Por Luiz Carlos Prestes Filho

O candidato a vereador pela cidade do Rio de Janeiro, Everton Gomes, acredita que: “É muito importante uma articulação do poder público municipal com o grande parque tecnológico que o Rio de Janeiro tem à sua disposição. São poucas cidades do Brasil que podem dizer que dispõe no seu território de um centro de pesquisas renomado como a FIOCRUZ, na área da medicina, do CENPES, que faz todo um trabalho na questão energética e de petróleo na UFRJ ou de uma UERJ, UEZO, PUC, UNIRIO.” Para ele:

“Nos próximos anos o maior desafio será o de garantir mais qualidade de vida para o carioca, através de um processo de resgate da economia da cidade.”

Everton Gomes na Feira Livre ouvindo os trabalhadores e apresentando propostas (Fotos: Divulgação)

Luiz Carlos Prestes Filho: Como o candidato vê a cidade do Rio de Janeiro no atual contexto do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil?

Everton Gomes: A cidade do Rio de Janeiro passa por um momento de muita dificuldade, e que pese que nós somos a segunda economia dentre as capitais do país e sermos uma cidade global, e os últimos quatro anos foram definidores de um retrocesso muito significativo em várias áreas – impedindo que o Rio de Janeiro tivesse acoplado a si novos significados. A gente perdeu algumas coisas que já eram consolidadas. Pesquisas recentes apontam que uma parcela significativa dos cariocas, se pudesse, se mudaria da cidade do Rio de Janeiro e, há não muito tempo atrás, por volta dos anos 40 e 50, o Rio de Janeiro era definido como a “Cidade Maravilhosa” e essas pesquisas recentes mostram como a cidade vem regredindo nesses últimos anos. Nós não conseguimos dar os saltos que podem criar riquezas a partir da inovação, a partir da tecnologia e nós estamos regredindo do ponto de vista ambiental.

Prestes Filho: O que permite o Rio de Janeiro se destacar? Como cidade da indústria? Como cidade de serviços? Como centro da região metropolitana?

Everton Gomes: Eu acho que um grande patrimônio que a cidade do Rio de Janeiro tem é seu patrimônio natural, isso nos destaca de forma muito nítida em relação a outras cidades do mundo. Nós temos um conjunto arquitetônico construído entre o mar e a montanha, em meio a muitos alagados – o que nos permitiu a felicidade de termos uma floresta como a floresta da Tijuca, a lagoa Rodrigo de Freitas, temos o parque da Pedra Branca e outros parques muito significativos. Eu acredito que num momento onde o mundo precisa sair dessa crise provocada pela pandemia, naquilo que está sendo chamado de “a nova normalidade”, a grande chave para a nova normalidade na cidade do Rio de Janeiro deve ser a construção de um novo modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade, com a construção de empregos decentes e postos de trabalho verdes. A inovação é um grande caminho para que o Rio de Janeiro saia do marasmo em que está hoje e consiga superar essa crise econômica que as cidades por todo o mundo passam, não é diferente aqui no Rio, mas a gente precisa superar isso de forma criativa, inovadora e sustentável, esse é o caminho para a cidade do Rio de Janeiro se destacar. Está ali guardado nesse patrimônio natural que faz do Rio uma cidade singular entre todas as cidades do mundo.

Prestes Filho: As políticas de Meio Ambiente deveriam orientar as políticas de Turismo, Cultura e Desenvolvimento Econômico?

Everton Gomes: Na cidade do Rio de Janeiro se discute o pecado do assassinato de 200 mil árvores na região de Deodoro para a construção de um autódromo, empreendimento sobre o qual pairam muitas dúvidas. Eu não sou contra o autódromo, mas sou contra um autódromo construído sobre uma floresta e, para que ele seja construído, sejam devastadas cerca de 200 mil árvores. O desenvolvimento tem que ser guiado pela questão da sustentabilidade, ainda mais num momento em que o mundo passa por uma transformação climática provocada pelo aquecimento global e a gente sabe que essas transformações climáticas vão incidir de forma muito mais brutal nas cidades que estão na periferia do capital e o Rio de Janeiro é uma dessas cidades, pelo simples fato de nós não termos capacidade financeira e econômica de promover as adaptações necessárias para a cidade se tornar resiliente num curto espaço de tempo. Nós não temos isso. Então, nós precisamos olhar com muito carinho para esse ativo ambiental que nós temos, inclusive olhando para o resto do mundo que lança mão de estratégias verdes como estratégias para angariar mais turismo, mais riquezas, como estratégia para promover mais qualidade de vida e bem estar. Paris vem usando largamente uma estratégia verde, Toronto está tentando se tornar efetivamente a primeira cidade verdadeiramente verde do mundo, Nova Iorque tem feito um esforço nesse sentido Bogotá e outras cidades também.

