Duas pesquisas recém-publicadas demonstram uma percepção que tenho desde há muito: o povo brasileiro é, a um só tempo, conservador e progressista.
Gostemos ou não disto, é este o povo que somos!
Houvesse alguma esquerda, entre nós, que merecesse este termo, estas duas pesquisas deveriam ser sua matéria prima de trabalho.
Para mim há um critério nesta aparente contradição. Entender este critério é ato de respeito que um verdadeiro democrata brasileiro, aqui e agora, deveria se obrigar a compreender.
Pois se os critérios de “classificação” ideológica forem os esquemas mofados que vigem entre nós, a causa popular está inexoravelmente perdida para o campo progressista.
Mas não precisaria ser. Não deveria ser. Não pode ser!
A tosca “direita” brasileira parece ter muito mais habilidade para se comunicar com nosso povo do que a liderança da velha e corrompida esquerda brasileira.
Felizmente, para nós, esta direita é intelectualmente desonesta e aproveitadora, não sendo, ainda, verdadeira intérprete do conservadorismo dominante no meio do nosso povo.
As pesquisas a que me refiro são uma do Instituto DataFolha, feita entre evangélicos da cidade de São Paulo; a outra, feita pelo Instituto da Democracia e organizada pelo professor João Feres Júnior da UERJ.
Os dados, bem lidos, revelam que, em assuntos de costumes e de segurança pública, as maiorias brasileiras se inclinam para o que o identitarismo vesgo chama, fraudulentamente, de reacionarismo.
E aí temos atitudes patéticas – e bem intelectualmente desonestas – como uma recente, da ruidosa deputada Maria do Rosário, do PT do Rio Grande do Sul, ao votar para derrubar o veto de Lula que tentava salvar as “saidinhas”, proibidas pelo oportunismo da maioria do Congresso Nacional.
É que, sabemos agora, 50% dos eleitores de Lula são contra as “saidinhas”… E como a campeã da boca pra fora dos “direitos humanos” quer, agora, para ser prefeita, a maioria dos votos de Porto Alegre, os direitos humanos vão só até a página 13.
Este recente exemplo caricato explica bem o que quero dizer. Se os temas ao redor dos quais a mente popular média é chamada a refletir – e, portanto, votar com lucidez – são os temas das maiorias mais pobres e de classe média, este voto tende a ser progressista.
Se o tema posto em destaque central da razão de voto é o temário dos costumes e do medo generalizado da violência urbana e da impunidade, o voto do mesmo cidadão ou cidadã, passa “para o outro lado”.
Esta foi a tecnologia que o facínora internacional Steve Bannon trouxe para cá, mandado por Donald Trump, para fazer a eleição de Bolsonaro em 2018.
Foi nesta cilada que o PT e seus puxadinhos caíram como verdadeiros patinhos. E para ela teimam em arrastar o Brasil.
Pesquisas da OXFAM revelam o que quero dizer, pelo outro lado do argumento: perguntado quem é o responsável por promover o desenvolvimento, a justiça social, o emprego, a saúde, a educação, a segurança, a valorização dos salários ou a carestia, nada menos do que 80% do povo se afirma progressista, cravando o estado como o grande responsável por todos estes objetivos das maiorias. Suas mentes operam deste jeito, antes de serem retalhadas pelos identitarismos vesgos, transformados, entre nós, em tábuas da lei da “esquerda”.
Claro que a estigmatização, o preconceito, a violência e a discriminação têm que ser enfrentadas sem tréguas e com inovações institucionais. Mas o nosso esforço deve ser o de evoluir junto com nosso povo, a partir de onde ele está, e não mandar de cima para baixo a arrogância despótica pseudo esclarecida de uma presumida “boa classe”.
Autor: Ciro Ferreira Gomes, advogado, professor universitário e político brasileiro, filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), do qual é vice-presidente.
DANIEL MAZOLA – Jornalista profissional (MTb 23.957/RJ); Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional; Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil; Pós-graduado, especializado em Jornalismo Sindical; Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio); Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Conselheiro Efetivo da ABI (2004/2017); Foi vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/2013).
SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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