Por Amirah Sharif

Há dois meses, em 20 de abril de 2021, foi publicada no Diário Oficial do estado do Rio de Janeiro a lei 9.247/21, de autoria do deputado Carlos Minc (PSB) e Delegado Carlos Augusto (PSD), que proíbe tatuagens e piercings em animais domésticos e silvestres. Pasmem! É isso mesmo que leram. Há pessoas que tatuam bichos e, não satisfeitos, ainda lhes colocam piercings.

“Colocar piercing e fazer tatuagens em animais domésticos é uma prática crescente, cruel e dolorosa, apenas com finalidade estética e que pode levar ao adoecimento e à morte dos animais”, justificou o deputado Minc.

E aí me vem uma pergunta: se o bicho homem quer colocar um nome, uma imagem, que fique para sempre na pele do animal, por que não preserva para sempre o seu bem-estar?

Disse, na semana passada, que é uma vergonha haver animais ameaçados de extinção em decorrência da destruição do habitat, da caça e pesca descontroladas, da falta total de noção do ser humano que talvez pense ser o único ser vivo que habita o planeta e, assim, vai desmatando e queimando florestas sem perceber que está afetando outras espécies. Como dizia nossas avós, vai “pintando e bordando”.

Em perigo

É triste falarmos em animais em extinção sobretudo no Brasil, que é um país com a biodiversidade mais rica do mundo, mas, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), existem mais de mil espécies com risco de extinção no Brasil. No entanto, vamos chamar atenção aqui para quatro: onça-pintada, lobo-guará, tamanduá-bandeira e o mico-leão dourado.

O ICMBio adotou o mesmo padrão que o utilizado pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) ao classificar o nível de perigo de extinção dos animais. Podemos dizer que o animal pode estar extinto (extinto da natureza); ameaçado (vulnerável, em perigo e criticamente ameaçado) e baixo risco (dependente de conservação, quase ameaçado, pouco preocupante).

A onça-pintada (acima) é o maior felino do continente americano. Interessante que a onça-pintada não mia como a maioria dos felinos. Ela emite uma série de roncos muito fortes que são chamados de esturro. No Brasil, ela praticamente desapareceu da maior parte das regiões nordeste, sudeste e sul. Ocorre em vários tipos de habitat, desde florestas, como a Amazônica e a Mata Atlântica, até em ambientes abertos, como o Pantanal e o Cerrado. É classificada pela IUCN e pelo IBAMA como espécie vulnerável.

O lobo-guará (acima) é um dos símbolos do Cerrado. O termo guará tem origem na língua indígena tupi e significa “vermelho”, sendo uma referência à coloração dos pelos desse animal, que, em sua grande maioria, são de cor laranja-avermelhado. Atualmente, a espécie sofre com a destruição de seu habitat. Damos como exemplo a expansão da malha rodoviária, que provoca a morte de muitos por atropelamento. Atualmente, o lobo-guará é classificado como “quase ameaçado” na lista vermelha da IUCN. Isso significa que é uma espécie que merece atenção para que não desapareça da nossa fauna.

O tamanduá-bandeira (acima) recebe esse nome porque possui uma cauda em forma de bandeira. Ele tem uma função ecológica muito importante, visto que, quando se alimentam de insetos, espalham na terra resíduos e nutrientes, contribuindo na adubação. Esse animal está classificado como vulnerável e pode ainda ser encontrado na Amazônia, no Cerrado, na Mata Atlântica e no Pantanal, mas a população dos tamanduás-bandeira está diminuindo a cada ano por causa dos desmatamentos e queimadas em regiões destinadas às plantações.

O mico-leão-dourado habita a Mata Atlântica e sofreu durante décadas e décadas com o desmatamento e tráfico de animais. Ainda existem poucas versões nas florestas do estado do Rio de Janeiro e a espécie segue classificada como “em perigo de extinção”.

Uma boa notícia e prova de que podemos cuidar e fazer crescer o número desses animais vem da China. O panda-gigante (abaixo), que por muitos anos foi símbolo da fragilidade da natureza frente à devastação provocada pelo homem, não consta mais da lista das espécies em perigo de extinção. A União Internacional para Conservação da Natureza o classificou como “vulnerável” em vez de “em perigo”. A reclassificação reflete o aumento de um número crescente nas florestas do sul da China. Esse resultado foi alcançado pelo trabalho de agências chinesas impondo proibições à caça e estimulando a reprodução em cativeiro.

É triste termos uma lista com estes quatro animais, entre outros, que podem não mais habitar nosso planeta. Da mesma forma que é repugnante saber que há tutores que também provocam dor e sofrimento em seus bichinhos de estimação. Poderíamos sugerir a eles, tutores que gostam de tatuar seus bichinhos, proibidos agora pela lei, que escrevam em definitivo em seus próprios corpos a frase “para sempre e sempre”.

Uma referência à preservação e cuidado que merecem os animais que habitam a natureza e nossa casa.


AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br