Por José Macedo –
Quando, vivia em Salvador, não perdia aquele desfile, cujo trajeto tinha como finalização a Praça do Campo Grande. Porém, o que mais me impressionava naquele desfile era: negras e negros carregando aquelas bandeiras/estandartes, ovacionando a Independência da Bahia e a a consolidação da independência politica do Brasil.
Ficava olhando a postura dos participantes, via em tudo sinais de patriotismo, de vitoriosas e de uma rebeldia contida. Por que negras e negros, ali, naquele desfile? Elas, eles? Tanto na Independência da Bahia, do Brasil, chegando à Proclamação da República, o negro foi jogado às favas, à própria sorte. A libertação e independência dos negros ainda não aconteceram, sua importância nos momentos históricos são, de suma relevância, mas, em todo tempo, desconhecida e nunca recompensada, um débito não quitado.. Assim, esse meu comentário está visto a olhos nus na desigualdade e injustiça verificadas. É nesse segmento, onde as maiores injustiças são praticadas.
Vê-se, assim, no Sistema Carcerário, nas filas de desempregados, nos índices de salários mais baixos, nos índices de crianças fora da escola ou na evasão escolar, nas marquises dos que dormem nas ruas de nossas cidades, nos boias frias, nos índices de homicídios, onde morrem mais pardos e negros, aí descortina-se a verdade de um país injusto com seus filhos que ajudaram a construí-lo. Então, nas minhas meditações sobre o 2 de Julho, chego à conclusão de que, o andar de cima, onde os “vitoriosos” vivem, mostra uma visão desse universo de miséria, sendo um lugar para esconderem-se por trás das cortinas.
Há 5 anos, fiz um artigo sobre o “2 de Julho” e descobri, nessas pesquisas a importância de dois segmentos da população baiana, a mulher de modo geral, os negros e negras. Encontrei uma figura ímpar que me chamou a atenção e merece destaque, Maria Felipa de Oliveira. Maria Felipa era uma negra, bonita, alta, marisqueira da Ilha de Itaparica, apresentou-se ao comandante daquelas batalhas, Ubaldo Osório, avô do imortal e saudoso, João Ubaldo Ribeiro. Ela comprovou consciência social, valentia e liderança. Maria Felipa liderou dezenas de negras, dizem 200, atraiam os portugueses para a praia e dava neles surra de cansanção. Assim, não podemos esquecer da participação das mulheres naquelas decisivas e vitoriosas batalhas para a consolidação da independência política do Brasil.
Por justiça, cito três valorosas mulheres: Maria Felipa de Oliveira, Maria Quitéria e Joana Angélica.
Assim, por fidelidade aos fatos, nossa história política terá de passar por uma releitura, inserindo nos livros de história a verdade sobre nossa independência política. Fico na expectativa de que minhas palavras sejam lidas e tenham força de convencimento, sendo transformadora, direcionando-a para a verdade histórica. O Grito do Ipiranga não teve eco para consolidar nossa independência, até porque, inexistiu qualquer participação popular, desconhecendo as lutas que eram travadas em outros Estados brasileiros, sobremodo no Nordeste, com mortes e derramamento de sangue. O quadro de Pedro Américo, pintado, 66 anos, após o famoso grito, teve o propósito de mostrar um D. Pedro transformador da história política brasileira. Ainda, temos de conquistar totalmente, nossa independência e, sem libertar o negro e o pobre, nossa independência continuará inexistindo ou incompleta.
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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