Por José Carlos de Assis

CARTA ABERTA AOS PARLAMENTARES (I).

Jair Bolsonaro esgotou todos os limites de tolerância dos cidadãos brasileiros devido a seus desmandos. Ele agora tem expressado claramente, através do Ministério da Saúde, o desejo de expor à morte pelo coronavírus pessoas pobres e desinformadas, fora do alcance de qualquer juízo crítico a respeito de medicamentos. É demais. O processo de impeachment está atrasado e, de qualquer forma, é inócuo para os propósitos genocidas do Presidente atual. O Congresso deve agir rápido. Democraticamente, mas responsavelmente. Já.

O filósofo John Locke, um dos fundadores da democracia moderna, reconhecia no cidadão o direito de rebelar-se conta um mau governo. É o que estamos fazendo. O Congresso Nacional tem o dever de proteger o povo e as demais instituições de um mandatário que se apresenta como desequilibrado, ora temido em face da extensão do que pode fazer, ora submetido ao riso dos que vêem nele um fenômeno de circo. Os desgastes em relações internacionais são palpáveis. Bolsonaro insultou da França à China, parceiros na cultura e nos negócios.

Temos que nos livrar de Bolsonaro antes que os estragos sejam maiores. Se perdermos a parceria estratégica com a China, em razão das bravatas do Presidente e de sua família, estaremos extremamente vulneráveis no comércio exterior. Milhares de toneladas de soja e outros produtos serão empilhadas nos armazéns e nos trens sem por onde escoar, levando ao desespero, gratuitamente, produtores e trabalhadores. É possível que percamos também outros parceiros comerciais, à vista de seu desleixo com as queimadas e o meio-ambiente.

Não temos tempo para impeachment, que em geral leva seis meses, devido aos procedimentos formais. Entretanto, a República não pode esperar. O Congresso tem que agir, e agir rápido, para evitar que a família Bolsonaro destrua o Brasil. Nesse momento, não há diferenças de partidos, de ideologia, de classes: devemos todos agir de forma unificada, encaminhando, simultaneamente, a questão sucessória, na medida em que o país não pode ficar acéfalo, nem submetido a uma cadeia sucessória suspeita de sujeição a Bolsonaro.

P.S. Iniciaremos na próxima sexta-feira, a partir de 17h30m, a primeira de uma série de lives para discutir a deposição constitucional de Jair Bolsonaro. Participarão especialistas em economia política, direito, medicina, ciência política e de vários outras profissões. Não vamos nos limitar a analisar a crise. Vamos buscar meios para superá-la.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.