É importante que o Rio de Janeiro tome isso para si e que, de fato, nós sejamos uma cidade verde. Uma cidade onde a perspectiva da sustentabilidade guie o modelo de enfrentamento ao desemprego e que guie um novo modelo de desenvolvimento.

Militantes e apoiadores com o candidato em atividade política

Prestes Filho: Deveriam ser realizados investimentos para consolidar a vocação do Rio no campo da ciência, da tecnologia e da inovação? O poder municipal poderia colaborar para fortalecer as universidades e os centros de pesquisas científicas?

Everton Gomes: Eu acredito que é muito importante uma articulação do poder público municipal com esse grande parque tecnológico que nós temos à nossa disposição. São poucas cidades do Brasil que podem dizer que dispõe no seu território de um centro de pesquisas renomado como a FIOCRUZ na área da medicina, do CENPES que faz todo um trabalho na questão energética e de petróleo ali na UFRJ ou de uma UERJ, UEZO, PUC, UNIRIO. Todos esses são centros tecnológicos e de referência, universidades importantes que produzem ciência e pesquisa e, por que não dizer, produzem riqueza. É fundamental pensar numa estratégia de desenvolvimento onde a cidade ajude financeiramente as universidades e, em contrapartida, as universidades, que contém uma grande gama de especialistas possam apresentar soluções urbanas para melhorar o dia a dia do carioca.

Prestes Filho: As políticas de controle da ocupação do território da cidade estão adequadas e atualizadas? Quais impedimentos ainda existem do seu ponto de vista fundiário?

Everton Gomes: Não acredito que essas políticas de ocupação do solo estejam adequadas e atualizadas, eu acredito que há muito por fazer. A cidade do Rio de Janeiro não conseguiu adotar a contento um modelo de moradia popular. Isso faz com que uma parcela significativa da sociedade carioca faça ocupação irregular do solo por necessidade. Mas nós sabemos também que hoje existe, dentro da nossa cidade, um novo modelo de ocupação irregular do solo que é fruto da ganância de certas organizações criminosas que atuam promovendo a mais valia dos seus recursos através da especulação imobiliária. Isso vem debilitando algumas regiões da nossa cidade, especialmente através da ocupação de áreas verdes que vem sendo degradadas para a garantia de mais lucros para determinados grupos que fazem controle territorial no Rio de Janeiro. É preciso que a cidade pense uma política para isso. Seja regularizando a ocupação do solo, seja garantindo a titulação para as pessoas fazerem assentamentos urbanos, seja lançando mão de um programa robusto de moradia popular com finalidade mista, unindo moradia e comércio, e fazendo ali a garantia de ocupação dos espaços públicos. Podemos ainda pegar muitos dos prédios públicos que estão abandonados e fazer um processo de “refit”, garantindo um redesenho desses prédios para moradias populares. Eu acho que a gente tem que avançar um pouco mais nisso, usar mecanismos tecnológicos, fazer georreferenciamento, a cidade precisa trabalhar mais nesse sentido. Hoje eu acho que a gente deixa muito a desejar.

Prestes Filho: A política municipal apresenta novos desafios para os próximos anos? Quais serão as prioridades do seu mandato? Temos um porto, dois aeroportos e rodovias que nos ligam a todo o país. Essa infraestrutura deveria ser mais potencializada pela prefeitura?

