Quais lições podemos extrair da Tragédia “Otelo”, de Shakespeare, escrita, em 1603 – por José Macedo
Por José Macedo –
Quem conhece a peça, objeto do título deste texto, pode observar a existência de variáveis e vinculações com os dias atuais.
Shakespeare é um profundo conhecedor da natureza humana, que é capaz de assassinar, vingar-se, odiar, emitir notícias falsas (fake news), racismo, homofobia, misoginia, até de amar, o que é paradoxal.
Otelo, o Mouro de Veneza, negro, General, bem sucedido, conhece a jovem branca, Desdêmona, apaixonam-se, apesar de que, seu pai, um general, eminente e branco, opor-se.
No meio daquele mundo branco, Otelo é vitimado por um oficial, de nome Yago, que teria sido preterido em uma promoção.
Yago, motivado pelo ódio a Otelo, vinga-se, espalha a mentira de que sua amada Desdêmona o traía.
A falsa notícia espalha-se e prospera, apesar das veementes negativas de sua amada.
Otelo é atacado pela fúria do ciúme, imaginava ser Desdêmona sua propriedade e então, motivado pela suposta traição, mata-a.
Após a desgraça concretizada, Otelo descobre a farsa. É tarde e irreversível!
A consequência veio, com o devastador e o terrível fim: Otelo mata-se, com o próprio punhal no coração.
O racismo, as fake news (notícias falsas) levam-no à descrita tragédia.
A vingança, o racismo, o feminicidio, a xenofobia, a autodestruição são males que, desde a origem da vida humana na terra, estão presentes.
O paradoxo, amor versus ódio, manifesta-se na tragédia shakespeariana e, na contemporaneidade reproduz-se, indicando ser próprio da condição humana.
Vejamos o filósofo Hobbes ( Sécs. XVI- XVII).
Sim, verifica-se nas famílias e em todos os espaços, “a banalidade do mal”, termo cunhado pela filósofa teutônica, de origem judia, Hannah Arendt, em seu célebre livro, O julgamento de Eichman em Jerusalém.
A narrativa dessa tragédia, merece reflexão, cada fato tece e sugere uma analogia com os dias atuais.
Em 2006, quando foi sancionada a Lei Maria da Penha, com a finalidade de reprimir e condenar agentes criminosos contra a mulher, no âmbito familiar, assisti críticas, inclusive de advogados.
Na oportunidade, escrevi um texto, comentando e fazendo elogios à Lei.
A lei motivou preocupações, despertou debates e discussões nos meios jurídicos e em toda sociedade.
Houve esperança e foi responsável por conscientizar a mulher sobre seus direitos.
Com o tempo, essa Lei perdeu seus efeitos, de efetividade e força iniciais.
Contudo, contribuiu, ao mesmo tempo, para comprovar de que, não se resolve a violência, tão só, com repressão polícial e consequentes condenações e severas penas.
Em 2015, a presidente Dilma sancionou a Lei do Feminicidio, ampliando objetos, atinentes a crimes praticados, em razão da condição de ser mulher.
Para isso, o dispositivo correspondente do CP foi ampliado, no art. 121.
Em 2021/2022, o então governo federal apregoava, aos quatro ventos, a diminuição da crimínalidade.
Os números de crimes de feminicidio, sequestros, furtos, roubos, estupros e assassinatos explodiram.
Na época, o governo por seu ministro, Sérgio Moro, fez vista grossa, com relação à esses delitos violentos contra a mulher.
A conduta do então presidente, diante da jornalista, Patrícia Melo, da Folha de São Paulo e antes, no parlamento, contra sua colega, Maria do Rosário, são episódios reprováveis e estímulo ao ódio, que ferem a dignidade da pessoa humana, desqualificam a mulher e banalizam a pessoa na sua subjetividade e honra.
O governo não se importava, quando as estatísticas exibiam um vergonhoso número de 1.310 assassinatos de mulheres, no ano de 2019.
Bem como, 3 a 4 mulheres são assassinadas, a cada 24 horas.
Faço Lembrar que, os números são alarmantes, quando analisamos a condição da mulher negra, favelada e pobre.
O então governo sabia de que, a probabilidade da mulher negra e pobre ser assassinada era de 2,7 vezes mais, com relação à mulher branca.
No momento em que escrevo, pelo nenos 28 conflitos estão ocorrendo, no mundo.
As crianças e mulheres estão em fogo cruzado e, são as maiores vítimas.
O governo de Israel mata civis, mulheres, crianças e vulneráveis, sem piedade.
Ontem, assisti, constrangido, uma massa camposta de civis, desesperada e com fome, sendo metralhada, em Gaza, por soldados israelhenses.
Segundo fontes jornalísticas, 112 pessoas, na maioria, crianças e mulheres, fracas e famintas foram mortas.
Quando as vítimas, na maior proporção são de mulheres e crianças, significa, no caso, limpeza étnica, significa genocídio, imitando Hitler e o holocausto.
O mal está vencendo, há perplexidade, mas os USA financiam essa matança e o mundo “civilizado”, de braços cruzados, assiste.
Assim, não há surpresa, o Estado sionista genocida assassina em nome de sua segurança, para isso, agarra-se em seu dito direito subjetivo: o de matar o outro.
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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