Redação

Em negociações avançadas para se filiar ao PSD e disputar a Presidência da República, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), já enfrenta resistências de nomes importantes da legenda antes mesmo de ingressar nela. Heterogênea e pouco ideológica, a sigla com a qual o gaúcho flerta tem em seus quadros entusiastas declarados da candidatura do ex-presidente Lula (PT), assim como aliados do presidente Jair Bolsonaro e até integrantes do primeiro e segundo escalões do governo de João Doria, em São Paulo, como o secretário de Fazenda, Henrique Meirelles, e secretário-executivo da PM, Coronel Alvaro Batista.

Eduardo Leite passou a conversar efetivamente com Gilberto Kassab, presidente do PSD, só depois de ter sido derrotado por Doria nas prévias realizadas pelos tucanos para escolher o nome da legenda que vai concorrer ao Palácio do Planalto.

QUADRO CONFUSO – Ao mesmo tempo em que vai encontrar descontentes na provável futura casa, Leite tende a deixar aliados insatisfeitos na atual. Lideranças do PSDB se irritaram com o movimento do correligionário de abandonar o partido ao qual é filiado há 21 anos após perder a disputa interna.

Políticos do PSD que pendem à esquerda e à direita já começaram a criticar o projeto Leite sem que ele sequer tenha sido sacramentado. Os senadores Otto Alencar (BA) e Omar Aziz (AM), ambos candidatos à reeleição, são exemplos de aliados de Lula que não pretendem abrir mão do apoio ao petista para reforçar um eventual palanque de Leite.

— Na Bahia, já temos aliança com o PT e vamos apoiar Lula. Isso é antes de Kassab falar do Eduardo Leite. Nada tenho contra ele — disse Otto Alencar ao Globo. Também Aziz critica o plano do governador gaúcho de se filiar à legenda para concorrer à Presidência sem ter relação com membros do PSD.

MUITA RESISTÊNCIA – Para integrantes da sigla, a situação de Leite é diferente da qual estava o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que até semana passada era cotado pelo partido para disputar o Planalto.

Na visão de colegas de bancada, o senador mineiro — que anunciou sua saída da corrida presidencial — era um nome mais palatável, apesar de ter se filiado recentemente à sigla, por já ter relação com outros parlamentares. “Com todo respeito que tenho ao Eduardo Leite, não dá para, às vésperas do prazo para formar as chapas, querer se filiar ao partido e se candidatar à Presidência” — diz Aziz.

Em Minas, o governador Alexandre Kalil também já trocou acenos públicos com Lula e dirigentes locais do PT também não se opõem à composição, mas ainda insistem que o nome para o Senado deve ser petista.

TRAIÇÕES À VISTA – No lado oposto, os aliados de Bolsonaro no PSD também passaram a declarar publicamente o palanque em que estarão, independentemente da provável chegada de Leite. É o caso do senador Vanderlan Cardoso (GO). “Assim como o Otto Alencar apoia o Lula na Bahia, eu apoio o Bolsonaro em Goiás. O PSD tem essa particularidade” — declarou.

Em meio a essa resistência, Leite mantém apoio de aliados para candidatura e diz que se sente ‘em condições de enfrentar a polarização. Em ato do PSD no Rio Grande do Sul, de filiação da ex-senadora Ana Amélia Lemos, o governador foi incentivado a ser candidato a presidente da República.

— Quero ajudar a construir uma candidatura de futuro (…) Eu me sinto em condições de enfrentar essa polarização. É uma convicção minha, mas precisa ser também de outras pessoas — afirmou. — Eu não quero entrar para dispersar, mas para liderar um projeto que chame mais gente.

Fonte: O Globo


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