Por Lucas Rubio –
Um dos países centrais na economia e política do mundo de hoje comemora 7 décadas de formação. Data envolve reflexão histórica e comemorações gigantescas na China.
O dia 1º de outubro de 2019 marca o 70º aniversário de fundação da República Popular da China, ocorrida em 1949 por meio do revolucionário chinês Mao Zedong. Esse momento marcou a vitória do processo revolucionário na China que há décadas se desenvolvia num dos episódios de mudança mais longos e sacrificados do mundo.
A China, por milênios, foi um país feudal, agrário e com poder e riquezas extremamente concentrados nas mãos de poucas pessoas, como a família imperial, os senhores de guerra e os donos de terras, que com essa posição mantinham rígido controle sobre a esmagadora maioria camponesa do país.
No século XIX, a China começou a enfrentar uma série de interferências externas, principalmente o Reino Unido e até o Japão, que passou a interferir em assuntos internos e econômicos do país e até mesmo a se apropriar de territórios. O país, outrora grande potência mundial, um dos berços da civilização e terra de grandes invenções e estudos científicos, passou a viver em uma era de humilhações e submissão. Foi apenas no início do século XX que a China viria a experimentar um tímido início de desenvolvimento industrial e o nascimento de uma classe operária urbana.
Também nessa época, um importante ponto de virada na história chinesa foi dado: em 1911 ocorre uma revolução nacionalista que funda a República da China no ano seguinte, liderada pelo revolucionário Sun Yat Sen, pai do Partido Nacionalista (ou Kuomintang). Milênios de dinastia imperial caíram por terra. Mesmo assim, a situação econômica e política não se viu resolvida, afinal, muitos senhores de guerra resistiam à república, que era governada pelo Kuomintang.
Em 1921, no seio das contradições que seguiam existindo na China, como a extrema miséria do povo, péssimas condições de trabalho, influência de potências estrangeiras e a incapacidade do Kuomintang em resolver os problemas nacionais, nasce o Partido Comunista da China, fundado por um grupo do qual Mao Zedong fazia parte.
O Partido Comunista Chinês e o Kuomintang formariam uma frágil aliança para combater o Japão, que ocupava partes do território chinês arbitrariamente, por exemplo. O Kuomintang, porém, passou a ser comandado por Chiang Kai Shek, um líder ferrenhamente anticomunista que não hesitou em massacrar os comunistas no Massacre de Xangai de 1927. Pouco depois da tomada do poder do Kuomintang por Chiang Kai Shek, o Japão de fato entraria na China, forçando uma nova aliança entre o PCCh e o Kuomintang para combater um inimigo em comum. Mesmo sob ataque externo, Chiang Kai Shek, em sua sede por poder, muitas vezes deixava de atacar os invasores japoneses para atacar as tropas do Exército Popular de Libertação, as tropas comunistas de Mao Zedong.
A Revolução Chinesa, comanda pelo Partido Comunista, visava não só a expulsão do Japão, mas também a derrubada do Kuomintang, que há muito já não atendia aos interesses do povo chinês. A Revolução na China também visava estabelecer o socialismo como opção viável para tirar o país da calamidade. Mao Zedong, como grande estrategista não somente militar como também político, havia realizado no seio do Partido uma leitura correta da situação chinesa e havia estabelecido que a classe camponesa era a grande impulsionadora do movimento revolucionário, ao contrário do que antigas lideranças do Partido ou até mesmo os soviéticos consideravam.
São vários os episódios heroicos e épicos da luta do Exército Popular de Libertação do Povo Chinês e do Partido Comunista. Por duas décadas, Mao Zedong comandou um movimento humano sem precedentes até então, envolvendo milhões de pessoas. A Longa Marcha, por exemplo, foi um dos momentos-chave do processo revolucionário, quando centenas de milhares de soldados comunistas percorreram à pé toda a China, atravessando montanhas geladas, desertos áridos e florestas úmidas e sofrendo pesadas baixas enquanto lutava contra os inimigos mas, ao mesmo tempo, promovendo o socialismo ao libertar áreas e distribuir terras aos camponeses.
Em 1945, o Partido Comunista e o Kuomintang alcançam vitória contra o Japão, que é vencido no âmbito da Segunda Guerra Mundial e termina sua era de ocupação na China, era essa marcada por graves momentos de perseguição e massacres contra os chineses.
Apenas um ano depois, em 1946, a aliança entre comunistas e nacionalistas se rompe definitivamente e recomeça a guerra civil. À essa altura, porém, o Partido Comunista Chinês estava muito fortalecido e era visto pela população como a verdadeira força responsável pela libertação do país, já que havia se engajado de corpo e alma em expulsar o Japão e promover uma verdadeira mudança social no país.
