Por Amirah Sharif –

No final de semana passado, pedi orçamento de um pintor para um trabalho lá em casa e, quando andávamos pelo quintal, levei um susto com o voo de um passarinho, que saía do ninho apressado. O pintor riu e disse que outro dia a filha dele o acordou cedo para ver uma cigarra. A menina achava que ela estava “explodida”.

Fiquei com essa interrogação na cabeça: a cigarra canta até explodir?

Verdade ou mito?

Às vezes, vemos cigarras mortas no tronco de uma árvore logo depois de termos ouvido uma grande cantoria desses insetos. Será que elas cantam até “explodir”? A resposta é não, mas por que será que as pessoas falam isso?

As cigarras passam por uma metamorfose durante seu desenvolvimento, ou seja, após eclodirem de um ovo passam por algumas fases até se tornarem adultas, porém as cigarras que pertencem à ordem hemíptera, que inclui também os percevejos, barbeiros, baratas d’água, pulgões, cochonilhas e mosca-branca possuem uma metamorfose incompleta. Não passam por tantas fases de desenvolvimento como as borboletas, por exemplo. Chamamos esse tipo de desenvolvimento de hemimetábolo. Além disso, a fase juvenil das cigarras chamada de ninfa já se parece muito com sua fase adulta.

Cigarras têm ciclo de vida curioso e passam longo período sob o solo | Terra da Gente | G1

Cigarra jovem x cigarra adulta

Uma característica difere a cigarra jovem da adulta. A jovem ou ninfa não possui asas e vive enterrada no solo onde passa a maior parte de sua vida até dezessete anos e se alimenta das raízes das árvores. E aí chega o momento em que ocorre a grande metamorfose: a ninfa cria asas e vira adulta. Como curiosidade dessa fase adulta é que ela dura muito pouco tempo. A maioria das espécies de cigarra morre em até um mês depois dessa fase. E conforme elas vão crescendo para fazer essa metamorfose, acabam não cabendo mais no seu exoesqueleto, que é aquela casca que os artrópodes possuem.

Vamos explicar explicadinho

O exoesqueleto é um esqueleto externo que tem a função de proteger esses animais e, para abandonar o exoesqueleto, que limita o seu crescimento, a cigarra migra do solo para o tronco das árvores e começa a fazer força até romper esse esqueleto e se libertar. E reparem: agora, ela tem asas e pode explorar melhor o mundo!

Quando vemos uma cigarra em um tronco de árvore com um aspecto de que aparentemente “explodiu”, estamos vendo, na verdade, o seu antigo exoesqueleto, sua casca. Ela não está mais lá.

BIBOCA AMBIENTAL : O CANTO DA CIGARRA

E a cantoria?

Uma outra curiosidade que podemos apontar é que apenas os machos de cigarra cantam. E eles cantam para chamar a atenção das fêmeas para reprodução, que acontece logo após essa transformação em adulto, geralmente nos períodos quentes. Além disso, o canto também serve para o reconhecimento entre as espécies. Afinal, existem cerca de três mil espécies de cigarra e elas precisam se reconhecer para poderem reproduzir e, assim, perpetuarem a espécie. Isso significa que cada espécie de cigarra tem a sua própria cantoria, mesmo que para nós, humanos, tudo se pareça um único tipo de zumbido interminável.

O “fluxo”das cigarras em nossa cidade – Life Informa

E como os machos cantam se não possuem cordas vocais? O som das cigarras macho vem de músculos localizados em seu abdômen que, quando se contraem, fazem vibrar membranas elásticas resultando na produção de ruídos. Esse complexo se chama órgão cimbálico. As fêmeas também possuem esse órgão, mas ele é atrofiado e incapaz de produzir sons.

Da próxima vez que ouvirmos cantorias de cigarras, vamos prestar atenção nos troncos das árvores para procurarmos os exoesqueletos.

Ficheiro:Exoesqueleto de cigarra.jpg – Wikipédia, a enciclopédia livre

Curiosidades

Vocês sabiam que apenas uma cigarra fêmea pode colocar de 400 a 600 ovos? E que os ouvidos dos insetos ficam localizados no estômago? E que o tamanho de uma cigarra vai de 15 mm a 65 mm dependendo da espécie?

Dizem que quando a cigarra começa a cantar é o anúncio da primavera. Outros dizem que é anúncio de chuva. Já eu penso que ela é um símbolo de mudança. Em época de eleições, é um ótimo sinal!, não acham?

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br

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