Redação

O fracasso de Jair Bolsonaro como cabo eleitoral nas eleições municipais deste ano foi o mais recente capítulo de uma relação de pouca interlocução do presidente da República com prefeitos, nos seus dois primeiros anos de governo.

Levantamento realizado pelo O Globo com base na agenda oficial do presidente identificou que, na primeira metade do seu mandato, ele se encontrou com apenas 18 dos 5.570 chefes de Executivo de cidades brasileiras. Destes, somente quatro foram de capitais: Marcelo Crivella (Rio de Janeiro), ACM Neto (Salvador), Zenaldo Coutinho (Belém) e Alvaro Dias (Natal).

APOIO – De todos os prefeitos, os que mais estiveram com o presidente foram Crivella e ACM Neto, com quatro agendas cada. Três das quatro reuniões com o prefeito do Rio, hoje afastado, ocorreram este ano, enquanto Crivella tentava conseguir o apoio de Bolsonaro para sua campanha à reeleição. Já em relação a ACM Neto, o que motivou parte dos encontros foi o fato de ele ser presidente nacional do DEM.

Em terceiro lugar ficou o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), recebido três vezes. Em todas as ocasiões ele estava acompanhado de dois irmãos, também políticos pelo MDB do Rio: o deputado federal Gutemberg Reis e o deputado estadual Rosenverg Reis. Washington Reis foi apoiado pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) em sua vitoriosa campanha à reeleição deste ano.

COMPROMISSOS OFICIAIS – O levantamento considerou apenas compromissos registrados na agenda oficial do presidente até o início de dezembro. Em março do ano passado, por exemplo, Bolsonaro encontrou o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, durante cerimônia na capital paulista, mas a presença de Covas não foi registrada.

A maioria dos encontros ocorreu no próprio Palácio do Planalto. As exceções foram reuniões com Crivella e com os prefeitos de Belém (Zenaldo Coutinho) e de Guarujá (Válter Suman) em suas respectivas cidades. Os estados mais contemplados foram o Rio de Janeiro (sete encontros) e o Rio Grande do Sul (cinco). Das cinco reuniões com prefeitos gaúchos, três contaram com a presença do então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (atualmente na Cidadania), que é do estado.

No último dia 15, Bolsonaro recebeu o prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes (DEM-RJ), no Planalto. Apesar de não ter tido o apoio do presidente (que endossou Crivella), o democrata tem adotado um discurso pragmático e disse que será um “parceiro institucional” do presidente.

MAIS RECURSOS – Em abril do ano passado, Bolsonaro participou da Marcha dos Prefeitos, em Brasília, e foi saudado por parte dos presentes como “mito”. Em seu discurso, prometeu mais recursos para os municípios. O governo mais tarde incluiu essa questão na proposta de emenda à Constituição (PEC) do pacto federativo, mas o texto não andou no Senado.

O presidente da Confederação Nacional de Municípios, Glademir Aroldi, diz que a proposta é uma das prioridades do grupo, assim como a reforma tributária. “(Queremos) a regulamentação do pacto federativo, para que possamos estabelecer ali, de forma muito clara, quais são as regulamentações de cada ente federado. Ao longo dos anos, a União transferiu responsabilidade para municípios, mas não transferiu os recursos na mesma proporção”, afirma, ressaltando ser contra um item da proposta: a extinção de municípios.

Aroldi relata que seu diálogo tem sido mais frequente com ministérios, e não com a Presidência. Desde o início da pandemia da Covid-19, ele tem feito reuniões periódicas com equipes da Secretaria de Governo e do Ministério da Economia.


Fonte: O Globo