Por José Carlos de Assis

As restrições para circulação em trens, metrô e ônibus no Rio, por causa de uma suposta precaução contra o coronavírus, ficarão registradas eternamente como um dos atos mais absurdos em toda a história baixados por autoridades públicas na cidade e no resto do país. Não há precedentes para uma ação dessa natureza. Não há uma justificação técnica ou científica clara para medidas como essas. Tudo se faz na base de uma cadeia de palpites que desce da OMS até autoridades locais, afetando involuntariamente milhões de cidadãos.

No Rio, e creio que também em outras cidades brasileiras e mundiais, o direito de ir e vir, no nosso caso uma das cláusulas pétreas da Constituição, está sendo violado sem contemplação pelas autoridades públicas. Ninguém explica claramente por que numa determinada hora pode-se tolerar o vírus num grupo, e em outra não. Também não fica claro porque os restaurantes e bares devem ficar fechados, e não a totalidade dos supermercados. A restrição atinge também parte das lojas, como se as que continuam abertas fossem menos mortíferas.

Ouvi lamentos de empregadas domésticas, trabalhadores em construção, babás e cuidadoras, autônomos, todos não sabendo como irão trabalhar amanhã, sem ônibus, e quem vai pagar suas contas. Dezenas de milhares de garçons ficarão parados, porque os restaurantes estarão fechados. Evidentemente, trata-se de uma medida discricionária, pois o patrão se vira com empréstimos bancários que o generoso Paulo Guedes lhes promete oferecer. Já os trabalhadores se viram com pequena esmola, isso se estão no mercado de trabalho.

Os ricos, como sempre, se safam. Não tem muito claro como o confinamento em casa lhes vai livrar do vírus mas, por garantia, enchem a geladeira e a dispensa. É uma monstruosa discriminação de classe que não faz qualquer sentido já que não há explicação real para medidas tão rígidas. O que se diz é que é para proteção de todos, ricos e pobres, mas não existe uma especificação clara dos mecanismos de manifestação e de transmissão da doença. Tudo se reduz a uma ordem da Organização Mundial da Saúde, e ponto final.

Dividimos a sociedade entre os que pensam que estão atacando o vírus e os que se expõem a seus supostos ataques por desobediência ou necessidade de trabalho. Curiosamente, são dois grupos de paranoicos, uns conscientes das ditas necessidades de prevenção, outros tidos como irresponsáveis (eu inclusive) ignorando as restrições. A propósito, decidiram impedir que idosos fiquem em casa sem as crianças, não se explicando muito bem como os pais vão fazer para deixar filhos em casa enquanto trabalham, já que não poderão ter a companhia dos avós.

Vejamos, porém, os fundamentos que me convenceram de que estamos não num pandemia de saúde, mas numa pandemia de baboseiras. Tudo parte da situação do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyessus, um infecciologista etíope, mas que se destacou muito mais como diplomata africano na organização. No início deste ano, quando o vírus se manifestou, o diretor-geral sinalizou um surto sem maior gravidade. Meses depois, contudo, sob clara pressão interna e internacional, acabou por superavaliar o surto e decretou a pandemia.

Eis, portanto, a origem do caos: uma síndrome de autoridade. As razões que as autoridades da OMS apresentam para decretar pandemia, e que são aceitas sem discussão pela comunidade

de saúde mundial, passam por cima do fato elementar de que, para a maioria da população, o vírus é inócuo, mostrando sua agressividade sobretudo para grupos concentrados, como os idosos. Com base em três vídeos de autoridades de saúde da USP, escrevi sobre isso nos últimos quatro dias. Debalde. Ninguém levou a sério ou até mesmo ninguém leu.

Qual é a “prova” que a OMS está dando de que há uma pandemia? Na essência, a grande mortalidade de idosos na Itália e na Espanha. Vejam as estatísticas e considerem o fato de que idosos representam 20% da população da Itália 22% da população da Espanha. Não é surpresa que um vírus pouco agressivo se instale nessas pessoas, e que outras causas os levem à morte. Nesse contexto, como assinala um dos professores citados no vídeo da USP, uma questão de mortalidade natural se torna uma epidemia, e a epidemia um escândalo mundial.

Na medida em que a maior autoridade do mundo em saúde pública fala em pandemia, todo o mundo corre atrás. Exceto, pelo que sei, no caso de dois infectologistas da USP cujos vídeos pessoais me foram remetidos por zap, e acredito que continuam na internet. Um amigo me disse, escandalizado: mas você não está considerando o terrível risco que estão correndo os velhinhos? Claro que considero. Eu próprio estou indo para 72 anos. A última coisa no mundo que queria seria uma pandemia. Entretanto, não tenho como evitar, de forma absoluta, que os velhos morram. O melhor que posso fazer é lhes dedicar um bom sistema de saúde para retardar sua morte, não a eliminação total dela.

A propósito, estatísticas de saúde da Itália e da Espanha são suspeitas. Escondem o número de óbitos segundo a idade. Isso é uma forma de mascarar as deficiências do sistema que talvez mate mais gente velha do que devia. Na verdade, o que essa falsa pandemia deixará de positivo é a evidência do colapso do sistema de saúde privado em comparação com o público, mesmo que, em países como os Estados Unidos e o Brasil, o sistema público esteja sendo sucateado em favor do privado.

Ao lado da fantástica manipulação do coronavírus no plano da saúde temos, no Brasil, o propósito descarado de Jair Bolsonaro de apelar para uma ditadura pessoal mediante o recuro ao estado de sítio com a desculpa do coronavírus. A imprensa brasileira, que costuma naturalizar tudo o que fala ou faz o atual presidente, já mencionou que o assunto foi discutido no Planalto. Seguindo-se à declaração do estado de emergência, também mencionado, é o meio que se quer manipular, pela via do coronavírus, o novo AI-5 recentemente reclamado por Eduardo Bolsonaro.

Finalmente, que fique claro para o senhor Witzel que os mortos por conta da interdição de ônibus, trens e metrôs a partir de amanhã devem ser incluído nas na sua conta pessoal. É óbvio que entre milhões de usuários desses transportes, que deverão ser repelidos pela polícia segundo o decreto do governador, muitos se desesperarão para viajar de qualquer maneira e para isso enfrentarão a polícia. A polícia, delicado como tem sido na época de Witzel, vair reagir à altura. Como diziam os gladiadores romanos, “ave governador, os mortos te saúdam”!


JOSÉ CARLOS DE ASSIS  é jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.