Por Luiz Carlos Prestes Filho –
Recentemente, manifestantes na Inglaterra derrubaram a estátua do traficante de escravos, Edward Colston e jogaram a mesma no rio Avon. Este cruel mercador de seres humanos, vendeu mais de 100 mil africanos nas Américas. Na Bélgica, imagens do rei Leopoldo II, sanguinário colonizador do Congo, foram manchadas de vermelho. Nos EUA, monumentos de líderes confederados, que defendiam a escravidão durante a Guerra de Secessão, estão para serem removidos. A estátua do general Robert E. Lee, em Richmond, capital da Confederação, será retirada. No Alabama, uma estátua do almirante confederado Raphael Semmes, já foi removida.
Também, nos Estados Unidos, duas estátuas de Cristóvão Colombo, foram alvos de depredação, por parte de manifestantes antirracismo. Em Boston, um destes monumentos foi decapitado, o outro, em Richmond, foi arrancado do pedestal e jogado num lago. Aquele que sempre reinou como o “Descobridor das Américas”, agora é apontado como um dos responsáveis pelo genocídio dos povos indígenas e reconhecido oficialmente como escravocrata.
Será que não chegou a hora da população e de governantes do Rio de Janeiro de rever as homenagens edificadas, ao longo de 500 anos, aos “nossos” escravocratas, racistas e cruéis assassinos? Homenagens fixadas nas praças, ruas e avenidas da Cidade Maravilhosa. Poderíamos começar pela demolição do monumento a Estácio de Sá. Servil cumpridor de ordens da coroa portuguesa, principal responsável pelo assassinato das tribos indígenas que residiam na Baia da Guanabara. Povos que, reunidos na “Confederação dos Tamoios”, sob o comando de Aimberê, resistiram com heroísmo exemplar.
Em seu livro, “Tamoios – Senhores do Litoral”, o pesquisador Paulo Luiz Oliveira prova, através de formidável documentação e argumentação, que a principal aldeia dos Tamoios, que ficava localizada no alto do morro (antigo Morro do Castelo), ao lado da Praia da Piaçaba (hoje Praça 15 de Novembro), era uma verdadeira cidade indígena. Era daquele ponto estratégico que Aimberê comandava o seu exército de resistência.
“Terminada a guerra”, escreve Paulo Luiz Oliveira, “em 20 de janeiro de 1567, sobraram apenas as cinzas das aldeias, os chefes estavam mortos, desapareceram gloriosamente, preferindo morrer a viver como escravos dos portugueses”.
Ao pisar a cidadela de Aimberê, os portugueses constatam que a sua localização era muito melhor do que aquela que Estácio de Sá tinha estabelecido no Morro Cara de Cão, abaixo do Pão de Açúcar, em 1 de março de 1565. Tanto que resolvem, em agosto de 1567, “transferir” a cidade do Rio de Janeiro e iniciar a construção do Forte São Sebastião. Edificação que terminou denominando o local como Morro do Castelo.
Por tanto, é fato histórico de que a fundação de nossa cidade deve ser atribuída ao chefe da Confederação dos Tamoios, Aimberê, e não a Estácio de Sá. Foi a partir do morro do Castelo que a antiga Capital do Brasil se expandiu e se transformou na atual metrópole.
Devemos a Aimberê um monumento, uma praça, uma rua, uma avenida em nossa cidade.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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Luiz Carlos Prestes Filho tem a História antiga e recente sob a pele.
Excelente reflexão sobre os movimentos anti racismo Planeta afora.
Embora eu seja contra o vandalismo e a violência como essas pessoas depredam. Quem sabe cobrir as estátuas de pano preto não daria conotação do desenvolvimento e sensibilidade do povo preto como eu.