O Kuomintang de Chiang Kai Shek, mesmo com o apoio dos EUA, não consegue vencer as tropas de Mao Zedong. No início de 1949, os comunistas entram em Beiping (futura Beijing, ou Pequim) com milhões de soldados.
A vitória final da Revolução Chinesa se daria em 1949, quando as tropas do Kuomintang fogem da China continental para a pequena Taiwan, a Ilha Formosa. Até hoje Taiwan é governada pelo Kuomintang, que não aceita ter seu outrora poder sobre toda a China reduzido a uma ilha.
Em 1949, celebra-se a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, reunindo diversos partidos e movimentos sociais que haviam participado da Revolução. Essa Conferência define o que seria o novo governo chinês e resolve fundar a República Popular da China. Foram também escolhidos o brasão e a bandeira da nova República. As cinco estrelas sobre o fundo vermelho simbolizam as quatro classes (estrelas menores – operários, camponeses, pequena burguesia e burguesia nacional) seguindo o Partido Comunista (estrela maior guiando as quatro menores).
Em 1º de outubro de 1949, no portal da Cidade Proibida, antiga morada luxuosa de imperadores, de frente para a Praça Tiananmen, lotada com mais de 250 mil trabalhadores, Mao Zedong, que havia sido eleito presidente da República, pronuncia seu famoso discurso. Ele diz: «O povo chinês se levantou! Hoje foi fundada a República Popular da China!»
Essas palavras entrariam para a História como o momento de nascimento da nova China, após anos de luta comandada pelo Partido Comunista, que havia centrado suas forças no próprio povo da China conforme suas realidades.
Depois da histórica proclamação, foi realizada uma parada militar que inaugurou uma tradição: todo 1º de outubro é o Dia da Pátria e a cada 10 anos (sempre com anos terminados em 9) se celebra um desfile militar em memória ao ano de 1949.
Os anos seguintes a 1949 foram dedicados à reconstrução do país, completamente arrasado pela Segunda Guerra Mundial e pela guerra civil de 1946-1949. Mao Zedong e o PCCh concentram seus esforços em distribuir as terras para os camponeses, nacionalizar as empresas, industrializar o país e elevar a qualidade de vida da população. São criados sistemas públicos de saúde e é estabelecida a educação pública, em uma campanha gigantesca que alfabetizou milhões de pessoas por todo o país.
Longe de ter alcançado seu fim, a Revolução Chinesa persistiu muitos anos após a proclamação da República, com passagens históricas memoráveis, como o Grande Salto Adiante, uma tentativa de alcançar um rápido desenvolvimento econômico, e a Grande Revolução Cultural Proletária, que buscou introduzir em todo o povo os ideais revolucionários e eliminar na sociedade os velhos vícios que impediam a criação de um novo mundo.
Após a morte de Mao Zedong, que havia sido o condutor do processo revolucionário por anos, libertador do país e fundador da República, a China passou a uma nova fase de sua história, marcada por reformas de abertura econômica, comandadas principalmente por Deng Xiaping, e a revisão dos caminhos que o país vinha seguindo.
Fato é que a China se transformou, em um espaço de tempo recorde, na segunda potência mundial, tirando muitas centenas de milhões de pessoas da pobreza e se posicionando com uma das grandes nações do mundo. Hoje em dia, o país investe pesadamente em tecnologia e na renovação de sua produção e alcança cada dia mais índices econômicos e sociais invejáveis.
Historicamente, a China foi o palco de intensas lutas de classes, de nações e de destinos. Desde os árduos períodos iniciais da luta por uma sociedade mais justa e independente, passando pelos anos de guerra, de conquistas e lutas igualmente intensas por uma Revolução em todas as frentes, a China é um exemplo histórico muito complexo, digno de estudo e inspiração.
Hoje, 70 anos depois de seu nascimento, a República Popular da China é um processo que levanta acalorados debates em diferentes círculos, uma demonstração do poderio sem igual do povo chinês de mudar o seu próprio destino e de estabelecer novos paradigmas.
No dia 1º de outubro de 2019, para marcar as 7 décadas de República, foi realizada uma gigantesca parada militar e civil na Praça Tiananmen, o mesmo lugar onde foi proclamada a vitória da Revolução. A parada, que contou com a presença e condução do Presidente Xi Jinping, foi a maior já realizada pelos chineses e demonstrou ao mundo não só novos equipamentos militares de alta tecnologia, mas principalmente o orgulho daquele povo por ser hoje um país independente e que avança a passos largos para uma nova era, qual não seria possível sem o socialismo!
*Lucas Rubio – Graduando em Letras com habilitação em Língua Russa pela UFRJ, Presidente do Centro de Estudos da Política Songun-Brasil, Coordenador do Núcleo de Política Internacional da Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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