Por Carlos Pronzato –
Os motores da fórmula 1 das eleições municipais começam a aquecer o grid de largada. Como nas pistas milionárias desse esporte, onde as mesmas poderosas escuderias de sempre disputam a bandeira quadriculada, as arquibancadas dos eleitores começam a serem montadas. Na fórmula 1, as entradas para os grandes prêmios nunca foram baratas, disputadas com muita antecedência à chegada das equipes para instalar o circo automobilístico, lotam sempre os autódromos de cada um dos países onde as carreiras acontecem. Os setores sociais das torcidas, que podem torcer tanto por uma marca ou pelo piloto ou até pelo país deste último, é variado, mas geralmente são as classes mais abastadas as que não precisam fazer maiores esforços para desfrutar desse espetacular evento domingueiro e matinal. A imensa maioria assiste tranquilamente no sofá na frente da tela do televisor ou do computador.
Creio não estar sendo excessivamente irônico ao propor este evidente paralelo entre o pleito eleitoral e o pleito esportivo, no que diz respeito ao público espectador, o que desfruta in situ, como militante partidário e/ou cabo eleitoral, ou aquela imensa maioria de votantes que saiu de casa para exercer o seu direito cidadão e que assistirá no fim de tarde as porcentagens definitivas nos meios de comunicação. Claro que não há ingressos a preço de dólar na disputa política das urnas, mas o custo para que o espetáculo eleitoral aconteça certamente é infinitamente maior e não acaba nesse domingo, se prolonga com as costumeiras dívidas de campanha, que podem ser apenas pecuniárias – quando não se ganha – ou implicar alianças políticas esdrúxulas – quando se ganha – que descaracterizam totalmente qualquer plataforma prévia de campanha, seja pragmática ou ideológica tradicional.
Com algumas mudanças no modus operandi na realização da festa cívica, restrições financeiras impostas às empresas e aos seus candidatos, impossibilidade de veiculação de propaganda em certos suportes publicitários, e outras tantas medidas que tentam aperfeiçoar a prática bianual, não atingem o cerne deste invento democrático burguês para manter os seus privilégios de classe, inclusive provocando golpes, militares ou suaves, através do impeachment, quando as rédeas parecem sair do seu controle. O escritor italiano Giusseppe Tomasi de Lampedusa (1896 – 1957) acertou no alvo com uma famosa frase no romance Il Gattopardo, que pinta à perfeição o sentido final da competição, cujas luzes de largada já foram ligadas. Quando o oportunista príncipe de Falconeri incita o seu tio conservador a abandonar a sua lealdade aos Bourbons e aliar-se aos Saboia, diz: “Para que as coisas permaneçam iguais é preciso que tudo mude”.
Veja também: Live com Carlos Pronzato – Debate sobre a política da América Latina a partir de seus filmes
CARLOS PRONZATO – Cineasta documentarista, poeta, escritor, membro do IGHB.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com
MAZOLA
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