Por Alcyr Cavalcanti

Danuza Leão Wainer faleceu aos 88 anos.

Não conheço ninguém melhor do que Danuza para comandar uma boate (Beki Klabin)

Mulher de rara beleza faleceu aos 88 anos, Danuza Leão Wainer que estava internada na Clinica São Vicente no Rio, de enfisema pulmonar, Nasceu em Itaguaçu no Espírito Santo e frequentava as noitadas desde os 15 anos, amiga de Vinicius de Morais viu o nascimento da Bossa Nova junto com sua irmã Nara Leão. Foi manequim em Paris, onde se apaixonou pelo ator francês Daniel Gélin, uma paixão fulminante. Foi casada com o jornalista Samuel Wainer fundador da Ultima Hora, e teve um romance tórrido com o jornalista e compositor Antônio Maria, mas após muitos desencontros voltou para Samuel , com quem teve três filhos Samuel, Pinki e Bruno.

Samuel Wainer, fundador do jornal “Última Hora”, e Danuza Leão com os filhos Samuca e Pinky, em 1956. (Di Cavalcanti pintou seu retrato, o que está na parede)

Foi casada durante um tempo com o jornalista da TV Globo, Renato Machado. A morte de seu filho Samuel, o Samuca, em 1984 em um desastre de automóvel à serviço da TV Globo, fez Danuza amargar uma profunda tristeza, da qual nunca se afastou. Escreveu vários livros entre os mais vendidos “Na Mesa com Danuza” e “Quase Tudo”, teve também participação no Cinema Novo, e filmou com o diretor Glauber Rocha no premiado “Terra em Transe”.

Glauber Rocha dirige Jardel Filho e Danuza Leão no filme “Terra em Transe”

Conheci Danuza, nas noites cariocas no final dos anos 70, e fui convidado por ela para trabalhar no Régine’s para fazer divulgação, ela era a diréctrice, pessoa de inteira confiança de Régine Chouckroun.  Na época o beautiful people batia ponto em duas casas noturnas, no Régine’s e no Hippopotamus de Ricardo Amaral e como terceira opção, “correndo por fora” O New Jirau, do frenético Serginho Cavalcanti. Noitadas alucinantes, a casa sempre cheia, o jet set internacional na pista do sub solo  do Hotel Méridien, no Leme.

Danuza Leão e sua irmã, Nara Leão, a cantora-musa da Bossa Nova

Danuza nesta época morava em um pequeno e bem montado apartamento no Leme a poucos metros da boate, e deixou todos surpresos quando à convite do rival da francesa, Ricardo Amaral foi trabalhar no Hippo em Ipanema. Antes de sair me apresentou à nova diréctrice Claude Amaral Peixoto, que devido à recomendação de Danuza me deu carta branca, raramente me indicando a fazer uma ou outra foto. A saída de Danuza, não foi  bem recebida, dizem que em uma noitada em Paris, La Choukroun, mulher de temperamento forte partiu pra cima do Ricardo Amaral, que teria tentado levar a todo custo Danuza a pessoa mais indicada para esquentar o Hippo, que estava meio caído. A turma do “deixa disso” precisou intervir para evitar. Depois que ficou tudo esclarecido todos voltaram às boas e festas e mais festas animavam noites que provavelmente nunca mais se repetirão.

A rainha das noites cariocas. (Crédito: Alcyr Cavalcanti)

Escrevo essas linhas, uma pequena homenagem à querida Danuza, fui trabalhar novamente com ela, nos anos 90, no Jornal do Brasil. Me recordo que no Carnaval de 94, em um dos camarotes, ela estava sentada em um canto, sozinha em meio às pessoas que curtiam a folia. Fui até lá ela me chamou para sentar ao seu lado e conversamos, ela parecia não gostar nem um pouco daquela noitada, talvez tristes lembranças, como velhos fantasmas viessem povoar seus pensamentos. Depois de um tempo voltei a entrar no clima e completar minha função de registrar a alegria da festa. Após breves encontros na redação do JB, só tive uma rápida passagem com ela anos depois em um Carnaval, em Ipanema ela assistido sozinha o desfile da Banda de Ipanema, na Rua Barão da Torre onde ela morava.

Que fique na Paz.

Morre Danuza Leão aos 88 - 22/06/2022 - Ilustrada - Folha

ALCYR CAVALCANTI – Jornalista profissional e repórter fotográfico, trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo e em agências de notícias internacionais. Bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) e mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.


Tribuna recomenda!