Por Indianara Siqueira 

Vidas LGBTIA+ Importam. Ou Precisam Importar.

Quando morre  alguma celebridade que tenha um peso na história cultural ou social em geral no país, é com naturalidade que as pessoas veem o nome de ruas,  praças, entre outros logradouros ou espaços públicos mudarem ou receberem o nome da pessoa morta pra homenagear sua memória.

Mas e se essas pessoas forem abertamente declaradas LGBTIA+?

Bem nesse caso sempre haverá questões a serem “ponderadas”.

A execução de vereadora Marielle Franco já tinha deixado isso já era perceptível.

A morte de Paulo Gustavo isso ficou explicitamente latente.

Uma rua de Niterói foi renomeada em homenagem ao ator humorista. Isso gerou reclamações por parte de comerciantes locais dizendo que terão muito prejuízo com produtos que já levam o nome atual da rua. Ou que terão prejuízos como no caso de aplicativos de localização como GoogleMaps que não reconhecem o novo endereço.

Paulo Gustavo, com o marido Thales Bretas e os dois filhos (Arquivo Pessoal/Instagram)

Algo que é fácil resolver comunicando os sites onde esses aplicativos estão agregados ou os próprios aplicativos. Mas para esses comerciantes o que importa é números.

Quanto vale uma vida? E uma vida LGBTIA+?

É surreal que isso aconteça no mês do orgulho LGBTIA+. É como se fosse um ataque direto a essa comunidade especificamente.

Primeiro que diferente de Marielle que foi executada por sua função política, sua posição contra as famílicias que ela pesquisava e conhecia muito bem onde atacar, Paulo Gustavo foi assassinado pelo estado brasileiro comandado pelo atual desgoverno bolsonada.

Quem mandou matar Marielle Franco? (Marcelo Sayão/EFE)

Sim. Paulo Gustavo foi assassinado. Ele poderia ter ido pra qualquer país onde a pandemia estivesse sido combatida com eficácia comprovada. Poderia ter ido se vacinar em qualquer lugar do mundo onde isso estivesse sendo feito.

Mas ele queria estar com seu povo. Queria incentivar as pessoas a fazerem a coisa certa e salvarem vidas juntes.

Foi assim que Paulo Gustavo que arrastava milhares com ele em apresentações em casas de shows, cinemas, teatros entre outros espaços de apresentações artísticas, decidiu parar tudo , se isolar e acreditar em seu país.  Ele acreditava que estava fazendo o certo. E estava. Ele acreditou em seu país. Ele acreditava que daria certo. A vacina chegaria e tudo ficaria bem como canta Pablo Vittar.

Mas pra ele não, Paulo Gustavo não ficou bem.

Com todo seu humor ele foi internado. E seguiu firme tentando mostrar pro povo que era só mais um temporal.

E a gente junto com Paulo Gustavo acreditamos.

Ele lutou. Teve o corpo invadido por máquinas que tentavam de tudo pra salvá-lo.

De repente um país ficou em suspense.

Enquanto um pastor pedia declaradamente a morte do ator, o Brasil em suspense estava respirando através das máquinas que mantinham o humorista vivo. O Brasil que já estava doente desde o desgoverno de Michel Temer agora estava na UTI da covid junto com Paulo Gustavo e também no luto dos familiares e amigxs dos quase 500 mil  mortxs por covid-19.

De repente a notícia que ninguém queria ouvir chegou: Paulo Gustavo morreu. Foi como um copo de água fria trazendo o povo brasileiro de volta a realidade mas pra comunidade LGBTIA+ foi um tsunami.

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Então com tudo isso é surreal que no mês do orgulho LGBTIA+ esses comerciantes ponham valor na vida de um ser humano e uma vida LGBTIA +.

Quanto vale uma vida humana?

Quanto vale a vida de ume LGBTIA+.

Quanto valia a vida de Paulo Gustavo que tanto lucro deu a esse CIStema capitalista que comercializa VIDAS !?!

Esses comerciantes deveriam se sentir orgulhosos que a rua deles recebesse essa homenagem. Mas eles se sentem ultrajados e usam a questão do ” prejuízo financeiro ” pra disfarçar a LGBTIFOBIA que eles sempre carregaram.

Paulo Gustavo merece essa homenagem por tudo o que representou não só no humor e cultura, mas também na ruptura que fez no CIStema heterossexistanormativo ao levar nos ditos horários da família tradicional brasileira a comunidade LGBTIA+ pra dentro das casas das pessoas.

Mas uma sociedade que só nos enxerga como cifras pink money e que quando morremos nossas vidas não importam como nunca importaram.

Manter a Rua de Niterói Paulo Gustavo como memória é um ato de resistência. Um ato de resistência de um povo que precisa ser resistente pra sobreviver a fome, a falta de vacina e de políticas públicas para o Brasil. Essa rua é a um ato de resiliência da comunidade LGBTIA+.

Placa da Rua Ator Paulo Gustavo, no bairro de Icaraí, em Niterói/RJ. (Conteúdo Estadão)

É ATO EM MEMÓRIA AOS QUASE OU MAIS DE MEIO MILHÃO DE MORTOS NA PANDEMIA PELO DESGOVERNO BOLSONADA.

ESSA RUA PRECISA PERMANECER COM O NOME DE RUA PAULO GUSTAVO COMO UM ATO DE RESISTÊNCIA DO POVO BRASILEIRO. MEMÓRIA DA RESISTÊNCIA.

Por isso no mês do orgulho no dia 28 de junho devemos usando máscaras e álcool 70% ocupar essa rua com cartazes que nos darão escrito a segurança do distanciamento físico, cartazes onde estará escrito: “Rir É Um Ato de Resistência.”

Em memória de um país que já morreu mas que temos como ressuscita-lo. Diferente de Paulo Gustavo que foi assassinado por esse desgoverno e não temos como trazê-lo de volta.

Que o gigante acorde.
Por mim, Por Nós e Por Todxs.

#vidaslgbtiaimportam 
#vacinanobracocomidanoprato

#elesnaoforabolsonaroguedesemourao
#forabolsonaro.


INDIANARA SIQUEIRA – TransVestiAgenere, pute, ateie, vegane, presidente do Grupo Transrevolução-RJ, da REBRACA LGBTIA+, coordenadora do PreparaNem, Casa Nem Abrigo LGBTIA+, Rede Brasileira de Prostitutas, Fórum TT RJ e Coletivo Davida.

SIRO DARLAN – Juiz de Segundo Grau do Tribuna de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Diretor e Editor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Membro da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.