Por José Carlos de Assis

O primeiro ato das autoridades judiciárias depois da crise do Coronavírus terá de ser, por razões morais e políticas, a decretação de prisão preventiva de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, e de Paulo Guedes, ministro da Economia, seu chefe plenipotenciário. Os dois garantiram o mais rápido crédito e de maior montante a qualquer segmento da sociedade, ou seja, 1 trilhão 200 bilhões de reais ao sistema bancário, o setor de longe o mais privilegiado na economia brasileira.

É um acinte. A nota do “Cafezinho” que li a respeito não entra em detalhes. Contudo, a intenção de garantir ao sistema bancário o que fosse pedido por eles é pública. Pessoalmente, achava que haveria compostura diante da crise de vida e morte em que o país vive. Nada. Os bancos estão se aproveitando da situação para ganhar mais dinheiro do que já ganham. Colocaram a ambição de ganhar acima de vidas e de desconforto para milhões de brasileiros confinados em casa que enfrentam dificuldades financeiras imensas.

Meter Campos e Guedes na cadeia não é uma metáfora. Neste Governo talvez seja difícil, mas já são favas contadas que Bolsonaro não dura o tempo da crise do coronavírus. Portanto, preparem os dois suas tornozeleiras. Sua atitude é moralmente imperdoável, e politicamente insustentável. O governo que vier a suceder Bolsonaro e seu esquema miliciano há de encontrar os expedientes jurídicos próprios para encerrar os dois na cadeia, até um julgamento justo – pois não queremos fazer com eles o que foi feito com o julgamento de Lula.

Na divisão de trabalho entre Campos e Guedes, o que tem sido visto é que Campos se especializou em favorecer os bancos privados, enquanto Guedes, com a reforma previdenciária e agora com as medidas de suposto combate ao coronavirus, se especializou em escravizar os trabalhadores brasileiros. Até na hora de baixar uma medida inteligente para enfrentar a crise temos pura exploração. A redução de jornada de trabalho e de salário é uma estupidez econômica. Só um economista analfabeto como Guedes pode fazer isso.

Quando se faz uma redução salarial em larga escala contrata-se imediatamente uma redução também da demanda agregada, do investimento e da renda. Só alguém estúpido em economia como Gudes poderia tomar uma iniciativa de redução salarial como essa. Na Alemanha, em situação de crise, o Governo toma uma medida inteligente: ele paga metade dos salários industriais de forma a que as empresas não percam mão de obra especializada nem cortem empregos, contribuindo com isso, adicionalmente, para manter a demanda geral.

O que o Brasil vai fazer com economistas desse tipo, que desconhecem até mesmo o chamado multiplicador keynesiano (aumento do investimento devido ao aumento da renda salarial)? Até que ponto vamos tolerar uma situação na qual um presidente sabidamente ignorante em Economia atribui todo os poderes econômicos a quem também nada sabe do assunto? Isso não é caso de impeachment. Não se promove impeachment de presidente por ignorância. Mas se o Exército se mexer, vale a derrubada de Bolsonaro por amor à Pátria!


JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.