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Os sertões de Euclides da Cunha e Ciro Gomes – por Siro Darlan
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Os sertões de Euclides da Cunha e Ciro Gomes – por Siro Darlan

Por Siro Darlan

Por volta de 1830 nasceu no Ceará um homem que entraria na história do Brasil como o primeiro a se rebelar contra a exploração das elites dos coronéis, e sair pelas veredas do sertão nordestino pregando a igualdade entre os irmãos, que sempre se confunde com o comunismo, como doutrina política.

Peregrino e culto arrastou seguidores e plantou a semente do que seria a primeira experiência socialista dessa novel nação ocidental. Recém-saída do regime monarquista e escravocrata passava por uma renovação pela força de um golpe militar aplicado contra o então Imperador, que nos governava a quase 50 anos, de 1840 a 1889.

Foi no Morro da Providência que surgiu a primeira favela do Rio de Janeiro e do Brasil, criada em 1897 por combatentes da Guerra de Canudos que voltaram ao Rio para conseguir a casa que o Estado brasileiro tinha prometido como recompensa pela atuação na revolta.  (Fotos: Arquivo Nacional)

Em 1893, após caminhadas pelas pobres cidades do Ceará e da Bahia, Antonio Vicente Mendes Maciel, o Antonio Conselheiro, fugindo do autoritarismo do novo regime que criava dificuldades para a população pobre ao criar novas e pesadas tarifas que dessem sustentação ao novo regime e suas elites cafeeiras e canavieiras, assim como as elites religiosas, que perdiam espaço com o regime republicano. Conselheiro concebeu a criação de uma cidade chamada Monte Santo que bem atendia o seu sonho de criação de um paraíso na terra, onde o povo tivesse tratamento igualitário e todos plantassem e colhessem o que seria necessário para o sustento comum de todos. O arraial criado reuniu cerca de 5 mil casebres que abrigavam perto de 20 mil pessoas no seu auge.

A base moral da reunião dessa multidão era a prática religiosa, que unia os cidadãos ao redor de um líder carismático, que mesmo sem a ordem sacerdotal pregava o Evangelho do Senhor Jesus e eram felizes e justos. Essa novidade no pais que foi colonizado para que o povo aturasse o autoritarismo, a violência das diferenças sociais começou a incomodar as autoridades religiosas e as elites políticas e econômicas, que incomodadas com essa cisma passaram a espalhar os fake News que redundaram no genocídio de Canudos pelas forças armadas brasileiras.

Prisioneiros do arraial de Canudos após o confronto com o Exército retratado em “Os sertões”; a foto fez parte da exposição “Euclides da Cunha. Os sertões — testemunho e apocalipse”, na Biblioteca Nacional (Foto: Divulgação)

A mídia manipuladora de então, através do jornalista do Jornal das elites o Estado de São Paulo, que mantém até os nossos dias sua linha de conduta, Euclides da Cunha tratou de traçar uma imagem caricata do líder popular para desmerecer sua liderança e sua experiência de três anos exitosos e meritórios. Nada mudou desde então, e continuamos à mercê da narrativa manipuladora de jornalistas irresponsáveis que traçam para a opinião pública a imagem que desejam dos personagens que se colocam do lado do povo pobre e oprimido, na luta contra os opressores.

Não tem sido diferente o tratamento dado ao profeta moderno que também desde o Ceará, estado que resiste bravamente ao comando opressores, o companheiro Ciro Gomes, tem sido tratado de forma caricata quando surge de uma floresta obscura de pessoas que se fingem de ignorantes para manter o povo na escuridão e planta em seu estado a semente da educação de qualidade para os mais empobrecidos.

Implanta no Ceará o projeto de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro e retira seu povo da escravidão do analfabetismo para se transformar no estado mais letrado e respeitado da federação.

Precisamos olhar para a covarde experiência de Monte Santo para não permitir que esse profeta que clama sozinho no deserto pela redenção do povo brasileiro, venha a ser sacrificado como o foi Antonio Conselheiro.

SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), aposentado compulsoriamente por conceder benefício a preso em risco de vida, que uma vez preso faleceu nas grades da crueldade estatal; Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ousiro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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