quase todos os ícones do Brasil teriam sido contemplados. De Glauber Rocha a Nelson Pereira dos Santos, de Oscar Niemeyer a Niomar Muniz Sodré, de Chico Buarque a Gilberto Gil, de Di Cavalcanti à Djanira, de Jorge Amado a João Cabral, de Pelé a Garrincha. Uma multidão de notáveis, enfim, a abraçar os seus Golfinhos e Estácios.

Essas homenagens foram, sobretudo, convenientes pelo baixo custo. A que se antepunha, contudo, uma alta imaginação. Porque nutridos menos pelo dinheiro que pelo prestígio. Ou seja, pela necessidade generosa de premiar os produtores dos melhores trabalhos de cultura a cada ano. O que significava o raro exercício de homenagear pessoas e instituições que merecessem ser aclamadas. E proclamadas em termos públicos.

*Ricardo Cravo Albin, Jornalista, Escritor e Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin