Redação –
Após a derrota eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL), seus apoiadores mais radicais deram uma nova função à Praça dos Cristais, localizada em frente ao Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília. Construído para servir como espaço de lazer aos moradores da vila militar, a praça foi transformada na morada de manifestantes tanto da capital quanto de outras cidades, que exigem um golpe militar para anular o resultado das eleições.
Todo o local foi tomado pelas barracas dos manifestantes, que completam nesta segunda-feira (7) o seu oitavo dia de acampamento. Ao redor, ficam estacionados ônibus, caminhões e trailers utilizados para trazer “patriotas” dos demais estados do país. No centro, funcionam barracas funcionais: cozinhas, caminhão de som, depósitos, tendas com cadeiras para idosos, área administrativa e uma capela improvisada. Por todo o acampamento, caixas de som funcionam tocam o hino nacional e marchas militares, que competem com os gritos de protesto e com os ruídos de geradores de energia.
Um espaço está sempre cheio: o trecho da praça próximo da Avenida Duque de Caxias, que separa o acampamento do QG, que também leva o nome da avenida. A massa de manifestantes vestidos de verde e amarelo e portando cartazes com os dizeres “SOS Forças Armadas” passa o dia alternando entre discursos contra as eleições e gritos de guerra, clamando para que as “Forças Armadas, salvem o Brasil”.
Comércio dúbio
Em volta do acampamento, circulam vendedores ambulantes, vendendo camisetas da seleção brasileira, bandeiras, enfeites com símbolos políticos, brinquedos e sorvetes. Também estão montadas tendas de comerciantes vendendo marmitas, lanches, cervejas e churrasco. Tais itens são comumente vendidos durante manifestações em Brasília, seja de qual lado for. No canto ao sul do acampamento, porém, os itens saem do padrão.
Em uma tenda pouco afastada das demais, itens de caça são ofertados ao público. Manifestantes conseguem comprar camisetas camufladas, mochilas militares, coturnos, fardas e óculos balísticos. “Essa aqui é a mesma que os americanos usam em operações, nós só tiramos as insígnias”, disse um dos vendedores que tentava oferecer um modelo de farda que, de acordo com ele, estava a um preço muito abaixo do valor de mercado.
No canto da tenda, um item menos inofensivo à venda. Uma caixa de sprays de pimenta, ainda lacrados. O modelo, com dois metros de alcance e capaz de bloquear tanto a visão quanto a respiração do alvo, pode ser adquirido pelos participantes por pouco mais de R$ 100 a lata.
Fartura e trabalho
Comida não falta no acampamento. Em três tendas, os manifestantes formam filas para receber um prato de comida gratuito, com direito a carnes e frutas. Além de servir como balcão, essas tendas também funcionam como depósitos, onde ficam armazenados dezenas de sacos de farinha e grãos. Também ficam pendurados galões com aberturas para doações, e cartazes com uma chave pix para o mesmo fim.
A oferta de recursos humanos do acampamento já foi assunto de preocupação de um dos organizadores, irritado com o grande número de manifestantes que ficavam nas barracas descansando ao invés de participar do ato. “A equipe que está aqui é pequena. São todos voluntários, foram tirados aí da plateia. Foram tirados de vocês. Nós estamos falando aqui, mas tem um batalhão por trás da gente organizando essa manifestação”, declarou à multidão no carro de som.
Dinheiro, porém, não é difícil de obter. Em uma capela improvisada, onde manifestantes passam o dia alternando entre canções religiosas e preces “para o Brasil não ser tomado pelo comunismo”, as organizadoras fizeram uma breve pausa pela tarde para discutir estratégias de arrecadação. “Eu tô sugerindo, como a gente já fez antes no [carro de] som, e dizer para quem quiser doar um real, dez reais. Em menos de dois minutos se conseguiu R$ 3,6 mil de dia e R$ 3,2 mil de noite. Nós estamos todos com o mesmo objetivo”, sugeriu a organizadora chamada pelas demais de “irmã Rosa”.
O “momento espiritual” não se limita à tenda. A cada hora, os gritos de guerra no protesto principal são substituídos por orações pedindo que Deus “tenha misericórdia do Brasil”, pois “nós sabemos que muitos se separaram do Senhor, e por isso estamos na situação em que estamos”. No momento em que a reportagem assistiu à prece dos manifestantes, o organizador orientou aos demais para que o fizessem com as mãos viradas para cima, pois “estamos sendo associados ao nazismo, mas não somos nazistas”.
Terminada a prece, retorna o tom belicoso do ato. “Abram suas lives e botem eles [Exército] para ver isso aqui. Para a gente lotar isso aqui, para eles verem o que estamos querendo. Nós fomos roubados, tivemos eleições fraudadas. E não admitimos isso aqui no Brasil”, bradou ao fim da tarde um dos agitadores ao microfone.