Everton Gomes: A política municipal traz sim desafios para os próximos anos e o maior desafio é garantir mais qualidade de vida para o carioca através de um processo de resgate da economia da cidade – nós temos hoje um índice de desemprego muito alto na cidade. Também acredito que precisamos construir um novo modelo de cidade baseado num plano de desenvolvimento municipal que, a partir das vocações do Rio de Janeiro, aponte novos caminhos garantindo desenvolvimento, e esse desenvolvimento tem que estar focado no novo modelo de economia do século XXI, que é o modelo inovador de economia verde. Também acredito que para os próximos anos os mandatos na câmara sejam mandatos fiscalizadores, que garantam verdadeiramente um olhar sobre as ações diretas da prefeitura, não servindo apenas como meros chanceladores das posições do prefeito. Ou seja, temos uma série de desafios para os próximos anos na política da cidade do Rio de Janeiro. As prioridades do meu mandato serão trabalhar por uma cidade cada vez mais segura, a partir de uma articulação de esforços da prefeitura para colaborar com um projeto estratégico de segurança cidadã para o morador do Rio de Janeiro, que a gente tenha uma cidade mais sustentável, observando, fiscalizando e propondo medidas que garantam uma cidade mais verde. Eu quero fazer uma CPI das podas de árvores danosas que estão destruindo as árvores da cidade do Rio de Janeiro – seja de forma direta, praticadas pelos serviços da prefeitura, seja de forma indireta, praticadas pela concessionária de energia. Quero discutir a criação de uma comissão especial de áreas verdes, aproveitando o debate sobre o plano diretor que tem que ser feito no ano que vem, para que possamos verdadeiramente ativar os espaços públicos da cidade e também pensar novos modelos de financiamento para a conservação desses espaços, que são espaços tão especiais para um mundo que viveu um isolamento social num período longo por conta da pandemia. Quero uma articulação dos diferentes entes federados, o município, o governo do estado e o governo federal – para a gente pensar num novo projeto de despoluição da Baía de Guanabara que geraria imediatamente cerca de 45 mil novos empregos na cidade e um impacto direto de cerca de 13 bilhões que vão ser distribuídos entre valorização imobiliária, incremento do turismo ou mesmo mais qualidade de vida e criação de empregos nas áreas afetadas pela limpeza da Baía de Guanabara. Quero também discutir um plebiscito sobre o armamento da Guarda Municipal com armas de fogo, que é uma forma que eu acredito que a sociedade pode entrar no debate sobre segurança pública e, caso a sociedade entenda que isso é possível, ou seja, que a guarda possa usar armas de fogo, a sociedade permitiria o incremento no patrulhamento urbano da cidade de cerca de 7 mil homens colaborando para que a gente tivesse um pouco mais de segurança pública na cidade do Rio de Janeiro. Obviamente não acredito que segurança se faça somente com policiamento, acredito na construção de uma nova cultura de paz que faz investimentos transversais em educação, cultura e desporto, os 3 juntos principalmente, mas sabendo que a cidade precisa se somar nos esforços do estado e da União quando o assunto é segurança pública, porque sem segurança a cidade vai se degradando, perdendo postos de emprego, perdendo turistas, vai perdendo o brilho que a gente tanto quer que volte para o rosto dos cariocas, especialmente traduzido pelos seus sorrisos. Eu acho que uma cidade, quanto mais conectada, mais integrada ela for, melhor. Isso garante uma maior facilidade para aqueles que chegam à nossa cidade, os turistas, e isso garante uma melhor qualidade de vida para quem vive aqui. Quando a gente olha para outras cidades do mundo, a gente vê que os seus modais de transporte estão extremamente conectados. Cidades como Estocolmo, por exemplo, você desce no aeroporto e um andar abaixo você tem a estação de trem que liga a uma estação de metrô, uma de VLT, uma ciclovia com bicicletas compartilhadas. Nós precisamos avançar muito no Rio de Janeiro, que é a cidade com a maior malha cicloviária do país, mas que não faz a conexão da moradia com os locais de fluxo de veículos de massa. Nós sabemos que temos um BRT que se expandiu mas que hoje sofre um processo de degradação muito intenso. Em que pese, nós nem sabemos ainda se a obra da transbrasil vai ser terminada, tão importante sobretudo para os moradores da Zona Oeste. Sabemos que o transporte hidroviário pode ser uma solução muito interessante e um estudo foi feito, não faz muito tempo, apontando várias novas possibilidades de trajetos, mas sabemos que esse transporte é colocado de lado e a concessão que existe hoje faz com que os passageiros paguem caro por um serviço de péssima qualidade e cada vez mais depreciado.

