Por Alcyr Cavalcanti –
O Carnaval Carioca é a maior festa popular do mundo. Em todos os cantos da cidade a alegria faz a festa e as tristezas e dificuldades do dia-a-dia impostas à população pela incúria dos governantes são deixadas de lado. Fazer um carnaval é administrar o caos, é o reinado do improviso, da espontaneidade e da inversão. Para Mikhail Bakhtin* “o carnaval é a festa do tempo que tudo destrói e tudo renova”. Toda a folia fica sob a autoridade suprema do Rei Momo, que de início é coroado e depois destronado quando a folia chega ao fim. O Rei da Folia consegue administrar o caos, uma façanha que os teóricos de gabinete que detestam a alegria popular não conseguem. Senhores que demonstram seriedade soltam suas feras e se travestem de mulheres, adultos se transformam e crianças, crianças em monstros terríveis, pobres têm seu dia de nobreza em uma inversão mágica de valores e anulação de barreiras entre categorias sociais, embora com um tempo para terminar.
De início eram somente três dias, domingo, segunda e terça. Em alguns lugares a farra terminava religiosamente à meia noite de terça feira e sob escolta policial. A quarta na tradição religiosa seria para exorcizar a folia e reverenciar as cinzas. Com a mudança de costumes e a influência do turismo, o Carnaval não começa mais no domingo nem acaba na ilusão das cinzas da quarta feira, o “Tríduo de Momo” se estende por mais de uma semana para a alegria dos cariocas.
O Carnaval é uma festa sem barreiras, sem cordões de isolamento onde deveria prevalecer o reino da espontaneidade, onde o inconsciente deveria fazer a festa através da sátira e do politicamente incorreto como na poesia das marchinhas que até hoje animam os blocos e os bailes de carnaval. A tentativa de robotização que tentam impor não vai funcionar, os blocos vão continuar a pular loucamente ao som de “Pega ela Piru”, “Maria Sapatão” e de muitas outras marchinhas que ficarão para sempre, apesar do Festival de Besteira que Assola o País em nome de um falso moralismo. Tentar impedir letras ingênuas de músicas feitas em um outro contexto é um tremendo equívoco. O Carnaval nunca é demais ressaltar é uma festa sem dono.
No Reino da Folia os “caçadores de imagens” vão para as ruas em busca da verdade que existe por detrás das aparências , interpretar a sabedoria popular seja nos blocos, seja nas escolas de samba, seja na fantasia do folião solitário. As imagens vão desvelar as manifestações autênticas da cultura de um povo, onde se criticam todas as hierarquias e principalmente os costumes de uma época.
*Mikhail Mikhailovich Bakhtin foi um filósofo e pensador russo, teórico da cultura europeia e das artes.
MAZOLA
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