Do outro lado, a única providência no QG do Exército foi o bloqueio do estacionamento de visitantes. O Batalhão de Polícia do Exército (PE) também mantém alguns homens ao redor do acampamento, orientando os motoristas que chegam para se juntar ao protesto. Apesar da legislação proibir atos em prol de um golpe de Estado, a orientação do Ministério da Defesa é de considerar o ato como uma livre manifestação. (Fonte: Congresso em Foco)
***
Atos antidemocráticos são financiados por empresários, afirma o Ministério Público
Os procuradores-gerais de Justiça dos Estados de São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina informaram ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que os atos antidemocráticos realizados em frente aos quartéis das Forças Armadas e os bloqueios ilegais de centenas de vias públicas do País foram financiados por uma “grande organização criminosa” formada por empresários.
Os chefes dos Ministérios Públicos estaduais se reuniram com Moraes na sede da Corte nesta terça-feira, 8, para informar os avanços das investigações e obter dados adicionais da Justiça Eleitoral que podem ajudar a identificar mais pessoas envolvidas na organização e no financiamento das manifestações de caráter golpista, que pedem por intervenção militar para impedir a posse do presidente eleito Lula da Silva (PT).
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA – “Na nossa visão, é uma grande organização criminosa com funções pré-definidas e financiadores. Isso é de conhecimento público. Há várias mensagens com números de Pix e tudo mais para que as pessoas possam abastecer financeiramente (os atos). A partir disso, nós precisamos estabelecer quem desempenhou cada função”, disse procurador-geral Mario Luiz Sarrubbo, que comanda o MP de São Paulo.
“A nossa preocupação maior agora é com o fluxo financeiro que está proporcionando bloqueios de estradas, avenidas e agora faz com que pessoas possam permanecer em determinados locais das nossas cidades”, afirmou.
Além de Sarrubo, também participaram do encontro com Moraes os procurador-gerais Fernando da Silva Comin (SC) e Luciana Andrade (ES).
TUDO ORGANIZADO – Os chefes dos MPs estaduais relataram ao TSE que os organizadores e financiadores dos atos antidemocráticos adotaram uma estratégia de comunicação interestadual para garantir os bloqueios de estradas e rodovias em diferentes regiões do País, assim como a concentração de grandes grupos bolsonaristas em frente aos quartéis.
“Há algo em nível nacional e os Ministérios Públicos dos Estados vão trabalhar. O TSE fornecerá algumas informações. Nós também trouxemos informações ao Tribunal Superior Eleitoral e nós esperamos que o Brasil possa caminhar sem golpe, ou qualquer movimento que atente contra a democracia”, disse Sarrubbo.
Os procuradores pretendem cruzar os dados das investigações com as informações disponibilizadas pelo TSE para identificar a cúpula responsável pelo financiamento das manifestações golpistas.
APOIO DE EMPRESÁRIOS – Segundo a procuradora-geral Luciana Andrade, há indício do envolvimento de empresários de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santos nesses movimentos antidemocráticos.
Ainda segundo os procuradores, os resultados preliminares das investigações permitem descartar o envolvimento de instituições de Estado nas ações bolsonaristas.
Diversos atores políticos apontaram uma possível relação, ou conivência, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com a obstrução de estradas e rodovias. Logo no início dos primeiros bloqueios, passaram a circular nas redes sociais registros de agentes da PRF se recusando a deter ou multar manifestantes.
BOICOTES E ASSÉDIOS – Segundo Luciana Andrade, os inquéritos dos MPs ainda apontaram boicotes e assédios a empresários que se recusaram a aderir às manifestações.
“Além dos movimentos de bloqueios de estradas e das movimentações centralizadas em algumas cidades ou bairros, a gente tem percebido um movimento do empresariado na denominada lista de Schindler, que é uma lista de empresas cujos os consumidores não deveriam adquirir produtos e serviços”, disse, acrescentando:
“É um embaraço à livre iniciativa de comércio, algo que a gente não via há muitos e muitos anos. Isso tem tido o olhar do MP como defensor da democracia e precisa ser repudiado”. (Fonte: Estadão)
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
PATROCÍNIO
Tribuna recomenda!
MAZOLA
Related posts
Editorias
- Cidades
- Colunistas
- Correspondentes
- Cultura
- Destaques
- DIREITOS HUMANOS
- Economia
- Editorial
- ESPECIAL
- Esportes
- Franquias
- Gastronomia
- Geral
- Internacional
- Justiça
- LGBTQIA+
- Memória
- Opinião
- Política
- Prêmio
- Regulamentação de Jogos
- Sindical
- Tribuna da Nutrição
- TRIBUNA DA REVOLUÇÃO AGRÁRIA
- TRIBUNA DA SAÚDE
- TRIBUNA DAS COMUNIDADES
- TRIBUNA DO MEIO AMBIENTE
- TRIBUNA DO POVO
- TRIBUNA DOS ANIMAIS
- TRIBUNA DOS ESPORTES
- TRIBUNA DOS JUÍZES DEMOCRATAS
- Tribuna na TV
- Turismo