Por Sérgio Vieira –
Portugal / Europa – Séc. XXI.
No pretérito mês de janeiro, dei por mim a deambular em meio a uma tradicional feira que se realiza mensalmente aqui na minha cidade de Aveiro, e que leva o sugestivo nome de Feira das Velharias. É verdade. Verdadeiro arraial de quinquilharias. Lá se encontra de tudo, desde a mais insignificante agulha, até acessórios para casa, bicicletas, automóveis etc. Um mundo de coisas que aparentemente não têm valor. Mas a verdade é que nos deparamos com objetos já esquecidos no nosso baú de memórias, e que às vezes muita falta nos faz.
Pois bem, foi nessa grande “confusão” que achei alguns livros bastante antigos, e que estavam realmente a preço de saldo. Tenho nos livros e na música, duas grandes paixões. Só para se terem uma ideia, o último livro que comprei em uma livraria, paguei cerca de 20,00 €. Na feira, comprei 5 livros pela modesta importância de 15,00 €. Destaco, entre estes achados, um exemplar bastante antigo de sonetos de Camões, e o outro, um apanhado dos melhores poemas de Fernando Pessoa.
Os exemplares, estão solenemente depositados na minha mesinha de cabeceira.
Dilema: Por qual deles devo começar?
Sobre Pessoa: Nasc. Lisboa a 13.06.1888 / Falec. Lisboa a 30.11.1935.
Foi no meu cursinho pré-universitário no Rio de Janeiro no colégio GPI (estávamos no ano de 1975) que o meu professor de literatura, Sebastião Charles, me apresentou, aquilo que seria uma verdadeira revolução na minha vida em termos de apreciação da poesia da língua portuguesa. Ali estava, Pessoa, todos os seus heterônimos e suas variantes. Múltiplas personalidades e almas, em um só ser humano.
Lembro que no rodapé da página do livro em que li, Na noite terrível, do heterônimo Álvaro de Campos, escrevi para memória futura: O MELHOR POEMA QUE LI EM TODA A MINHA VIDA! Assim mesmo, em letras garrafais. Tinha eu, na altura 18 anos.
Viajei a partir daí por todos os “eus” de Pessoa.
Bernardo Soares: O alter-ego, e semi-heterônimo, com o qual ele escreveu talvez a sua maior obra: O Livro do desassossego. Incorporando os seus heterônimos como sendo realmente ele, apresentava a multiplicação do seu “eu”, na sinceridade e identidade do seu fingimento, eram eles, além de Bernardo Soares, seu alter-ego:
Alberto Caeiro, engenheiro influenciado pelo simbolismo e futurismo.
Álvaro de Campos, poeta simples, direto e concreto.
Ricardo Reis, médico.
Devo confessar, que pela linguagem mais atual, consigo ler melhor, Pessoa do que Camões. Pelo meu gosto pessoal, enumero como os meus poemas favoritos, de Pessoa: Na noite terrível, Poema em linha reta, Auto psicografia, Não sei quantas almas tenho e, finalmente, Colhe o dia, porque és ele.
O quão não terá sido difícil viver com tantas outras vidas.
Frases de Pessoa:
O poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.
Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Porque eu sou do tamanho que me vejo. E não do tamanho da minha altura.
Sobre, Camões: Nasc. Lisboa 1524 / Falec. 10.06.1579 ou 1580.
Ele é o expoente máximo da literatura portuguesa. Luís Vaz de Camões.
Poeta lírico, autor da maior obra épica em língua lusófona. Os Lusíadas. Sendo a primeira publicação deste relato épico datado de 1572.
Um dia, corria eu alegremente pelos meus 15 anos de idade, quando ouvi, penso que na escola secundária (antigo ginasial) falar pela primeira vez de Camões e da epopeia que eram Os Lusíadas. Não sei como (já não me recordo) mas alguns dias depois estava munido da obra do poeta. Achei que a exemplo de outros livros, pudesse ler de uma só vez, assim de um só jorro. Assim como se lê um romance. Ledo engano. Mal acabei de ler a primeira “oitava” do poema, e minha cabeça/alma, já clamavam aos céus a solicitar um dicionário.
Descobri, como eu era pequeno e desinformado relativamente à alta literatura.
Comecei por esbarrar nas “As armas e os barões assinalados…” o que significava isto? De que “Ocidental praia lusitana” ele falava? Que diabo era “Taprobana” ? Me muni de um dicionário e fui à procura dos sentidos das palavras. Aqueles latinismos, aquela mitologia clássica, jogava por terra toda a minha prepotência em entender o poema assim sem uma pesquisa mais meticulosa, e fiz dessa dificuldade, o meu tônico para pesquisar sobre o poeta e sua obra. Pouco se sabe com certeza sobre sua vida. Tudo indica ter nascido no seio de uma família da pequena nobreza. Ainda jovem, terá recebido educação sobre o latim, literatura e história antiga e moderna. Dizem ainda, ter estudado na faculdade de Coimbra. Incorrigível amante, terá “adormecido” no colo de diversas mulheres nobres e plebeias. Diz-se, que por conta de um desses amores frustrados se autoexilou na África. Diz-se ainda, que foi por conta de uma rixa por causa de uma mulher casada, que o poeta perdeu um dos olhos…Vá-se saber!
É verdade que ele representa na sua plenitude o estatuto de poeta dos poetas lusitanos. A língua portuguesa, conta hoje com aproximadamente 260 milhões de pessoas a utilizá-la, é o quarto idioma mais falado no mundo, perdendo apenas para o mandarim, o inglês e o espanhol.
Frases de Camões:
O fraco rei, faz fraca a forte gente.
Que dias há que na alma me tem posto um não sei que, que nasce não sei onde.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Curiosidade: sabiam que a última palavra dos lusíadas é, “inveja”?
Já vai longa esta dissertação sobre aqueles que considero os dois maiores poetas da língua portuguesa. Fernando Pessoa e Luís de Camões. E confesso, que estou ainda muito indeciso a qual dos dois autores devo retirar a tranquilidade da minha mesinha de cabeceira.
“Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra” – (Pablo Neruda)
SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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