Por Miranda Sá

Repete-se com várias versões a definição cinematográfica do que é ilusão; e uma delas nos leva à Hollywood quando uma grande companhia rodava o filme de guerra com um cenário à lá Cecil B. DeMille.

Protagonizavam a fita centenas de figurantes que por seu caráter militar estavam fardados; diversos soldados, cabos, sargentos e oficiais. Num intervalo da filmagem, todos se dirigiram ao restaurante para o almoço.

“Sem qualquer tipo de orientação, a ilusão coletiva levou à refeição o elenco dividido: os soldados de aglomeraram num canto, oficiais subalternos noutro, os oficiais ficaram mais afastados e o general comeu sozinho.”

Vê-se que a ilusão da hierarquia funcionou coletivamente. Se é ficção. pouco importa; o que fica valendo é que em várias situações a ilusão domina o ser humano. Agora, na guerra das entidades judaicas e árabes, assistimos uma grande ilusão imposta pela cultura popular secularmente enraizada.

Trata-se de um devaneio que seduz, sugestiona e praticamente impõe o partidarismo entre os torcedores alheios. É palpável, à disposição das cabeças pensantes, o antissemitismo e a aversão aos muçulmanos.

O primeiro nasceu quando o cristianismo foi cooptado pelo Império Romano tornando-se a religião oficial como Igreja Católica Apostólica Romana; e, como uma corporação imperialista livrou com seus cânones a culpa romana pela crucificação de Jesus Cristo.

O catolicismo condenou os judeus, esquecendo-se de que o Cristo, ele próprio, era judeu; tornou este povo um associado de demônios malévolos, e, no rastro desta estupidez estimulou pogroms na Europa Oriental e, porque não dizer, influenciou Hitler no holocausto e morte de milhões de judeus.

Trata-se de um crime contra a humanidade, que deve aos judeus grande parte da sua evolução civilizatória. Do outro lado temos a repetição perversa deixada como herança pelo clericalismo romano.

Veio com as cores e a cruz das bandeiras das cruzadas promovidas pelo Papa Urbano II para combater os “infiéis” que ocupavam a Terra Santa, e os “infiéis” eram os muçulmanos. Pelo bandidismo desenfreado, as cruzadas só não horrorizam mais do que a criminosa Inquisição.

Vemos hoje uma verdade histórica: a contribuição do Islã para a Ciência e a Cultura mundiais que todos também deveríamos reverenciar.  Na obscuridade da Idade Média foram os árabes o alambique em que se destilou as maiores descobertas da astronomia, da matemática, da medicina e da química. Deles adquirimos a mais notável invenção da aritmética, desde Pitágoras e Einstein:  o Zero.

Desvanecendo as ilusões, devemos examinar a História e usá-la como ferramenta para propor o entendimento e a paz entre estes dois povos, sem ódio e sem rancor. Enquanto muitos tuiteiros andam na esteira corrente da mídia controlada ideológica e financeiramente por dois lados interessados no conflito, eu, da minha parte, ocupo-me a refletir, lamentando o que está ocorrendo.

Sofro vendo que dentro das nossas fronteiras a política desvairada dos extremistas importa o noticiário da guerra com os horrendos traços de massacres. E com isto, promove a secessão nacional, omitindo nossos próprios problemas, como o surgimento do neonazismo, o abandono dos indígenas, as queimadas amazônicas e o descontrole da Economia conduzida pela demagogia populista.

… E esquece a multiplicação de seitas inquisitoriais pretensamente cristãs, iludindo a massa ignara com uma “teologia mercantil” ….

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br

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