Redação

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, reagiu ao aumento das críticas à política ambiental do governo Jair Bolsonaro que ameaça o acordo comercial com a União Europeia e causa apreensão até mesmo no agronegócio. Em entrevista ao Estadão, Heleno disse que as denúncias têm o intuito apenas de prejudicar o presidente e que há um exagero nos dados divulgados fora do Brasil por questões ideológicas.

A declaração ocorreu logo após o lançamento de uma campanha mundial que alerta para a destruição na Amazônia e cobra países e empresas a retirar financiamento ao governo Bolsonaro como meio de evitar queimadas. “Não há boas intenções (desses grupos) em relação à Amazônia”, disse.

Nesta quinta-feira, dia 3, foi divulgado um vídeo em inglês que chama atenção para a queimada e pergunta de que lado as pessoas estão: da floresta amazônica ou do presidente Bolsonaro. Qual a sua avaliação?
É um retrato da distorção que acontece mundialmente, propositalmente, em relação à nossa Amazônia. Quando o sujeito coloca Amazônia ou Bolsonaro, o vídeo perde o sentido. Pelo vídeo parece que o Bolsonaro é o responsável por tudo o que acontece na Amazônia e o que acontece na Amazônia tem uma influência capital no restante do mundo. Tem várias informações ali que são fabricadas, mal intencionadas. Existem obviamente interesses ideológicos e políticos por trás de todo o vídeo. É um exagero evidente o que acontece na Amazônia.

Mas o desmatamento na Amazônia existe…
Nós temos consciência de que é possível melhorar a preservação da Amazônia. No entanto, os que nos criticam jamais fizeram pelo meio ambiente nem um décimo do que Brasil faz. A Amazônia tem 80% da sua cobertura vegetal preservada. Existe desmatamento? Existe. Está se lutando contra isso? Sim. Estamos empregando muitos recursos humanos, materiais, meios aéreos para diminuir isso aí. A acusação ao Brasil é injusta, desonesta e tem o objetivo claro que é ideológico. A prova que não é para melhorar o contexto mundial é transferir as críticas para uma pessoa que é o presidente Bolsonaro há um ano e oito meses. É impensável que isso seja produzido e seja divulgado. E, pior, que conte com a contribuição de brasileiros para a produção disso aí. Isso é triste.

Os dados mostram que há recorde de desmatamento. No governo há espaço para uma autocrítica sobre a política ambiental?
Lógico que existe. Tanto é que o vice-presidente Hamilton Mourão se propôs a ser o presidente do Conselho Nacional da Amazônia para haver um esforço para diminuir o desmatamento, a exploração ilegal de madeira. Isso se arrasta há algum tempo. Se nós não dermos aos famosos povos da floresta condições de viverem com todos os recursos do século 21, eles vão buscar esses recursos às vezes em atividades ilegais. Só que não acontece na quantidade, nem na proporção que querem colocar. Existem organizações não governamentais cujo esporte preferido é falar mal da Amazônia. Por trás disso, existem interesses muito grandes, muito acima de interesses ambientais e preservação.

O senhor diz que há uma ofensiva patrocinada contra o presidente usando a Amazônia. Quem são essas pessoas?
Eu não sei. Não tenho meios para fazer uma relação. É uma espécie de obsessão de colocar uma parte do mundo contra a Amazônia, como se tudo que fosse feito na Amazônia tivesse a repercussão que eles dizem que tem e como se fossem coisas muitas fáceis de serem evitadas. A Amazônia é a maior riqueza do Brasil e do mundo. Não há boas intenções com relações a Amazônia. Há intenções de condenar o Brasil para tentar fazer com que a Amazônia seja internacionalizada.

O vice-presidente Mourão disse que o acordo Mercosul-União Europeia poderia “fazer água” pela questão ambiental. O senhor concorda?
Sim, exatamente pela propaganda negativa que estão fazendo na Amazônia. Em vários lugares do mundo houve um agravamento de focos de incêndio. Não é um fenômeno do Brasil, não é o Brasil que está tocando fogo na Amazônia. As fotos da Amazônia são concentradas no leste do Pará, ali, ao longo do tempo, houve realmente um excessivo desmatamento, há uma exploração de madeira e a razão óbvia é porque tem como escoar essa produção pelas estradas que existem ali. Eles pegam as fotos de uma parte da Amazônia e querem transformar aquilo para a visão mundial como algo que acontece na Amazônia inteira. O que dizem da Amazônia é típico de quem nunca botou os pés lá. Conhece sentado na Europa ou sentado em barzinho da Zona Sul. Esses são grandes críticos da Amazônia.

Mas o acordo está ameaçado? O vice-presidente falou em “fazer água”…
O que ele quis dizer é que não é possível deixar que no acordo entre União Europeia e Mercosul por influência de ONGs que não têm compromisso com nada, são francos atiradores.

