Por Miranda Sá –
Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixas de papelão e pedimos uma ligação com a infância” (Millôr)
A rica contribuição do quimbundo para o idioma português falado no Brasil nos deu a sonora, sugestiva e de amplo significado a palavra Moleque, de origem “muleke”, que dicionarizada é um substantivo masculino.
Na linguagem coloquial Moleque tem o significado de criança buliçosa, sapeca e traquinas; no pejorativo é usado como gentalha, ralé, pessoa que não merece confiança.
O depreciativo se encaixa perfeitamente na personalidade grosseira, mal-educada e inescrupulosa do capitão Bolsonaro. Quem imaginou, por exemplo, que um dia tivéssemos um presidente da República que xingasse publicamente um ministro do Supremo Tribunal Federal de “filho da puta”?
Coisa de gentalha de ponta de rua. Desprezo os que por fanatismo insano ou pagos para isto, aplaudem este comportamento de quem senta na cadeira presidencial; e condeno aqueles que o defendem direta ou metaforicamente essa insensatez, considerando-os iguais a ele.
“Ele é assim”; “diz o que tem vontade”; “porque está com raiva”…. Defesas tolas de manifesta bajulação. Mas tem pior: “é a formação dele”…. Uma desconsideração bestial à vida anterior como militar. Nas escolas militares não se ensina isto, e nem mesmo os nossos sargentos assumem a caricata grosseria dos colegas americanos que assistimos nos filmes…
O Exército não o tolerou obrigando-o a ir para a reserva. Saiu e seu meteu na política, no carreirismo alucinado que foi de namoro com a esquerda, elogios ao ditador venezuelano Chávez, e sem ter crédito no lado de lá, se cobriu com o manto dos revanchistas da ditadura militar defendendo torturas e torturadores.
E há quem considere isto “de direita” e “conservadorismo”! …. E pior ainda; passou 28 anos na Câmara dos Deputados sentado na bancada do Centrão, cobrando rachadinhas e se assumindo como pelego de um virtual “sindicato da farda” para defender aumentos de soldos e encarreiramentos nas forças armadas e polícias militares.
Muito mais do que traquinagens, criou um sistema nepótico levando os filhos para a política, através das bases eleitorais formadas de revanchistas, reservistas politiqueiros e os aquinhoados com vantagens obtidas através dele com o dinheiro público.
Este explorador de verbas governamentais e da crendice infame num “salvador da Pátria”, exibiu a sua psicopatia e rica acumulação de mentiras na campanha presidencial em que se elegeu com o voto dos descontentes pela corrupção lulopetista e dos patetas cocainizados na ilusão de conquistar segurança institucional.
Vencedor, traiu as duas frações que haviam se somado ao bando de milicianos políticos; traiu, desprezou e sabotou as medidas contra a corrupção defendidas por Sérgio Moro e em vez de trazer segurança criou a maior instabilidade no País desde a redemocratização.
Os corruptos estão de volta, como se comprova com depoimentos dos envolvidos e copiosos documentos; quanto à inseguridade, assistimos aqui a insensata loucura da ditadura coreana de Norte com desfiles militares para demonstração de força. Cá como lá, vê-se governos fracos e impopulares apoiados pela força armada.
O carnaval fora de época de blocos uniformizados exibindo tanques como carros alegóricos, leva-nos a refletir sobre a triste realidade que vivemos; da minha parte, apelo de coração para a poesia “Menino Moleque”, de Milton Nascimento; “… não posso aceitar sossegado/ Qualquer sacanagem ser coisa normal…”.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
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MAZOLA
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