Por Lincoln Penna –
O avanço veloz do aquecimento global na atmosfera cunhou a expressão título deste pequeno ensaio.
Muito embora há quem pondere que exista certo exagero nas previsões da ciência, pelo menos para afetar à vida na Terra em breve espaço de tempo, o fato é que não deve haver dúvida que a ação de agentes poluidores têm causado ultimamente danos em escala até então não vista.
Como o que acontece na natureza há algo a ver com a vida das espécies, incluindo os seres humanos, promotores principais dos fatores que atingem todas as demais espécies, fica óbvio que existe um modo de vida responsável em certa medida para a insurgência crônica de tempestades acima da normalidade que sempre existiu no globo terrestre. As políticas concebidas e na maioria dos casos não executadas com rigor têm permitido uma permanente tolerância por parte de autoridades públicas.
Descaso, por outro lado, de uma cidadania envolta numa lógica a privilegiar o seu conforto particular e não se engajar como devia nos esforços cooperativos para pressionar os poderes instituídos, bem como os seus concidadãos. Desleixo que faz arrastar providências capazes de pelo menos minimizar os problemas crescentes, que começam a exigir imediatas iniciativas, igualmente deixadas para mais tarde. Este é o quadro.
Esse comportamento coletivo se reflete no âmbito das relações sociais ao provocar o crescimento de atritos antes resolvidos com a serenidade na formação de consensos mínimos em condições de aparar as diferenças. Assiste-se com intensidade incomum a elevação desses conflitos cotidianos, que já se elevam ao nível dos confrontos agressivos, por parte daqueles que se julgam donos da verdade absoluta. Situação que induz a enfrentamentos no plano do exercício das ideias sem a mediação de argumentos plausíveis.
O aumento inusitado das tensões na esfera mundial é bem significativo desse estado de coisas que pode ser aplicado ao exercício da ação política, na qual os valores que costumeiramente eram observados agora são sistematicamente violentados em nome de interesses jamais negociados como antes era possível fazê-lo pela via diplomática. Desta maneira, as diferenças político-ideológicas se aferraram de tal modo a impedir o fluxo das negociações propositivas.
É o novo normal no plano da política.
É evidente que essa realidade que está se impondo à revelia da racionalidade dos que exercem a faculdade de zelar pelo bem-estar da humanidade tem incentivado as práticas tanto delituosas de cunho rigorosamente doutrinárias e abraçadas à intolerância em face do contraditório, como se estende também na criminalidade em geral, inserida em alguns casos no aparelho de estado.
A complacência de governos de orientações distintas, mas apegados a princípios exclusivistas quanto aos seus interesses não contribui em nada para sanar essa onda de mal-estar que paira sobre o conjunto das relações entre povos e estados. Ao contrário, instiga as seguidas recorrências que só fortalecem as alternativas antidemocráticas e atiçam grupos vocacionados para soluções autoritárias quando não totalitárias de tipo fascistas a rondar o espectro político de sociedades com grande passivo a ser equacionado, mormente as de passado colonial e semicolonial.
Esse novo normal na esfera da política internacional com respaldos significativos em muitos estados nacionais, incluindo o Brasil certamente, deve ser objeto de uma forte e ampla reflexão por parte de quem tem compromissos com a democracia verdadeiramente calcada nos compromissos com o presente e o futuro da humanidade. Fora isso, todos nós estaremos embrenhados nas difíceis realidades que já se encontram em curso sem que muitos não se apercebam. E é hora de todos se darem conta de suas implicações antes que seja tarde demais. Trata-se de uma consciência que deve ser partilhada nos mais diversos ambientes sensíveis a esse tema hoje em dia absolutamente presente em nossas vidas.
É por essa razão que tenho procurado ressaltar que vivemos tempos de gestação de uma revolução social, termo original concebido por Karl Marx quando de suas primeiras observações a respeito dos processos sociais que tenderiam a evoluir para alternativas transformadoras da realidade de seu tempo. A sua percepção à época deu lugar a uma teoria das lutas de classes como motora dos processos sociais, e ela faz ainda muito sentido de vez que os mais renitentes conservadores apegados a valores ultrapassados resistem a mudanças. E são eles os principais críticos das políticas ambientalistas e contrárias ao emprego de substâncias tóxicas tementes de modificações de seus privilégios adquiridos.
As mudanças de envergadura só podem ser feitas com apoio do povo em todos os espaços onde ele puder exercer a sua vontade coletiva, pois é assim que devemos entender o exercício da democracia. Ela não pode ficar contida exclusivamente nas instituições políticas por mais que sejam constituídas por representantes de seus cidadãos. É indispensável a consulta permanente ao povo mediante informações rigorosas e fundadas no conhecimento científico e, com isso, fortalecendo a conscientização, organização independente e mobilização da sociedade.
Este é o passo primário para que se forje um novo mundo capaz de superar os atuais obstáculos à vida na Terra.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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