Enfim, tem muito o que se fazer do ponto de vista da articulação de uma maior mobilidade que leva cerca de 17% do dia a dia do cidadão carioca. Isso, somado no final do mês, é muito relevante e faz com que a gente tenha uma perda de qualidade de vida muito grande.

Everton Ribeiro conversando com eleitores pelas ruas do Rio

Prestes Filho: Quais são as propostas para Saúde Pública? A prefeitura estava preparada para enfrentar a pandemia da Covid 19?

Everton Gomes: As propostas para a saúde pública são, principalmente, atuar na área de fiscalização. O governo passado conseguiu avançar de forma considerável. Não foi um governo perfeito mas ele conseguiu ampliar o atendimento com o modelo das clínicas da família e que, infelizmente, esse governo atual fez retroceder muito. Ele desmontou o sistema, desarticulou o sistema e, quando veio a pandemia, o sistema desarticulado, desaparelhado e sucateado acabou agravando um pouco no atendimento das pessoas que precisavam de um sistema de saúde mais eficiente. A proposta principal, do ponto de vista da saúde, como vereador, é fiscalizar essas organizações sociais que a gente sabe que são envolvidas em escândalos e denúncias o tempo todo. Vou fiscalizar os contratos com lupa, cumprindo aquilo que é uma das missões de um vereador na câmara do Rio, que é fiscalizar o executivo e o bom emprego do dinheiro público, que é o dinheiro de todos nós e não pode escoar no banditismo e na corrupção

Prestes Filho: No campo da Educação existem resultados positivos nos últimos anos? Quais destacaria?

Everton Gomes: Sem sombra de dúvidas, o resultado mais positivo que eu vi nos últimos anos, e aí esses últimos anos já são um pouco distantes, foi a criação de um projeto democrático e revolucionário quando a gente fala de educação pública, que foram os CIEPs. Não existiu, até hoje no nosso país, um modelo de educação que tenha sido mais arrojado e mais avançado do que o modelo das escolas, criadas ainda nos anos 80, pelo professor Darcy Ribeiro em parceria com Leonel Brizola e Oscar Niemeyer. Infelizmente se viu que esse modelo escolar foi destruído e nos últimos anos, já mais recentemente, foram feitos alguns novos esforços, a meu ver esforços importantes, porém ainda tímidos – de introdução do turno único nas escolas da cidade através das escolas do amanhã, que funcionavam como escolas “integradas” não integrais. Você tinha ali aulas no contraturno mas nem todas as atividades diárias eram feitas dentro da escola como tinha pensado Darcy Ribeiro. Então, eu acredito que a gente precisa avançar e a cidade retrocedeu nesse quesito. Nós temos a maior rede básica de educação da América Latina, mas só isso não basta. Os números do IDEB estão aí para mostrar isso, nõs não atingimos as metas mínimas do índice de desenvolvimento da educação básica do Brasil, do IDEB, então, nós precisamos trabalhar muito para garantir que a juventude e as crianças tenham, verdadeiramente, escolas de qualidade, em tempo integral, que garantam uma formação humanística e de qualidade para todo estudante carioca.

Prestes Filho: Hoje os gestores públicos realizam programas para a Melhor Idade; para a Mulher; para os afrodescendentes, indígenas e outras etnias; LGBTs. Temos que melhorar as políticas públicas nestas áreas?

