Redação

Levantamento mostra que companhia perdeu quase metade de seu valor de mercado em uma semana.

O preço internacional do petróleo já vinha caindo desde meados de 2019, antes, portanto, do surgimento do novo coronavírus. A percepção do mercado naquele momento era de que a oferta mundial de óleo estava crescendo mais do que a demanda. O surto de coronavírus, que começou na China e se espalhou por quase todo o mundo, e a guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia pioraram muito um cenário já ruim. Isso afeta todas as grandes petrolíferas globais, mas é ainda pior para a Petrobras, por causa de sua opção estratégica de reduzir sua participação nos segmentos de refino, petroquímica e distribuição de combustíveis . É o que aponta levantamento do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), que mostra que a empresa brasileira perdeu quase metade de seu valor de mercado em uma semana na Bolsa de Valores de Nova Iorque, enquanto na maioria das empresas essa redução ficou entre 20% e 35%.

Entre os dias 1º de janeiro e 5 de março de 2020 – antes, portanto, da crise russo-árabe -, o preço do barril tipo Brent apresentou registrou queda de 26,44%, reflexo da redução do consumo, principalmente nos países asiáticos, os primeiros a serem afetados pelo coronavírus. Em 9 de março a situação piorou: a cotação do Brent derreteu 24,1%, consequência da queda do consumo e do fracasso nas tratativas para um acordo de controle da produção entre os principais países exportadores de óleo, reunidos na Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep). Uma disputa entre os dois maiores exportadores de petróleo do mundo, Arábia Saudita e Rússia, iniciou um conflito que deve continuar no curto/médio prazo.

Entretanto, apesar das grandes oscilações nos dias seguintes, o preço do Brent encerrou a última semana com desvalorização de 23,8%, indicando que a redução do valor responde a outros fatores para além da crise russo-árabe e pode perdurar no médio e longo prazos. Esse cenário de preço mais baixo afetou grande parte das empresas de petróleo no mundo. Ao longo da semana passada, as ações dessas empresas caíram vertiginosamente, entre 20% e 48,2%; a única exceção é a estatal chinesa Sinopec.

De acordo com a análise do Ineep baseada nos dados acima, as empresas com maior atuação no segmento de downstream (refino, petroquímica e distribuição) têm maior capacidade de reagir a grandes oscilações do preço do petróleo.

A Sinopec, embora atue no segmento de exploração e produção (E&P), tem presença maior no downstream. Suas ações ficaram num patamar estável (crescimento de 0,8%) entre 6 e 13 de março. E no dia 9 de março, quando os papéis das petroleiras sofreram grande impacto em todo o mundo, a norte-americana Exxon registrou a menor queda (-12,2%). Não por acaso, entre as grandes operadoras analisadas, a Exxon é a que possui o maior parque de refino, capaz de processar cerca de 5 milhões de barris de petróleo por dia.

Quanto à capacidade de reagir às oscilações do mercado, a Petrobras se mostra como um exemplo negativo, avalia o instituto. A estratégia de se concentrar praticamente em E&P – e mais especificamente no pré-sal – para exportar petróleo bruto, adotada nos últimos anos, teve papel importante na queda de 48,2%. Essa estratégia deixa claro que Petrobras terá, no médio prazo, capacidade muito menor de resistir às oscilações de preços do barril, por conta da venda de ativos e da saída de várias atividades de downstream, bem como de outras formas de energia (elétrica e eólica).


Fonte: Monitor Mercantil