Por Ricardo Cravo Albin

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”. (A. Einstein).

Quem me conhece ou mesmo já leu o recém lançado Pandemia e Pandemônio sabe bem da máxima que apregoo desde o início da pandemia: entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus.

Ano passado escrevi dezenas de textos alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de jovens a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Este ano, aparentemente em final da Covid-19, pelo bem-sucedido sistema de vacinação a atingir quase 62% da população brasileira, pelo esvaziamento dos hospitais, e ainda pela queda dos mortos, os prefeitos e governadores, bem como todos nós, exultávamos com a possibilidade de termos ao menos fatias de réveillon e de carnaval. Com todas as cautelas, é claro.

Semana passada relatei aqui neste espaço encontro esclarecedor que mantive no voo Maceió-Rio com infectologista de Harvard que me assegurou que os meios científicos mais adiantados sabiam que a pandemia não se extinguiria, senão se transformaria em doença crônica, com variantes mais ou menos perigosas, atingindo preferencialmente as populações e os países mais pobres e menos protegidos. Gelei, por certo. Mas me convenci, pela seriedade da fonte que estava a ouvir, de uma verdade. Agora, a humanidade é atropelada por mais uma variante, a ômicron, que faz estremecer o mundo e põe o réveillon e o carnaval no já conhecido desde o ano passado “círculo de fogo”: a incerteza, o medo e o desânimo.

A preocupação espalhou-se como fogo e está na cabeça dos especialistas que admitem ser difícil não haver carnaval, mas que propõem desde agora, já e já, cuidados e cautelas excepcionais. Dados internacionais e do Brasil comprovam que o avanço da vacinação em massa tem ostentado perspectivas altamente positivas para nosso futuro. Só que há um dado ainda insondável e perfidamente perigoso a nos rondar: o potencial do desconhecimento dessa tenebrosa pandemia, que alcunhei de Grande Peste. Ou seja, as variantes até parecem a hidra de mil e uma cabeças a nos ameaçar. Como um castigo divino? Jamais acreditaria que esse tipo de malignidade poderia vir das fontes mais puras da criação e da divindade. Mas certamente que resultam da insistência de o próprio homem provocar todas as artimanhas para destruir alguns fluídos básicos do planeta, como certa vez observou em viagem ao Brasil o expoente da raça humana, Einstein.

O infectologista Alberto Chebabo já declarou que do ponto de vista médico não deveria ter carnaval, nem tampouco réveillon com shows de multidões.

Para reduzir o risco de contaminação, a recomendação dos especialistas é exigir passaporte vacinal em locais com entrada controlada e festejos com capacidade reduzida para impedir a aproximação física. Máscaras, sempre. O carnaval e parte do réveillon parecem estar mantidos no Rio, capital tradicional das duas mais excitantes festas ostentadas pelo país todo. A festa pode gerar um fluxo muito grande de turistas, locais e do exterior, o que aumenta o compromisso do carioca com a obrigatoriedade da vacinação.

Já se sabe que o prefeito do Recife negocia um comitê com Rio, Salvador e São Paulo para que os principais destinos no carnaval comecem a trocar informações sobre suas festas e, por certo, a estratégia de cuidados sanitários, que deveriam se intercambiar à velocidade da luz, como pura prevenção.

Aliás, um pesquisador da OMS descreveu a variante ômicron como um perigo potencial, como se fosse um caminhão descendo a ladeira sem freios, uma peste com potencial de 30 mutações na proteína usada pelo vírus para invadir as células.

Pelo momento em que escrevo, duas dúvidas ainda assaltam os infectologistas: a primeira pergunta se a ômicron será capaz de sobrepujar a delta, hoje dominante no planeta. A segunda – o mais essencial e preocupante – se as vacinas que todos tomamos surtem efeito contra ela. O pior de tudo é que a velocidade do contágio da nova variante é assustadora.

Eu pessoalmente, macaco velho e hoje um tanto pessimista, antevejo um temor que já declarei neste espaço algumas vezes. O fato de muitos de nós irresponsavelmente ficar a imaginarmos que a pandemia agoniza e que sua morte é questão de dias. De dias… Meu Deus, as autoridades precisam perceber a gravidade da situação. O que nos manterá, a todos nós pobres cidadãos, em risco gravíssimo. Com a corda da infecção (menos ou mais agressiva?) ao pescoço.

Como condenados a um enforcamento coletivo.

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P.S.1: A Editora Batel informa que o livro Pandemia e Pandemônio, com recomendações de Nélida Piñon, e dos cientistas Margareth Dalcolmo e Jerson Lima, estará sendo lançado em todas as livrarias da Travessa pelo Brasil.

P.S.2: Apesar de não o ter cumprimentado pessoalmente, por motivo de viagem ao exterior, o abraço ao jurista e colega do Pen Clube José Paulo Cavalcanti Filho pela eleição para a Academia Brasileira de Letras.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.


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