Por Luiz Carlos Prestes Filho

A atual gestão do GRES Império Serrano conseguiu uma grande vitória, depois de cinco anos de ausência, um de seus baluartes, Jorginho do Império, voltou a quadra. Isso em plena pandemia: “Era tanta gente aglomerada que imediatamente quando terminou a live, me mandei! Fui até lá porque desejo sucesso ao processo de renovação encabeçado pelo atual presidente, Sandro Avelar. Mas precisamos ter mais cuidado. Ninguém sabe de onde vem, como pega esse vírus. O mundo do samba já perdeu muita gente para a Covid 19. Desde março todo dia recebo noticias de falecimentos, de pessoas idosas e de jovens. Possivelmente, quase metade uma escola de samba morreu. Sofro a cada telefonema dos familiares, muitas histórias tristes”.

Isolado dentro de casa, Jorginho conta que tem se dedicado, em primeiro lugar, a cuidar da família: “Tenho sobrinhos e sobrinhos netos que precisam de mim. A personagem homem mais velha da família agora sou eu – eu sou o tio! Percebe? Não posso fraquejar, tenho que servir de exemplo, exigir disciplina, orientar e colaborar com os cuidados necessários. Sou a antena para-raios, tenho que segurar a barra da angustia que vivemos”.

Longe dos palcos, o sambista resolveu investir mais tempo na sua web-rádio “JI Samba Show”. Veicula dois programas diários, de segunda a segunda: “O primeiro, às 10 horas, é o SHOW DA MANHÃ; o outro, às 17 horas, é SHOW DA TARDE. Fico aqui falando de carnaval, de escolas de samba e de música popular brasileira. A programação é bem estruturada, também trago um pouco do romântico, do pagode e da internacional”.

Sempre presente na sua comunidade, apaixonado por Madureira, pela rua onde mora, que leva o nome de seu pai, Mano Décio da Viola, Jorginho diz que nunca imaginou que aguentaria esse tal isolamento: “Nossa família é muito grande, o círculo de amigos maior ainda. De repente, todo mundo teve que ficar distante um do outro. Como cantor, estou acostumado a conversar com os músicos, trocar ideias, abraçar todos na plateia. Agora mergulhei na solidão. Meus shows marcados para Uberlândia, Uberaba e Florianópolis foram para o espaço! Minha agenda deste ano estava toda tomada. Terminava com uma apresentação maravilhosa em Fortaleza. Fazia nove anos que eu cantava no restaurante CARIOCANDO, no bairro do Catete. Tudo acabou”.

Mas a tristeza de um dos grandes interpretes do samba carioca desaparece e seu coração é só regozijo quando fala do Império Serrano: “O Sandro Avelar tem pedigree, o avô dele, o Seu Zacarias da Silva Avelar, foi fundador e um grande presidente da nossa escola. Fazia tempo que não tínhamos um líder que carregasse dentro de si a nossa História. E ele chegou e disse – vamos para o campeonato, vamos ganhar o carnaval! Contratou o Patrick, grande coreografo de comissão de frente. Trouxe de volta o Nego, um interprete de presença marcante. Veio pra gente o mestre Vitinho, revelação do último carnaval, e o carnavalesco Leandro Vieira, que este ano se destacou com o desfile da Imperatriz Leopoldinense! De fato, o Sandro veio para trabalhar, para o resgatar as pessoas que foram afastadas. E nem a pandemia parou o nosso novo presidente e sua equipe: a vice-presidente cultural, Paula Maria; o vice-presidente de carnaval, Paulo Sanches; o vice-presidente social, Wagner Rogério; e o vice-presidente de finanças, Márcio Araújo”.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).