Por Miranda Sá

“A humanidade transformou-se em uma grande família, tanto que não podemos garantir a nossa própria prosperidade se não garantirmos a prosperidade de todos” (Bertrand Russell)

Quem vem do tempo em que o Twitter se iniciou com os 140 toques, puxando pela inteligência para sintetizar um pensamento e criar abreviaturas, assistiu com certa tristeza a invasão da rede nas últimas eleições por robôs controlados remotamente e, o que é pior, pelos politiqueiros que xerocam palavras-de-ordem baixadas pelos porões do poder.

Estes últimos, agitadores profissionais, que elogiam espirros e aplaudem as flatulências dos heróis que cultuam, podem ser qualificados sociologicamente como convictos e fanáticos. Os convictos adotam “ideologias” e “crenças” por espírito de imitação, suprimindo de si para si, qualquer sombra de dúvidas na “verdade” que constroem.

Os fanáticos assumem a defesa de tudo que venha “de cima”, fazendo disso uma questão de princípio. Não cultuam apenas Bolsonaro, como as massas alemãs que seguiram cegamente Hitler, mas têm anotado os nomes e datas de aniversário das ex e atual mulher dele, dos filhos e dos puxa-sacos acompanhantes de viagens turísticas.

Ambas figuras medíocres, convictos e fanáticos, têm uma grande participação nas redes sociais, sempre a postos para retuitar fluxos e refluxos das fake news chapas-brancas.

Transformam-se em comandos avançados da mentira nesta Era da Mitomania Bolsonarista. Sentinelas da moralidade hipócrita, repetem as trapaças ideológicas tiradas da mochila do capitão Bolsonaro. Uma delas, mais ridícula do que simplesmente uma fraude, é a defesa que ele faz da família.

Vê-se na realidade que o Capitão é tão apegado à família que já constituiu três, e quando trata de relações pessoais e alianças políticas, ilustra-as como namoro, noivado e casamento….  Movimenta-se agora, por exemplo, para o casório eleitoral com Waldemar da Costa Neto, passando a usar a aliança do Mensalão com a Rachadinha.

Como demagógica questão de princípio, a família é uma escora político-religiosa de Bolsonaro que vem contaminada de falsidade.

Não passa de uma camisa verde, com o sigma, para os herdeiros do fascismo tupiniquim, galináceos que cocoricam o lema integralista “Deus, Pátria e Família”.

Trata-se, portanto, de um balão de ensaio para se contrapor à doutrinação comunista que Trotsky defendeu, a substituição da família tradicional pelas creches, internatos e estabelecimentos análogos para asilar crianças.

Dá para imaginar a burocracia estatal substituindo o convívio familiar? Parece-me tão falso como criar a fantasia da família encaramujada na propaganda governamental e numa religião ministrada por agentes políticos.

Como verbete dicionarizado, “Família” é um substantivo feminino de etimologia latina (familia, -ae), significando à época pessoas que viviam sob o mesmo teto, inclusive escravos e servidores. Modernamente, é o conjunto formado pelos pais e pelos filhos, ampliado para os parentes do casal.

Do mais puro idealismo à mais terríveis abominações, a família, como o sexo, é um imperativo da natureza. Quando o homem se elevou acima dos outros animais, nasceu o sentimento do amor, a atração instintiva da procriação; então constituiu a família para cumprir as funções biológicas e fortalecer uma economia de subsistência. E assim foi, tanto no patriarcado como no matriarcado….

Não é dessa maneira, evidentemente, que veem os convictos e fanáticos da direita extremista. Definem a família do jeito como “o seu mestre mandar”…. Poderiam até nos divertir em situações de normalidade, mas tornam-se criminosos acumpliciando-se com a corrupção, defendendo (ou ignorando) as rachadinhas da família Bolsonaro. Pior ainda: alimentam-se naquele prato sem digerir, para depois vomitar o negacionismo, a patologia obsessiva do Capitão, responsável por mais de meio milhão de mortes.

A preservação da família para os negativistas visa somente atingir um fim: enganar os desavisados. Ainda bem que Lincoln nos deixou um alerta:

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.


Tribuna recomenda!