Como o governo Bolsonaro vai impedir que a política ambiental prejudique acordos comerciais, como o da União Europeia? Dá para reverter a imagem do Brasil sobre sua política ambiental?
Lógico que dá para reverter, porque a propaganda é desonesta. Propaganda exige uma contrapropaganda, que custa recursos e a situação que estamos vivendo no mundo não é de recursos à vontade. O Brasil estava decolando, de repente veio a pandemia que virou de cabeça para baixo a situação do País. Esse mesmo governo que é acusado de genocida e autoritária, o que também não tem fundamento nenhum, colocou R$ 1 trilhão para tratar da covid e os traumas da economia. Nada disso está sendo reconhecido. Vemos textos gravados em inglês falando mal do Brasil sem nenhum fundamento. E fundações ligadas aos indígenas estão se aproveitando da situação para ir para a Europa criticar o Brasil e receber dinheiro de caixinha de fundo.

Entidades que atuam na causa indígena denunciam um genocídio de índios durante a pandemia da covid-19. Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) até 2 de setembro eram quase 20.3981 contaminados, 775 mortos, e 156 povos afetados. O governo errou nessa enfrentamento, o que dá para melhorar?
Não quero citar nomes, nem siglas de instituições. Os dados da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) até a terceira semana de agosto mostram tem 21.310 casos confirmados., 353 mortes por covid-19, isso tudo é dado controlado. A taxa de letalidade média entre as populações indígenas assistidos pela Sesai é 1,7%, bem abaixo da taxa população brasileira que é de 3,1%.

São dados muito diferentes da associação.
Claro, os dados da ONG são robustecidos por interesses dessas ONGs. Os dados divulgados por essas organizações não correspondem à realidade e aos dados oficiais que não são fabricados.

O presidente vetou o direito de acesso à água potável aos povos indígenas durante a pandemia, mas o veto acabou derrubado pelo Congresso. Não é isso que reforça as críticas ao governo?
A justificativa é que os vetos contrariavam o interesse público e por inconstitucionalidade. O governo alegou que se criava despesa a serem assumidas pela União sem apontar fonte de receita. O governo não pode assumir o compromisso de uma coisa que ele não pode fazer, que não tem recursos materiais nem humanos.

Outra crítica frequente é que a Funai não atua pela proteção aos indígenas, mas na defesa da política do presidente que é contra demarcação de terras indígenas.
O presidente em nenhum momento declarou que é contra a terra indígena. O que ele diz é que, durante o governo dele, diante de demarcações que foram realizadas sabidamente com laudos fraudulentos, que ele não estava mais disposto a demarcar mais terras indígenas nessas condições. A política indigenista precisa ser seguida, mas precisa ser honesta e dentro dos parâmentos legais e que o Brasil possa atender. É preciso que haja planejamento mostrando a realidade da situação indígena. Não adianta situação indígenas poética, romântica, que é difundida como sendo a situação a real. Os indígenas querem ter acesso aos confortos e benefícios do século 21, internet, televisão, universidade, quer fazer valer a educação obrigatória para todos os brasileiros.

O senhor está dizendo que a luta causa indígena ocorre mais fora do que dentro das comunidades?
É que muitos líderes não estão identificados com os anseios das comunidades. Eles se projetam com argumentos que não são verdadeiros, fazem pedidos que não são os reais. A comunidade quer outras coisas. Eles se fazem de líderes. Isso só se resolve com presença efetiva do Estado, o que é muito difícil na Amazônia e em todas as regiões inóspitas do mundo. É só verificar quem apresenta as queixas. Virou um instrumento político e ideológico.

O governo é acusado de tratar a questão indígena, reduzir a questão indígena e ambiental a uma questão ideológica e política.
Não, é porque muitas coisas, muitas acusações que são feitas ao governo federal não têm comprovação, nem consistência. Se você somar os porcentuais publicados anualmente do que foi queimado e desmatado, a Amazônia tinha acabado há muito tempo. Esses são dados fabricados. São dados que, muitas vezes, a consistência deles é pequena.

Mesmo os dados sobre desmatamento fornecidos pelo Inpe?
Não. Do Inpe, eu acredito nos dados do Inpe. Só que publica hoje 25%, semana que vem é como se fosse mais 25 (por cento). Tudo é como a maneira de contar história. A maneira de contar história não tem nenhum apego à realidade. O interesse é como é que nós vamos derrubar o governo Bolsonaro. Isso aí leva a uma série de distorções.

Na semana passada, uma nota à imprensa do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles ameaçou suspender ações de combate ao desmatamento devido a bloqueio de verbas. Isso foi revertido em três horas, mas expôs uma divergência na questão ambiental. O governo tem uma unidade sobre o tema?
Isso está superado. Não tem divergência. Aconteceu um descompasso. Faltou comunicação o que chegou ao ministro Salles e o que estava acontecendo na verdade.


Fonte: Estadão, por Jussara Soares