Por José Macedo

Eu escrevi este texto, há 2 anos. Alguns personagens saíram de cena. Não importa, o personagem principal continua conspirando contra a democracia, contra Constituição e contra o Estado Democrático de Direito de Direito.

Seu então super-ministro da Justiça, hoje, milionário por contrato suspeito de prestação serviços, estão brigados. Eu dizia, naquele 05 de fevereiro de 2020: Nas últimas semanas, alguns fatos sugerem reflexão e preocupação sobre a frágil democracia, no Brasil. O fato de ser advogado, em primeiro lugar, chamou-me à atenção o ataque do presidente Bolsonaro ao presidente nacional da OAB, um desrespeito a seu pai, assassinado pela ditadura de “64”, cujo corpo, até aqui, não foi encontrado.

As respostas do presidente da OAB foram veementes e, entendo-as justas, um direito subjetivo do presidente da OAB e de sua família. Após algum tempo, o ofendido, em uma de suas falas ou entrevistas, afirmou ser o ora ministro da Justiça, Sérgio Moro, “Chefe de quadrilha”. Sugiro que essa reafirmação seja posta em um contexto, em uma série de fatos intercorrentes.

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz

As afirmações enfáticas do presidente da OAB, que se sentia triste e ofendido ocorreram, em entrevista, o que motivou o ex-juiz a processá-lo por calúnia. O presidente, Felipe Santa Cruz, no uso de seu direito, disposto na constituição, o da livre expressão, não cometeu qualquer delito. A OAB é uma entidade nacional, que tem, historicamente e por lei federal, como objeto não só a defesa da advocacia e dos advogados, mas também o do Ordenamento Jurídico, os Direitos e Fundamentais, como o da Livre Expressão de Opinião, consagrados pela Constituição. Assim, o presidente da OAB agiu no uso de suas atribuições legais. Estamos assim vivenciando momento delicado para a democracia. Diante da injustiça, muitas praticadas por agentes do Estado, no atual governo, não podemos omitir-nos. Estão evidentes os objetivos da escolha do Sérgio Moro, deixando a magistratura, requerendo a exoneração de um cargo vitalício de Juiz federal, pra ser ministro de Justiça. Na semana passada, o ministro da Justiça defendeu o senador Flávio Bolsonaro, afirmando que o mesmo não teria praticado ilícito de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, no caso da prática das chamadas “rachadinhas”.

Pergunto: é de sua competência essa defesa?

Outro fato: temos um documentário da cineasta brasileira, Petra Costa: “A Democracia em Vertigem”. Esse documentário foi indicado ao Oscar, o que irritou o Bolsonaro e seu clã. O deputado Eduardo Bolsonaro chamou a diretora do referido documentário, a Petra Costa, de “ativista anti-Brasil” e de “canalha”. A cineasta, por sua vez, respondeu: “Não podemos ficar calados. Vejo que está acontecendo um ataque ao exercício da liberdade de expressão, um direito constitucional”. A SECOM (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), por seu representante, Fábio Wanjngarten, investigado por diversos crimes (peculato, lavagem de dinheiro e outros), fez pronunciamento contra a cineasta, no mesmo tom, com acusações e ódio, ao estilo de seu chefe. Então, observando os fatos citados e outros conservatórios, vejo que estamos vivendo numa ditadura sob outra roupagem, que não é aquela sustentada pelos tanques de guerra e armas de fogo, mas exercida pela mídia e pelas instituições a serviço do atual governo, embora, de aparência democrática. Nesse contexto, os direitos e o Ordenamento Jurídico são, subliminarmente, desprezados ou desobedecidos, quando não são atacados.

Sergio Moro e Jair Bolsonaro. (Agência Brasil)

Por último: a SECOM está procurando defensores do governo Bolsonaro para contratá-los. O primeiro requisito é o de ser defensor do governo e de seu chefe, ocupante do Palácio do Planalto. Essa contratação reveste-se de inconstitucionalidade, ferindo o art. 37 da Carta magna. Assim, os atos do governo têm de obedecer aos princípios constitucionais, da moralidade, da impessoalidade, da legalidade e da eficiência. Retorno ao Oscar. A imprensa mundial está tecendo fortes comentários negativos ao governo Bolsonaro, denominando-o de autoritário e de espectro fascista. Qual país não ficaria feliz por ter um filme indicado a concorrer à essa mais importante premiação no mundo do cinema? Constatamos que esses fatos, vis-à-vis, o autoritarismo não é percebido pelo povo, lamentavelmente. As ditaduras se iniciam construindo esse formato e métodos, contidos nesse texto.

Quando menos percebemos, a democracia foi substituída pela ditadura, um processo subliminar, mas eficiente.

JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.


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