Por José Carlos de Assis –
O termo ideologia foi explorado por Marx para destacar a forma como as classes dominantes disfarçam seus interesses reais por baixo da exploração das classes dominadas. Com o tempo, a equação foi invertida.
As classes dominantes passaram a atacar como ideologia todo pensamento que ameaça seus interesses reais, com que o termo obteve uma conotação negativa na imprensa conservadora de direita.
Assim, quando a senhora Miriam Leitão e seus colegas do Globo e do Estadão alegam que Márcio Pochmann não deveria ser presidente do IBGE por causa de sua “ideologia”, eles não estão falando, obviamente, de exploração de classes. Estão, sim, assumindo descaradamente a defesa dos interesses materiais das classes dominantes, mascarando-os sob uma “ideologia” inventada que estão imputando ao economista.
Pochmann, segundo esses críticos, não deveria ir para a presidência do IBGE porque poderia manipular as estatísticas do instituto. Essa infâmia beira a idiotice. É o total desconhecimento de como funciona a instituição. São milhares de dados coletados por milhares de pesquisadores de forma independente, reunidos, digitalmente, para produzir um resultado final sem interferência humana.
Para manipulá-los, o presidente do IBGE teria que comandar não um coletivo de funcionários honestos e vigilantes, mas um bando de hackers, que de alguma forma invadiriam os computadores do instituto e extrairiam de lá as informações escolhidas, e lá reporiam outras falsas. É simplesmente ridícula essa suposição. E qual seria o objetivo? Encontrar um resultado estatístico que seria do agrado do governo?
Nesse caso, a suspeita de manipulação não deve recair sobre Pochmann, mas sobre o próprio governo. Isso incluiria a ministra Simone Tebet, do Planejamento, a que está vinculado o instituto; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, interessado nas estatísticas apuradas, e o presidente da República, que, em última instância, é julgado pelo povo, em parte, de acordo com a evolução dos dados calculados pelo IBGE.
Portanto, Miriam Leitão e seus colegas do Globo e do Estadão deveriam tomar consciência de que, quando alegam que Pochmann “poderia” manipular as estatísticas do IBGE, sem esclarecer qual seria seu propósito, o que estão fazendo, no fundo, é levantar uma hipótese de desonestidade do próprio Presidente. Alguém que seja tão maldoso quanto eles concluiria que Lula está colocando um amigo no IBGE para controlar as estatísticas, como supostamente fizeram os Kirchners na Argentina. Na verdade, esses pseudojornalistas acusam um dos mais profícuos e competentes intelectuais do país de potencialmente manipular estatísticas justamente para encobrir os próprios propósitos de acobertar seu namoro com a direita e a extrema direita. Apoiaram Lula, num certo momento, com medo dos extremismos de Bolsonaro. Passadas as eleições, seu objetivo passou a ser controlá-lo. Pochmann, nesse caso, não é uma pessoa. É uma corrente de opinião vinculada aos desenvolvimentistas, que para seus oponentes de direita precisam de ficar longe do governo, mesmo que em cargos não decisórios como o IBGE.
Este não é um terreno frequentado apenas por jornalistas, mas costuma ser usado também por economistas de “prestígio” no mercado, para a manipulação ideológica. Antes das eleições, apavorados com os excessos extremistas de Bolsonaro, Pedro Malan, Armínio Fraga e Edmar Bacha soltaram uma nota oportunista de apoio a Lula, com o óbvio propósito de controlá-lo depois delas. Miriam fez a mesma coisa com seus artigos. Antes simpática a Bolsonaro, tornou-se lulista. Com isso, talvez se vangloriando de ter puxado milhões de votos para o candidato do PT, eles se acham agora no direito de vetar nomes para cargos na administração pública.
Havia pensado que, com a decisão tomada pelo Presidente de nomear Pochmann, a polêmica estava encerrada. Ledo engano. Nesta sexta, o Jornal Nacional da Globo voltou à carga, agora desqualificando Pochmann porque ele criticou a iniciativa do Banco Central de criar o Pix. Contudo, ele tinha razão. Pix não cria riqueza, não cria renda, não cria emprego. O que cria riqueza, renda e emprego é baixar a taxa de juros.
E isso o Banco Central manipulado por um bolsonarista não faz!
AGENDA
JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, doutor em Engenharia da Produção, autor de mais de 25 livros de Economia Política e introdutor do jornalismo econômico investigativo no Brasil com denúncias de escândalos sob o regime militar que contribuíram de forma decisiva para o desgaste da ditadura nos anos 80. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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