Por José Carlos de Assis

O meu dileto amigo Luís Pinguelli Rosa, setentão como eu e como eu empenhado em desenvolver várias atividades profissionais, inclusive políticas, até o fim de nossas vidas, leu superficialmente o meu artigo de ontem baseado num cientista da USP que esclareceu detidamente que estamos numa pandemia de fake news, e não de corona vírus. O depoimento do médico, um pediatra, cujo vídeo está na mídia, impressiona. Tranquiliza as pessoas. Mas, por uma razão misteriosa, não entra na corrente sanguínea da opinião pública.

O vírus existe com limitado poder ofensivo, certamente. Contudo, não me atrevo a dizer que foi criado em laboratório pela CIA, como fizeram algumas autoridades chineses. Acho, sim, que é um vírus casual, do mesmo poder da influenza, que foi expandido em razão das próprias medidas de contenção adotadas pelas autoridades chineses numa de suas cidades mais populosas. Pessoas morreram. Mas essas pessoas eram sobretudo idosos. No outro lado do espectro de idades, as crianças se revelam imunes à contaminação.

É aí que entra o meu querido amigo Pinguelli, talvez por ter lido meu artigo com muita pressa. É preciso dizer que não sou especialista em vírus, não sou biólogo, não sou físico. Sou economista, professor e doutor em Engenharia de Produção, que nada tem a ver com vírus. Contudo, sou um sujeito curioso. E ouvi o vídeo até o fim (Pinguelli não teve oportunidade de fazer isso; ficou limitado a meu artigo, o qual, como todo artigo, tende à simplificação). Fiquei absolutamente surpreso. Então não se trata de bioquímica, mas de estatística.

O grande problema é de uma simplicidade humilhante. Pode ser resolvido nos termos do seguinte silogismo: primeiro, em qualquer sociedade os idosos tendem a morrer antes que as outras pessoas; segundo, se esses idosos adquirirem alguma doença, há uma probabilidade ainda maior para que morram antes dos outros. Pronto, está resolvido o grande enigma do corona vírus. Isso significa abandonar os velhos a suas doenças? Claro que não. Isso significa concentrar nos velhos os procedimentos de cura e de profilaxia. Investir neles.

Por que, então, se está fazendo tanto barulho? A razão é estritamente política. Os políticos, num primeiro momento, aproveitaram a cena aberta para aparecer. Quando veio o segundo ato, já não tinham coragem de recuar, pois, no caso de algum óbito, independentemente da causa, ela seria associada ao vírus, e a culpa recairia sobre ele. Todos ficaram prisioneiros de si mesmos, entre a demagogia mais descarada e uma preocupação genuína com os idosos, algo que parece ter acontecido na China.

As medidas de ataque ao vírus, na órbita da economia, beiram o ridículo. No Brasil, Paulo Guedes abandonou a austeridade e dedicou R$ 10 bilhões ao combate ao vírus. É espantoso, mas nunca se dedicou tanto dinheiro à saúde de uma vez, para algo absolutamente inútil – exceto aplausos para Guedes. Nos EUA, Trump está desestimulando o consumo num momento em que a demanda está fraquíssima. Como resultado, poderemos ver em breve uma recessão cavalar nos EUA por causa de um problema que, literalmente, não existe.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS  é jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.