Everton Gomes: Eu acho que qualquer política precisa partir do prisma da inclusão. Nós temos uma cidade que faz políticas muito acanhadas do ponto de inclusão. Eu vou citar uma política específica, que é a política para pessoas com deficiência em áreas verdes da cidade. Eu fui presidente da Fundação Parques e Jardins e identifiquei uma incidência grande de pessoas com deficiência. Cerca de 22%da população carioca tem deficiência ou dificuldade motora e eu fiz um grande seminário unindo universidades, setor empresarial e a sociedade civil para discutir a reforma do mobiliário urbano, que não é adaptado para essas pessoas que tem deficiência, e a cidade simplesmente paralizou todo o processo que eu “startei” lá atrás – que era um processo que iria verdadeiramente incluir pessoas, garantindo que todo cidadão carioca tivesse direito a frequentar espaços públicos. As políticas para a terceira idade na cidade foram completamente sucateadas e abandonadas. Seja do ponto de vista físico – basta olhar para uma academia da terceira idade em qualquer região do município do Rio de Janeiro, a grande maioria das academias está danificada, está sem conservação, suja, quebrada, seja do ponto de vista de não haver mais programas de forma significativa para a terceira idade que atingiam inclusive a saúde, porque agiam de forma preventiva, garantindo uma longevidade com qualidade para os nossos velhinhos, para os nossos idosos, para nossos companheiros e companheiras da terceira idade. Nós, que num período não muito distante, conseguimos implementar uma política de incentivo à participação dos jovens na universidade, uma política do meio passe universitário, a gente não vê nada nesse sentido no governo atual. Enfim, tem muita coisa para se fazer e a cidade precisa, inclusive, fortalecer os conselhos.

O conselho de juventude deixou de funcionar a contento, deixou de existir, o conselho do negro está desaparelhado. Os conselhos tutelares, que atuam principalmente como uma política de defesa do direito das crianças e dos adolescentes, a gente sabe que estão desaparelhados. Enfim, precisamos de novas políticas, políticas para os diversos segmentos da sociedade e políticas que sejam verdadeiramente inclusivas.

Everton apresentando seu plano político para alguns ‘peladeiros’ da zona norte da cidade

Prestes Filho: O Esporte ocupa um espaço estruturante na prefeitura hoje? A juventude poderia ser mais beneficiada? Os jogos Olímpicos e a Copa de Futebol deixaram um legado que poderia ser melhor usado?

Everton Gomes: Infelizmente não. É chato porque parece que estou repetindo as respostas o tempo todo, mas a realidade é essa. Os jogos olímpicos poderiam ter deixado um grande legado para a cidade, deixaram equipamentos públicos super modernos mas, infelizmente, depois dos jogos esses aparelhos se tornaram espaços abandonados na grande maioria dos casos e não se conseguiu conscientizar a cidade sobre a importância de outros espaços também voltados para os esportes que já eram consolidados na cidade, vou citar o exemplo do parque do Flamengo. Eu visitei o parque do Flamengo recentemente e lá me deparei com várias quadras poliesportivas completamente destruídas, completamente degradadas. Então, hoje se você perguntar a qualquer cidadão carioca quem é o secretário de esportes da cidade, você vai ver que ele não vai saber responder. Inclusive equipes, que eram equipes importantes que representavam a cidade do Rio de Janeiro em competições internacionais, já faz algum tempo que elas deixaram de existir e alguns esportes na cidade do Rio de Janeiro tem muita dificuldade de serem alavancados. Vou dar aqui o exemplo do judô, que pese aqui que temos medalhistas olímpicos de judô na nossa cidade. A gente tem a Rafaela Silva, a gente teve o Flavio Canto, a gente sabe que, por exemplo, o judô tem passado por tempos difíceis na cidade do Rio de Janeiro. Eu acho que a gente tem vocação para alguns esportes, esportes de praia, temos vocação para as lutas, seja o jiu-jitsu, a luta livre, “wrestling”, o judô, temos vocação para a capoeira, temos vocação para alguns esportes e acho que a cidade trata isso de forma muito despreocupada, a cidade investe muito pouco no esporte como ferramenta de prevenção de violência, a cidade investe muito pouco no esporte para a terceira idade, que funciona como um mecanismo de prevenção à deteriorazação da saúde dos nossos velhinhos. Está muito ruim, o quadro é muito ruim em relação ao esporte na cidade do Rio de Janeiro.

Prestes Filho: A parceria com a iniciativa privada é prioridade? Como o gestor público pode colaborar para com a valorização das marcas e das empresas do Rio nas áreas: metal mecânico; computação; comércio; química; turismo; produção rural; transporte; serviços culturais; outras?

