Por Pedro do Coutto –

Pesquisa do Datafolha divulgada na edição deste domingo da Folha de S. Paulo, e bem comentada por Joelmir Tavares, revela que as posições políticas consideradas de esquerda – somando esquerda e centro-esquerda – avançaram de 41% em 2013 para 49% este ano.

A posição classificada como de direita, no mesmo período, recuou de 40 para 34 pontos. Vale acentuar que a esquerda no Brasil e no mundo ao que se refere à posição extremista começou a desmoronar com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e principalmente com o fim da União Soviética em 1991.

REFORMAS SOCIAIS –  Além disso, vai longe o tempo em que a posição esquerdista significava uma investida contra a propriedade privada e até contra a religião. Mas as mudanças de visão foram se transformando através do tempo e hoje a esquerda significa, a meu ver, o tema que caracteriza os que defendem as reformas sociais, uma nova redistribuição de renda e o combate à fome no Brasil e no mundo.

Enquanto isso, a posição da direita passou a se restringir à defesa da propriedade e não só isso; os classificados como direitistas no fundo desejam maior concentração de renda, recusando-se a aceitar como legítimas as reivindicações que surgem sem cessar no universo do trabalho. No Brasil, o símbolo desse posicionamento está contido na imagem negativa que o ministro Paulo Guedes passa para a população.

CENTRO-ESQUERDA – A respeito do tema esquerda, temos que considerar que 17% se consideram da esquerda e 32% de centro-esquerda. Nessa corrente de pensamento é que Lula se encaixa, enquanto o centro-direita marca 24 pontos e a direita radical 9%.

Representante da direita radical, por exemplo, é o deputado Daniel Silveira ao lado daqueles que participaram e participam de manifestações defendendo o fechamento do Supremo Tribunal Federal e a implantação de uma ditadura militar com Bolsonaro no poder, semelhante a de 1968 decretada por Costa e Silva que levou à uma fase difícil e violenta.

MUDANÇAS – Posições de esquerda, sobretudo as de centro-esquerda, que se mantém na rota da democracia, não têm mais como objetivo apoderar-se ou vetar a propriedade privada. Também não estão mais na corrente ortodoxa marxista a favor do ateísmo religioso. Pelo contrário. O Vaticano com João XXIII, Paulo VI e agora com o Papa Francisco assumiram posições de vanguarda inspiradas na efetiva justiça social.

Justiça social não é apoderar-se dos bens de outra pessoa. É apenas participar de forma digna dos efeitos positivos de sua contribuição para o crescimento do produto mundial, hoje na escala de US$ 75 trilhões. Quando se fala em divisão, tem-se a ideia que se trata de dividir por dois. Não é nada disso. A redistribuição de renda pode resultar da divisão por dez, nove para as aplicações de capital e um para a remuneração do trabalho humano.

AUTORIDADE – Concretamente, a direita não tem alternativas sociais a oferecer. Pelo contrário, ela se baseia num princípio de autoridade que nada tem a ver com reconhecimento dos direitos dos que formam a força de trabalho. Ela apenas impõe e ameaça. Não tenta conquistar a sociedade por projetos capazes de ir ao encontro das suas legítimas aspirações.

As legítimas aspirações incluem o saneamento, a água potável, a moradia digna, a remuneração justa; e todos esses fatores convergindo para a esperança de amanhã. Essa diferença entre esperança e autoridade é que separa a candidatura Lula da Silva da reeleição de Jair Bolsonaro.

Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ)

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