Por Pedro do Coutto –

Setores do Centrão, sempre em busca de espaço cada vez maior na administração, voltaram as suas lentes para o Ministério da Saúde muito mais em função das verbas da pasta, do que pela capacidade de atendimento à população através do SUS. Por isso, a permanência da médica Nísia Trindade à frente do ministério torna-se um fator fundamental no sentido tanto da eficiência do atendimento quanto em face de um comportamento ético que tem que marcar a sua presença no governo, sobretudo na Saúde, da qual dependem diariamente centenas de milhares de homens e mulheres que não contam com recursos para recorrer aos hospitais e clínicas particulares.

Reportagem de Karolini Bandeira, O Globo desta segunda-feira, focaliza o tema de altíssima sensibilidade, porque, além da vida, relaciona-se diretamente com o bem estar humano e suas condições de trabalhar e produzir. É inaceitável os que tentam substituir a essência humana da missão por interesses presentes nos fornecimentos de remédios e materiais indispensáveis ao socorro diário destinado aos que ficam expostos às doenças e acidentes. Há também a importância essencial das vacinações que bloqueiam que o índice de moléstias aumente para situações fora de controle.

VÍTIMAS – Cada desvio de recursos na área em que atua Nísia Trindade significa, na verdade, condenar à morte milhares de pessoas que são vítimas da insuficiência de condições dignas ao longo de suas vidas. Basta ver os rios poluídos de esgotos que margeiam os becos sombrios que separam casas nas favelas do Rio de Janeiro em imagens diariamente mostradas pelo jornal da manhã da TV Globo.

Políticos, quando reivindicam o Ministério da Saúde, na verdade, não desejam fazer evoluir o setor, mas aumentar a sua participação nas compras de remédios e equipamentos, sendo que em inúmeras situações a conivência faz com que o tempo criminosamente inviabilize a utilização de medicamentos. É incrível a emoção sempre gelada dos atores da corrupção que só visam lucros imorais e ilegítimos e que se encontram sempre distantes de qualquer compromisso com a vida humana e para a dignidade com que devem ser tratadas as camadas de menor renda da população.

São essas camadas que recorrem às redes públicas de Saúde enfrentando longas filas e o desespero de não terem certeza se serão atendidas. Em inúmeros casos, têm que enfrentar a dor física à espera de que apareça um profissional para retirá-la da situação opressiva e sufocante. É indispensável, mas também pouco possível, que uma expressiva parte de políticos considere a falta de atendimento dos postos de Saúde como uma calamidade que amplia o sofrimento.

BLINDAGEM  – Essa facção só está preocupada em participar dos efeitos de compras desvinculadas do interesse público, mas vinculadas ao enriquecimento dos ladrões, verdadeiros vampiros de vidas humanas. O presidente Lula da Silva age bem em blindar Nísia Trindade. Ela é a esperança da humanização de um sistema essencial para os que sofrem e não têm certeza de que poderão ser socorridos.

É possível que Nísia Trindade não possua habilidades para lidar com reivindicações e propostas sinuosas que se repetem em sua área. Mas isso ela aprenderá em mais alguns poucos meses. Vale a pena esperar. A sociedade brasileira agradece.

CHATGPT – Reportagem de Bruno Romani, o Estado de S. Paulo de domingo, destaca reações surgidas na área da Inteligência Artificial que se voltam contra a forma usada pelo ChatGPT para acumular dados de outras plataformas em sua própria base, que colocou em prática um degrau à frente da comunicação entre os seres humanos e as máquinas que não têm nervos ou emoções.

A matéria vale a pena ser lida e analisada em suas diversas dimensões. Uma delas é levantada pelo professor Luca Delli, coordenador do Centro de Tecnologia da Fundação Getúlio Vargas. Ele questiona sobre o uso de dados por grandes modelos  da Inteligência Artificial.

Delli alega que a plataforma invadiu o seu arquivo pessoal sem autorização para isso. Creio que o tema conduza a um outro, este sim, muito mais grave: o de atribuir a alguém opiniões que não emitiu sobre diversos assuntos controversos, por exemplo. Esta hipótese, de fato, é um perigo. Fica no ar aguardando uma resposta.

 

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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