Por Luiz Carlos Prestes Filho –
Recolhido a sua residência, desde o fim do carnaval deste ano, o compositor João Roberto Kelly tem sido exemplo de disciplina durante a quarentena da Covid 19. Por vezes, parece que ele voltou aos tempos de menino aplicado, quando estudava no Colégio Padre Antônio Vieira. Cumpre com rigor ritualístico o distanciamento social e, caso tenha que atravessar a rua, para resolver algo essencial, usa mascara e luvas.
Tristeza grande ele sente por conta do falecimento recente de um dos seus maiores amigos de infância e adolescência, o economista Carlos Lessa. “Parceiro de peladas inesquecíveis, colega que, quando eu pedia, me dava cola. Estudamos juntos, ele era um ano mais velho. Foi um carioca exemplar, pessoa inteligente e grande conquistador”, recorda.
Nesse longo e “interminável período de solidão” o Kelly realizou algumas lives nas redes sociais, onde debateu temas relacionados com as dificuldades que artistas e produtores culturais enfrentam hoje e vão enfrentar no futuro. Da altura dos seus 82 anos diz que nunca presenciou algo parecido: “Lamento que muitos ainda não acordaram para a seriedade da situação! Entre esses muitos eu vejo governantes, empresários e, porque não reconhecer, alguns ingênuos amigos. Até mesmo artistas e produtores culturais”.
A vida de João Roberto Kelly pertence às praças e às ruas da Cidade Maravilhosa. Nelas as multidões, faz 50 anos, cantam as suas marchinhas que parece que sempre existiram: “Cabeleira do Zezé”, “Mulata Bossa-Nova” e “Joga a Chave Meu Amor”. Penso que não é necessário citar a lista completa de suas obras, profundamente incorporadas ao imaginário da cultura do Rio de Janeiro. Todas fazem parte da descontração e da brincadeira que é a marca do jeito carioques de ser.
O artista destaca: “Desejamos ter um bom Natal este ano e um bom carnaval, em 2021. Mas pelo jeito como a coisa está, vejo que vai ser difícil. Fomos recomendados a ficar em casa, lavar as mãos, usar mascaras e luvas. Mas a realidade mostra o calçadão de Copacabana cheio; as ruas e as praças de São Paulo cheias! Tem até bailes reunindo multidões. Rapaz baixe a sua bola. Vamos voltar a promover aglomerações quando tudo isso for embora. Você quer isso e todo mundo quer. As vacinas estão a caminho, muitos laboratórios do mundo estão trabalhando. Até Deus está ajudando, será que só você não quer ter juízo? Colabore rapaz para que o Natal deste ano aconteça. Para que a gente realize, em 2021, um Carnaval sem vírus”.
Não será surpresa, se após o isolamento forçado, o Rei das Marchinhas apresentar um álbum completo com novas composições. Pois, uma coisa é certa, seu piano não para de encantar os vizinhos e os transeuntes que passam abaixo de suas janelas. Ele com entusiasmo continua transformando causos e casos do momento em pequenas joias musicais.
Marchinhas que, como afirma a bailarina Regiane Philadelpho: “Grudam na gente como chicletes saborosos, dos quais depois não desejamos mais desgrudar”.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
MAZOLA
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