Redação –
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) colocaram um ponto final nas dúvidas levantadas pelo chamado “relatório argentino”, que circula em redes sociais e é compartilhado por bolsonaristas para pôr em xeque a confiabilidade das urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro.
O professor Marcos Simplicio, da USP, que integra a pesquisa, disse ao Congresso em Foco que o relatório ficou conhecido após uma live realizada pelo argentino Fernando Cerimedo, do La Derecha Diario. A partir daí, ganhou fama entre extremistas brasileiros ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi derrotado nas urnas no segundo turno da eleição presidencial.
O relatório argentino é infundado e repleto de informações falsas, segundo os pesquisadores. Eles desmentem três aspectos importantes dessas falsas alegações (ver relatório completo da pesquisa abaixo). A primeira alegação é a de que as urnas de modelos anteriores a 2020 “não possuem documentação de auditoria recente e que os relatórios extraídos não são passíveis de auditoria”.
Confira a íntegra do relatório:
“O que é alegado no tal ‘relatório argentino’ é que as urnas 2020 foram auditadas, enquanto as de modelos anteriores, não. Não vemos qualquer sentido nessa alegação, então tentamos explicar o que houve de análise de segurança em cada modelo: de forma geral, ambos foram similarmente auditados”, disse o professor Marcos Simplicio.
O professor Wilson Ruggiero, um dos responsáveis pelo relatório e participante do convênio com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre segurança das urnas, diz que houve a análise dos modelos de 2020 e 2015 com o convênio, ocasionando não só o acesso à documentação e códigos fontes, como a operação de testes nas urnas.
Ele salienta que, desde o último teste público de segurança, o chamado TPS, ocorrido no ano passado, 26 grupos de pesquisadores testaram e reportaram todos os dados das urnas anteriores a de 2020. Este último modelo ficou pronto recentemente e passou por um processo de “teste bastante profundo”. Para Ruggiero, “não há nenhuma justificativa para fazer essa alegação”.
Outros tópicos analisados
O segundo tópico desmentido refere-se à “existência de diferenças sutis entre os arquivos de log das urnas, havendo conformidade entre ao menos dois softwares nas urnas, em diferentes modelos, não dependentes de determinado modelo”.
“A ideia de logs diferentes interferirem nos resultados das urnas um tanto forçada, mas como o documento analisado afirma isso e tenta dar um ar técnico às explicações que embasariam essa afirmação, achamos por bem verificar. No final, não tem qualquer embasamento a afirmação”, afirma Marcos Simplicio.
O log é o registro das atividades feitas na urna, por meio dele é possível localizar eventuais alterações e acessos no software da urna, o que gera dados arquivados e disponíveis para solicitação e verificação no Portal da Transparência do TSE. A crítica não se sustenta à medida que há apenas um único software em operação em todas as urnas, o que muda é a versão física das máquinas (o hardware), que podem ser de 2020 ou 2015.
A terceira afirmação analisada do relatório argentino seria a existência de uma “suposta trava que impede a soma total de votos lançados para os candidatos, que impedia a ultrapassagem de um determinado número de votos”.
“Não deve haver qualquer tipo de ‘trava artificial’ em qualquer urna executando um software de votação legítimo. Entretanto, o documento sob análise afirma que existe tal trava, mostrando gráficos que provariam essa alegação”, explica Marcos Simplicio.
“Entretanto, o que o os gráficos em questão mostram é simplesmente que (como esperado) as urnas utilizadas nas eleições respeitaram o número máximo de eleitores aptos a votar em cada urna, ou seja, não houve mais votos nas urnas do que o número de eleitores habilitados. O relatório inventa um factóide sem qualquer base ao discutir essa tal ‘trava’”, completa.
A pesquisa sobre as urnas é vinculada ao Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica (Poli), da Universidade de São Paulo (USP). Os resultados estão disponíveis no “Relatório preliminar de análise das urnas eletrônicas usadas na eleição presidencial do Brasil no primeiro turno – 02 de outubro de 2022”.
Fonte: Congresso em Foco
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