Por Amirah Sharif –

Direito dos Animais!

Na semana passada, fiquei ouvindo certos torcedores comentarem, na barca Rio-Niterói, sobre a derrota do Flamengo em um jogo contra o Athletico PR. Fiquei preparada para intervir, caso falassem algum absurdo sobre meu time do coração. No entanto, descobri que torcíamos pelo mesmo time, porque eles estavam revoltados com o técnico e, pelo que escutava, até agradeci aos meus ascendentes por não ter DNA gaúcho.

Mas o que achei bem interessante é que comentaram que o urubu não pode ser mascote de time nenhum, principalmente do Flamengo. Urubu é o que há de pior no mundo animal. Enfim, na derrota do mais querido naquele 27 de outubro, no Maracanã, sobrou para o urubu.

“Pode isso, Arnaldo”?

Mascote urubu

É fato que ficamos curiosos para saber por que a mascote do Flamengo é um urubu. O Popeye foi mascote do clube até os anos 60 pela origem náutica do clube. É uma referência, mas urubu seria por quê?

Dizem que os rivais chamavam os flamenguistas de urubus, porque a maioria da torcida do Flamengo era composta por torcedores negros. Eita, que preconceito! E aí quatro jovens estudantes Luiz Octávio Vaz, Romilson Meirelles, Victor Ellery e Erick Soledade foram ao lixão do Caju, no Rio de Janeiro, e lá pegaram um urubu e o soltaram em junho de 1969, numa partida de futebol entre Flamengo e Botafogo pelo campeonato carioca.

Se o Benfica de Lisboa tem um falcão, o Flamengo tem um urubu. E não é que aquele urubu deu sorte? O Flamengo venceu o Botafogo por 2×1 quebrando um jejum de quatro anos sem derrotar o rival numa final. E, por essa razão, a ave foi adotada como mascote do clube.

Faxineiros alados

Quando vamos pesquisar sobre pombos, encontramos mais matérias de como espantá-los do que como tratá-los. Em relação aos urubus não é diferente. É impressionante a capacidade humana em querer “se ver livre” de um “problema”.

Segundo o biólogo e ornitólogo Willian Menq, mestre em Zoologia pela Universidade Estadual de Londrina, os urubus possuem um papel fundamental na manutenção de ecossistemas saudáveis. Sabiam disso? Pois é, por causa de sua dieta necrófaga (comer animais mortos), são verdadeiros “faxineiros alados”, mantendo os ecossistemas limpos, sendo responsáveis pela remoção de carcaças e, com isso, ainda evitam a propagação de doenças e bactérias que poderiam adoecer ou matar outros animais, inclusive o homem.

“As pessoas tendem a desprezar os urubus por conta de sua aparência. Ao contrário da maioria das aves, que são coloridas e possuem cantos melódicos, os urubus são aves consideradas feias, nojentas e pouco higiênicas. Por isso, poucas pessoas simpatizam com eles, deixando de reconhecer sua importância ecológica”, comentou Menq.

Estudos apontam que muitas das carcaças consumidas pelos urubus contêm toxinas botulínicas, raiva e cólera. Em áreas onde não há urubus, as carcaças levam até quatro vezes mais tempo para se decompor, explica Marjory Auad Spina, bióloga especialista em manejo e conservação da fauna silvestre. Diz a bióloga: “vejo muito mais do que uma ave com importante papel ecológico. Eu realmente vejo beleza”.

Sua majestade, o urubu-rei

O urubu-rei (Sarcoramphus papa) carrega toda a pompa, circunstância e importância por ser o maior e mais colorido entre as cinco espécies de urubus que vivem no Brasil. Seu corpo é branco, sua cauda é preta e o pescoço, alaranjado. Além do porte avantajado, ele é bem agressivo, então as aves, incluindo seus “parentes” não costumam disputar por comida com sua majestade, o “urubu-rei”, que, geralmente, capricha na alimentação, baseada em carcaças de mamíferos como antas e capivaras, além de jacarés e serpentes.

Lá nos States…

Os urubus são protegidos nos Estados Unidos pela Lei do Tratado de Aves Migratórias, que proíbe importuná-los ou matá-los até mesmo em propriedade privada. Os infratores estão sujeitos a multas de até US$ 15 mil e pena de até seis meses de prisão.

Aqui no Brasil…

Louro e João de Barros compuseram “Urubu Malandro” que “veio de cima com fama de dançador, chegou na sala, tirou dama e não dançou”. Fez bem. Ainda não é hora de festejar e de dançar. O brasileiro não o vê com bons olhos e usa de estratégias para espantá-los. Como protetora de animais, tenho como obrigação informar à população sobre a importância do urubu no nosso ecossistema. E, como torcedora do Flamengo, gostaria de pedir à sua majestade, o urubu-rei, que fale com Jesus para nos recolocar no caminho dos títulos que tanto festejamos nas últimas temporadas. Vou aguardar.

Saudações!

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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