Por Ricardo Cravo Albin

“O Cristo do Redentor, de braços abertos, simboliza a fé e a reflexão. E ainda, o melhor, a absolvição para os cariocas”. (Murilo Mendes).

Quem escreve semanalmente vez por outra pode ficar entre a cruz e a caldeirinha. E a citação à cruz, uma antiga expressão idiomática, tem toda razão de ser, como veremos neste texto que já é intuído pela alusão ao Cristo Redentor do Corcovado.

Perdoem-me os leitores, mas o assunto prioritário a ser perfilado hoje seria o golpe ao golpe anunciado com fartura pelo Presidente, com data marcada para 7 de setembro. Ocasião raríssima que levou Bolsonaro a produzir uma Viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido. Pior, levou-o a um buraco político que chocou o país e até o futuro de sua economia, estimulando a movimentação ilegal de caminhoneiros, provocadora de fartos prejuízos; levou-o a sequestrar e apossar-se para exclusivo fim eleitoreiro de uma data nacional, a maior, o Dia da Independência do Brasil – uma violenta ação histórica que há de ficar como exemplo a jamais ser repetido. Aliás, esse tipo de insulto nacional deveria ser objeto de punições severíssimas pelo STF e de repúdio imediato das Forças Armadas.

Pois bem, entre esses temas candentes e necessários à reflexão, o que mais me incomodou foi um pequeno evento, a passar despercebido pela vertigem dos outros acontecimentos de essência que sacudiram a nação.

Neste sábado, o querido Padre Omar Raposo, virtuoso reitor do Santuário Cristo Redentor, pequena capela situada aos pés da imagem monumental, dirigia-se ao amanhecer à concorrida capela para realizar mais um batizado, quando teve o acesso ao espaço impedido por profissionais ligados ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), conforme Ancelmo Gois divulgou quase de imediato em seu blog. Ainda bem que houve denúncia. Mas tem mais: após duas horas de atraso, em que pais, padrinhos e a criança foram truculentamente barrados, a cerimônia acabou sendo realizada. No mesmo dia, sábado, o Santuário, Titular da Capela e da Estátua, divulgou nota de repúdio contra a autarquia do Ministério do Meio Ambiente, administradores do Parque Nacional da Tijuca, onde fica o mais célebre ponto turístico do país.

Triste destino para a memória de Chico Mendes emprestar seu nome para autarquia tão anárquica e inconveniente. Triste destino da população carioca por sabermos, especialmente os católicos e devotos do Cristo Redentor, de tamanha grosseria e falta de tudo, sobretudo de respeito a uma criança a caminho da pia batismal. Triste destino de termos o Parque Nacional da Tijuca entregue à mãos tão abjetas.

O querido Padre Omar – insisto no querido porque conheço o sacerdote de há muito e sempre testemunhei a grandeza do seu coração, além da generosidade de se dar ao próximo – relembrou na nota de repúdio que o bloqueio à capela se deveu à falta de autorização. Como autorização, como? Se a imagem e a capela foram erguidas há exatos 90 anos pela comunidade católica liderada pelo memorável Cardeal Leme. E jamais o mais afoito cidadão carioca ou de qualquer parte ousou negar essa tradição para a fé do Rio, do Brasil e do mundo. Vale acrescentar aqui que o Padre Omar (também cantor e músico, amigo de milhares de pessoas) lembrou na nota oficial de protesto que outros episódios recentes já haviam importunado a Arquidiocese e o próprio Cardeal Arcebispo Dom Orani Tempesta, vítimas continuadas de constrangimentos a seus convidados e seus religiosos. Agora mesmo, no dia 2 de setembro, os funcionários que fazem a gestão da iluminação do local, especialmente a Estátua monumental, foram barrados na guarita da entrada das Paineiras pelos seguranças do Parque Nacional. Eles estariam subindo para por em risco o Cartão Postal? Sim, em grave risco… porque estavam subindo para iluminar o Cristo na cor verde, uma ação piedosa do Padre Omar para sensibilizar a população à doação de órgãos. No dia seguinte, 3 de setembro, os convidados da Arquidiocese não puderam chegar ao Santuário para um café da manhã depois das orações. O Parque Nacional da Tijuca vetou o acesso à água!!! Nos últimos tempos a autarquia federal ousou instalar catracas e guaritas pela Estrada das Paineiras.

Finalmente, peço a paciência dos leitores para que, quando e se puderem, ajudem este indignado cronista a rogar, até a Bolsonaro, que libere o acesso e a posse da Estátua a seu único e legítimo titular, a Arquidiocese do Rio. Por enquanto, cabe-me aqui mais um pedido-público, dirigido ao Governador Claudio Castro e a André Ceciliano, Presidente da ALERJ. Estendido também ao Prefeito Eduardo Paes.

Pelo amor de Deus, deixem o maior símbolo desta cidade em paz. E liberem religiosos como o Cardeal Arcebispo Dom Orani e o Reitor do Santuário Padre Omar de tantos constrangimentos. Absurdos e obtusos.

Esta crônica é dedicada à memória do filósofo e católico de primeiríssima linha Tarcísio Padilha. Para quem verto uma sentida lágrima de saudade.

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Obs: Já nas Livrarias e em fase de lançamento nas lojas da Travessa o livro da Editora Batel “Pandemia e Pandemônio” – Relatos deste cronista, com recomendações da escritora Nélida Piñon, e dos médicos-cientistas Margareth Dalcolmo e Jerson Lima.

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