Redação

O presidente da CPI das Fake News no Congresso, o senador Angelo Coronel (PSD-BA), 61, disse que a comissão quer chegar aos “autores, investidores e patrocinadores de bunkers espalhados pelo país afora para depreciar pessoas” e que seu trabalho será imparcial.

“Eu não quero saber de matiz partidário, eu não quero saber se a pessoa é filho de presidente, se é irmã de presidente, se é inimigo de presidente. Nós temos que simplesmente combater os criminosos das redes sociais.”

ATAQUES CIBERNÉTICOS – Instalada em 4 de setembro, a CPI tem por finalidade “investigar os ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público; a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições 2018; a prática de cyberbulling sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores, bem como sobre agentes públicos; e o aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódio e suicídio”.

A comissão é formada por 16 senadores titulares e 16 deputados federais titulares e mesmo número de suplentes. Também integram a comissão dois filhos do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio (PSL-RJ), como titular, e o deputado Eduardo (PSL-SP), suplente.

GABINETE DA RAIVA – A CPI já aprovou a convocação de três funcionários do Palácio do Planalto que formariam um “gabinete da raiva” em redes sociais e outros nomes bolsonaristas. A ala governista conseguiu aprovar a convocação da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) e quer ouvir outros petistas, como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Apesar do sobrenome, Angelo Coronel não tem origem ou formação militares. Ele é engenheiro civil formado pela  Universidade Federal da Bahia (UFBA)  e adotou um apelido da juventude, segundo ele. O senador se considera independente, sem vinculação com o governo ou a oposição.

O senhor acredita que as empresas de internet vão colaborar?

Acredito que sim, porque eu acho que, se elas estão no Brasil, não podem ignorar, na hora H, que estamos investigando atos desabonadores, atos de pessoas que eu considero criminosas. Quem cria um perfil falso para depreciar certos alvos não passa de um criminoso. Se as plataformas não contribuem para que a gente puna esses criminosos que se travestem atrás de um perfil falso para depreciar pessoas, então essa plataforma não pode ficar no Brasil. Ela pode sofrer uma consequência. […] Você não pode ter uma plataforma que não contribua com as autoridades brasileiras.

Pelo que o senhor está dizendo a comissão tem objetivo de chegar à origem…

Nós temos que chegar à origem para que a gente, com isso, comece a vetar que essas pessoas continuem utilizando perfis falsos ou outras pessoas para depreciar as instituições, marcas, a prática de cyberbulling e tantos outros atos que levam a sociedade brasileira a viver em polvorosa.

A rede social é excelente, acho que é uma das maiores invenções do século. Mas só que ela está sendo desvirtuada, criminosamente. E, se está sendo usada criminosamente, nós temos que cercear isso. Não é censura. Ele [usuário] pode simplesmente criticar alguém com o perfil pessoal dele, o perfil original dele. A democracia dá esse direito, de você criticar quem você quiser. Cabe à pessoa que receber a crítica te ajuizar ou não. Isso está no Código Penal. Agora, uma pessoa pegar o seu nome, colocar uma caricatura, mudar e depreciar, essa pessoa não pode ficar impune na internet.

Vai ser usada quebra de sigilo telefônico, bancário, o que for?

Tudo o que for necessário para se chegar aos autores, vamos chamar assim, a esses investidores, a esses patrocinadores desses bunkers espalhados pelo país afora para depreciar pessoas. Nós vamos fazer todo o possível para chegar lá.

Vai ser uma guerra muito forte, mas a gente vai ter muita calma, muita tranquilidade para chegar a essas pessoas que patrocinaram no passado, continuando patrocinando no presente e vamos tentar tirar essa liberdade de promover esses crimes no futuro. Combate à criminalidade digital. Essa será a marca da CPI.

Independentemente de ideologia ou cor partidária?

Na minha condução, eu não quero saber de matiz partidário, eu não quero saber se a pessoa é filho de presidente, se é irmã de presidente, se é inimigo de presidente, nós temos que simplesmente combater os criminosos das redes sociais. […] Todas as instituições e toda a sociedade brasileira estão do lado de quem está lutando para combater esses crimes digitais. Só quem deve ficar contra é quem comete.

Tenho certeza de que aqueles que cometem ou patrocinam os crimes digitais com certeza esses não vão ficar a favor das investigações. Vão fazer de tudo para que essa CPI dê em pizza. Mas vamos trabalhar para não dar em pizza, não, vamos trabalhar para dar algo mais deglutível à sociedade brasileira.

O senhor tem sofrido pressões sobre a linha do seu trabalho?

Tenho sofrido ataques de ordem pessoal nas redes sociais. Ataques grosseiros, 24 horas por dia.

O senhor consegue dizer quem estaria por trás?

Não dá ainda para detectar quem está por trás, mas a gente vê que tem respostas que são robôs. Porque são as mesmas respostas, só muda a caricatura. As respostas são iguais em postagens diferentes. Significa que programaram o robô, mas esqueceram de programar a mudança do texto. Então nós vamos chegar [à origem]. Porque não existe robô sem um humano estar por trás, patrocinando. […] A imagem não deixa de ficar abalada. Para se ter ideia, ontem [dia 22] eu votei a favor da reforma da Previdência e eles já espalharam que eu votei contra. Tudo o que é coisa que eles veem de Angelo Coronel, eles tentam depreciar. Há pessoas que estão acho que patrocinadas para isso. Só podem estar fazendo isso porque estou presidindo a CPI. Eu estou naturalmente mexendo em algum vespeiro.

O senhor acredita que a origem desses ataques são pessoas que podem vir a ser alvo da CPI? É uma forma de impedir o trabalho da CPI?

Não tenho a menor dúvida. Quem está fazendo esses ataques ao meu nome são pessoas que evidentemente estão com receio de serem descobertas. E não querem que a CPI vá em frente. Isso é claro e cristalino. Mas não vou me intimidar com isso. Hoje inclusive, após as ameaças de morte, fui obrigado a contratar segurança, particular, no estado, nas minhas andanças. Ou seja, mudou muito o ritmo da minha vida após eu ser eleito presidente da CPI.

Qual sua opinião sobre o governo Bolsonaro, qual sua linha política?

O que eu vejo do governo Bolsonaro é um governo que até então não desceu do palanque e vejo uma briga muito grande, uma briga intestina, dentro do seu próprio partido. E com isso fica até desviando a atenção de se trabalhar pelo Brasil. Porque cada dia é uma crise e quando você para para administrar uma crise, você deixa de funcionar para tentar resolver os problemas que o Brasil tanto está precisando.

Eu torço para que esse governo procure entrar nos trilhos. Mesmo integrando um bloco de independência no Senado Federal, eu não torço para que o governo seja um fracasso, porque quem sofre é o povo brasileiro. Agora, do jeito que está, está muito complicado, porque é um governo de crises.

Fonte: Folha, por Rubens Valente