Everton Gomes: Olha, eu acredito que todos os esforços para a construção de uma sociedade melhor são necessários e são importantes. Eu não tenho qualquer restrição ao uso da iniciativa privada para garantir mais qualidade de vida para a população, eu acho que a iniciativa privada é muito bem vinda. Nós estamos numa economia de mercado e as regulações tem que ser feitas dentro do marco da legislação vigente, não se pode utilizar a iniciativa privada de forma a privilegiar determinados grupos econômicos mas tudo aquilo que for feito para somar nos esforços de valorização da cidade do Rio de Janeiro e garantia de qualidade de vida é muito bem vindo. Um exemplo de utilização da iniciativa privada que eu posso citar é o modelo de adoção de áreas verdes na cidade do Rio de Janeiro. Esse modelo de adoção hoje, a meu ver, é muito acanhado e não permite àqueles que adotam um resultado positivo mais significativo. Hoje o adotante tem ali a mera possibilidade de alocação de uma plaquinha dizendo que ele cuida de um pedaço da cidade de forma afetiva. Acho que tem outros modelos no mundo que a gente pode olhar, que garantiriam que a gente pudesse economizar recursos no cuidado com alguns espaços públicos, destinando para outras áreas como saúde, educação e segurança e esses recursos que seriam poupados seriam recursos que a gente poderia angariar junto à iniciativa privada. Mas, para isso, os setores da iniciativa privada vão precisar de algum tipo de estímulo, então, acredito que nós precisamos pensar em como fazer esse estímulo para que eles possam aportar cada vez mais recursos, ajudando a valorizar a nossa cidade cada vez mais.

Prestes Filho: Sua família sempre teve tradição na política? Conte sobre seu pai e sua mãe, sobre sua família.

Everton Gomes: Não, minha família nunca teve tradição na política. Não sou filho de político, neto de políticos, eu não sou sobrinho de políticos e eu sou um grande crítico desse modelo de uma política que deixa de perpetuar bons projetos, que deixa de incluir boas pessoas e que, na verdade, faz a rede nomes e sobrenomes, geração após geração. Defendo um modelo de boa política, que é diferente da política ruim que vem sendo praticada por muitos políticos na cidade do Rio de Janeiro e eu acredito que nós precisamos fazer uma renovação. Não uma renovação meramente de idade, nós precisamos fazer uma renovação de práticas, para sair de modelos estéreis que nós temos visto dentro da sociedade brasileira, frutos de uma polarização e uma radicalização que não levam a sociedade brasileira para lugar algum. Acredito que nós precisamos trazer novos personagens para a vida pública – que verdadeiramente não estejam comprometidos com banditismo e que tenham qualificação para fazer os grandes debates que a cidade precisa. Meu pai me criou com muito trabalho. Ele era praça da aeronáutica, foi sargento da aeronáutica. Minha mãe era uma retirante nordestina, paraibana. Ela foi empregada doméstica e atualmente ela é uma cuidadora da nossa família. A vida dos meus pais foi uma vida de muito trabalho, de dedicação à família e que garantiu a oportunidade para que eu e minha irmã pudéssemos estudar, podendo melhorar as nossas vidas a partir dos nossos esforços e das oportunidades que a gente foi tendo.

Prestes Filho: Como você iniciou na política? Como você vê o seu futuro?

Everton Gomes: Eu iniciei na política me tornando um apaixonado pelas pregações de Leonel Brizola, que defendia um Brasil soberano e justo socialmente. Eu iniciei ainda muito jovem na política, eu entrei no meu partido quando eu ainda não tinha nem mesmo idade para me filiar, com cerca de 14 anos de idade. Comecei a militar no movimento estudantil secundarista, fui aluno do colégio Pedro II – lá atuei no grêmio estudantil – e a partir disso fui me desenvolvendo paralelamente como militante político dentro do movimento de juventude do PDT, que é chamado de Juventude Socialista, e que permitiu hoje que eu galgasse uma trajetória na qual eu sou hoje o secretário nacional mais jovem do PDT e sou, aqui na cidade do Rio de Janeiro, vice-presidente do partido. Foi uma trajetória sempre de muita luta em prol da sociedade, defendendo as bandeiras históricas de inclusão, de educação, de uma cidade mais humanizada, de um desenvolvimento verde, enfim, as bandeiras históricas que o meu partido, o PDT, sempre defendeu. O PDT é o meu primeiro e único partido. O meu futuro, vejo como o futuro de um cara que vai continuar lutando para que a gente tenha dias melhores na cidade do Rio de Janeiro, que a gente consiga verdadeiramente encontrar um modelo de desenvolvimento que harmonize e permita um diálogo mais apropriado entre o homem e a natureza que o cerca, que a gente garanta um pouco mais de qualidade de vida para todo carioca e que, na política brasileira, eu consiga alcançar o meu atual objetivo que é ser vereador na cidade do Rio de Janeiro para que eu possa verdadeiramente fazer diferente desses que estão aí, que me fizeram disputar uma eleição por não me ver representado por cada um deles. Eu quero ser um vereador independente, um vereador que contribui com as minhas boas propostas e que faz oposição propositiva, tentando melhorar aquilo com o que eu discordo. Eu quero ser um vereador que vai liderar e representar a sociedade carioca. Não tenho qualquer expectativa a não ser fazer um bom mandato de vereador na cidade do Rio de Janeiro. É o desafio que eu assumi pelos próximo 4 anos.

