Por João Marcos Buch

João estava preso e cumpria pena por assalto. Na primeira oportunidade em que viu o juiz na prisão, João logo chamou aquele que executava sua pena. O juiz se aproximou e perguntou o que ele queria. Trabalho, João queria trabalho. João era um rapaz novo, mal saído da adolescência. Criado pela avó, aos 12 anos, João abandonou a escola e foi para as ruas.

João vendeu doces no sinaleiro, empurrou carrinhos de supermercado, cuidou de estacionamentos, limpou para-brisa e correu atrás de bolinhas em clubes de tênis. Aos 16 anos, João entrou no comércio de drogas, não as de farmácia. Com dinheiro na mão, João comprou boné, camiseta, calças, óculos de sol, corrente, calçado, até uma moto. E João também comprou geladeira, fogão, televisor, tudo para fazer sorrir a única pessoa lhe importava, a avó.

Mas João devia na praça e, ameaçado, foi fazer um assalto para levantar a quantia.

Não deu certo. João, já com 18 anos, foi alcançado pelo estado policial, o único braço que o estado tem de eficaz. João foi preso e condenado. Agora, na cadeia, João continuava na busca de uma vida melhor e deixou a questão muito clara ao juiz, “ele precisava trabalhar”. O Juiz encaminhou o pedido de João para a direção penitenciária, mesmo sabendo que dos 800.000 presos no Brasil, só 11% tem oportunidade de emprego no sistema, os demais ficam na vontade.

João havia aprendido na prática e o Juiz na teoria de que a justiça social só seria alcançada quando a concentração da riqueza, a exploração de uns sobre outros e o abismo social fossem superados. Ainda assim, João não desistia, tampouco o juiz.

Neste 1.º de maio, dia de luta, minha homenagem vai para todos os Joões deste imenso, rico e injusto país.


JOÃO MARCOS BUSH é juiz de Direito em Joinville (SC)

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com