Por Sebastião Nery –
Quando Jimmy Carter esteve no Brasil, em 1972, passou alguns dias em Recife com a mulher, em casa do casal Camilo Steiner, na praia da Piedade. A mulher de Steiner, americana da Georgia, foi colega de colégio da mulher de Carter, Rosalynn, e continuaram amigas pela vida a fora. O filho de Steiner estudou nos EUA, morando na casa de Carter.
Em Recife, o governador Eraldo Gueiros ofereceu um almoço a Jimmy Carter, no Palácio. Saudou-o o vice-governador Barreto Guimarães, gordo e barroco, lançando a candidatura de Carter à Presidência dos Estados Unidos:
– Vossa Excelência, senhor governador da Georgia, tem a marca do estadista e estamos certos de que será o próximo ocupante da Casa Branca.
Carter apenas sorriu. No dia seguinte, Camilo Steiner convidou alguns jornalistas pernambucanos para uma peixada e uma conversa com Carter. Anchieta Hélcias, secretario de Industria e Comércio de Pernambuco, perguntou a Carter se ele tinha condições de sair candidato pelo Partido Democrata em 1976. Carter respondeu com outra pergunta:
– Qual é o estado mais pobre do Brasil?
– O Piauí.
– Pois a Georgia é o Piauí de lá. O senhor acha que o governador do Piauí tem condições de ser Presidente do Brasil?
Anchieta também achava que não. Acontece que o povo americano achava que sim.
CANDIDATO DOIDO – George Pires Chaves, advogado e cônsul do Piauí no Rio de Janeiro, voltou a Teresina para visitar um cliente, Miguel Faria. Encontrou-o louco, internado no Sanatório Meduna, dirigido pelo psiquiatra, ex-presidente do IPASE e deputado cassado Clidenor de Freitas.
Miguel recebeu doutor George em sua tranquila e chestertoneana loucura. Mas não queria saber nada de negócios. Só de política:
– George, o Piauí precisa de sua ajuda. Nós estamos cansados de eleger governadores sãos. Nenhum deles prestou. Agora queremos um doido para o governo do Estado.
– E quem é o candidato, Miguel?
– É aqui o nosso colega doutor Clidenor.
OUTRA DE LOUCO – Mão Cheinha era louco no Ceará. Levaram-no para o Sanatório Meduna, de Clidenor de Freitas, em Teresina. Com o tempo, Mão Cheinha virou louco-chefe. Tomava conta dos outros. Há sempre um louco cuidando dos bons.
No sanatório, havia uma mangueira que nunca dava manga. Mão Cheinha não entendia aquilo. Um dia, chamou oito loucos:
– Olha, minha gente, vocês são mangas maduras. Vão lá para cima. Quando eu gritar, as mangas caem, porque manga madura cai. Uma a uma.
Os oito subiram. Mão Cheinha, cá de baixo, gritou:
– Manga um!
Poff. E um louco se esborrachou no chão.
– Manga dois! Manga três! Manga quatro!
E eles iam se largando lá de cima e arrebentando-se cá embaixo.
Mão Cheinha gritou: – Manga sete!
O sete respondeu: – Mão Cheinha, chama a Manga oito, que eu ainda estou verde.
SEBASTIÃO NERY é jornalista, escritor, conferencista e o principal autor sobre o Folclore Político brasileiro. Professor de Latim e Português, atuou nos principais órgãos de imprensa do Brasil. Trabalhou em jornais, rádios e televisões de Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Fundou e dirigiu jornais em Minas Gerais “A Onda”, Bahia “Jornal da Semana”, São Paulo “Dia Um” e Rio de Janeiro “Politika”. Correspondente internacional de jornais e revistas em Moscou, Praga e Varsóvia entre 1957 e 58; “Isto É” e diversos jornais em Portugal entre 1975 e 76, e na Espanha em 77; adido cultural do Brasil em Roma entre 1990 e 91, e em Paris entre 1992 e 93; foi deputado federal pelo Rio de Janeiro e Bahia, e vereador em Belo Horizonte. Atualmente escreve uma coluna publicada em jornais de 20 estados.
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