Prestes Filho: Você entende que o instituto constitucional das eleições é a base da democracia? A democracia é o sistema político que deve ser protegido e fortalecido?

Everton Gomes: Certamente eu acredito na democracia como valor universal. Eu sou um reformista por natureza, eu acredito que as transformações da sociedade ocorrem de forma paulatina, ponto a ponto, a partir da mobilização da sociedade civil e do estabelecimento de um diálogo mais próximo com o Estado e com os atores políticos que são os tomadores de decisão, fazendo com que haja uma aproximação e uma certa “consertação” entre a iniciativa privada, governo e sociedade civil. Eu acredito verdadeiramente que esse é um instrumento muito forte, que pode garantir dias melhores para a cidade do Rio de Janeiro. Nós precisamos romper com os dogmas do passado e considerar um novo modelo de desenvolvimento a partir daquilo que seja verdadeiramente interesse da população.

Eu penso na construção de um ambiente progressista para nosso país e para nossa cidade com inclusão social, combate à pobreza, desenvolvimento econômico sustentável e forte investimento em educação, além de uma agenda potente de ética pública, porque esse também é um fortíssimo instrumento para impedir distorções que façam o dinheiro público escorrer, sendo drenado daqueles que mais precisam dos serviços sociais básicos.

Everton Gomes recebendo apoio de eleitores durante as caminhadas noturnas

Prestes Filho: A reforma tributária pretendida pelo governo federal pode ter um impacto positivo para a prefeitura? Teria o mesmo peso que representaram as reformas da previdência e a trabalhista?

Everton Gomes: O projeto de reforma tributária que vem sendo apresentado, para mim é um arremendo de reforma. É necessário sim uma reforma tributária que simplifique a forma de arrecadação dos governos, que garanta uma desoneração dos mais pobres e também da classe média – que acaba no final das contas sendo a mais onerada por uma política tributária regressiva e perversa, na qual os grandes grupos econômicos e os grandes bilionários pagam muito pouco imposto. Eu acredito que a gente precisa aprontar um modelo de reforma tributária que facilite a vida das cidades garantindo inclusive que as muitas atribuições que o município tem possuam uma âncora financeira que permita a prestação dos serviços. Hoje não é isso que acontece, hoje você tem uma concentração de recursos na União e uma concentração de competências no município, então precisamos equilibrar um pouco essa equação que, a meu ver, coloca o município um pouco “na berlinda”. O município do Rio de Janeiro já fez uma reforma da previdência recentemente e eu acredito que tanto a reforma da previdência quanto a reforma trabalhista foram reformas equivocadas por parte do governo federal, atingindo principalmente direitos que eram consolidados e não conseguiram o que eles prometiam, criação de mais empregos. Eu acho que uma reforma tributária pode ser um instrumento muito mais potente e muito mais efetivo na criação de empregos, no estímulo à economia nacional e no estímulo à economia da cidade do Rio de Janeiro.

Eu sou um forte defensor da reforma tributária, mas quero que seja uma reforma tributária que estabeleça um modelo progressivo, que consiga garantir que o Estado, de uma forma geral, tenha capacidade de arrecadar e de fazer os investimentos que são necessários, sem que para isso a classe média ou os trabalhadores sejam violentados por uma carga tributária excessiva. A gente precisa de justiça tributária, então considero que essa reforma é muito mais importante nesse momento do Brasil.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).