Por Amirah Sharif –

Direito dos Animais.

Dia 21 de maio, data de meu aniversário, fiz um pedido diferente a Deus: o de abrir caminhos para que o ex-ator Alain Delon leia, reflita e mude de ideia, quando ler minha carta.

O galã protetor dos animais

Alain Delon, um dos maiores galãs da história do cinema, se tornou defensor dos animais.

O amor do astro dos anos 50 e 60 especialmente pelos cães começou ainda na infância, quando ele teve uma cadela da raça Dobermann de nome Gala.

“Fico especialmente tocado com o fato de os cães não se importarem com quem seus tutores são. Eles amam os humanos como se fosse pais. Você acha que meus cachorros sabem que eu sou mundialmente conhecido? Eles não estão nem aí! Não sabem quem sou eu , nem com o que trabalho. Simplesmente me amam. É um amor incondicional.”

Advogados

Alain Fabien Maurice Marcel Delon é cidadão suíço há vários anos e residente num desses belos cantões de Genebra. Disse ele; “Eu sou completamente a favor da iniciativa que prevê a introdução de advogados defensores dos animais em cada cantão da Confederação Suíça e é necessário entender que, se alguém é capaz de torturar um cão ou um animal, ele é capaz de torturar um ser humano. Os animais têm direito à defesa e os que fazem animais sofrerem são piores que uma fera. Os animais são eles.”

Alain Delon e Brigitte Bardot

Em 2012, Brigitte Bardot e Alain Delon atuaram para que o prefeito de Kharkiv, no leste da Ucrânia, parasse com a matança de cães abandonados. Eles estrelaram e brilharam, mais uma vez, nesse e em tantos outros episódios de defesa dos animais.

O gato de duas pernas e de três patas

Alain Delon é um nome próprio e também um adjetivo. Não é raro alguma moça, após ter recebido um “toco” de um rapaz, emitir a seguinte frase: “Até parece que ele é algum Alain Delon.” E esse algum me faz crer que o ator Alain Delon é o gênero de onde derivam algumas espécies de Alain Delons.

Certa vez, os filhos de Delon encontraram um gato atropelado, que estava em péssimas condições. Chamaram o pai, que imediatamente levou o gato, em um helicóptero, a um veterinário de confiança em Paris, que fez os procedimentos adequados, mas, infelizmente, teve que amputar uma das patas do felino.

Alain Delon tem seu próprio cemitério de animais, onde também construiu uma capela e expressou seu desejo de ser enterrado lá.

Suicídio assistido

Recentemente, Alain Delon anunciou que optou por morrer por meio de um suicídio assistido. Em sua conta no Instagram, já desativada, publicou uma mensagem: “Minha vida foi muito bonita, mas também muito difícil. Nunca gostei de envelhecer. As dores e provações que tenho que enfrentar cotidianamente me deixam imóvel diante de tudo.”

A Suíça é o único país no mundo onde o suicídio assistido pode ser praticado por quem não tem um diagnóstico terminal ou incurável e também por estrangeiros. No Brasil, a eutanásia e o suicídio assistido são considerados crimes.

Qual a diferença?

Suicídio assistido é quando um paciente escolhe morrer e recebe a prescrição de um medicamento, normalmente por via oral, que possibilita a morte e que ele mesmo toma, enquanto que a eutanásia quem administra a morte do paciente é o profissional de saúde com uma substância injetável.

A carta

Prezado Senhor Delon,

Pedi a Deus um presente de aniversário: o de me permitir convencê-lo a continuar protegendo e defendendo os animais.

O senhor se lembra que, na sua juventude, usava casacos militares só para poder aquecer melhor os cães que encontrava pelo caminho?

O senhor se lembra de ter levantado a bandeira de os cachorros terem seus próprios “advogados”?

O senhor se lembra de junto com Brigitte, a Bardot, ter acabado com a matança de cães abandonados na Ucrânia?

O senhor se lembra daquela famosa frase do livro “ O Pequeno Príncipe”? “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”? Vamos traduzir a frase para o francês: “Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé”.

Lembrou-se? Lembrou também que a frase em questão foi dita pela raposa para o Pequeno Príncipe no capítulo XXI e é uma das passagens mais citadas da obra?

E a raposa responde que cativar significa criar laços, passar a ter necessidade do outro?

O ensinamento sugere que devemos ser prudentes com os sentimentos daqueles que nos amam.

O termo “eternamente” lhe parece assustador? Mas, se traduzíssemos toujours por “constante” ficaria melhor? Sim, mas o advérbio quer dizer que, se você conquista o sentimento do outro, é responsável por cuidar, proteger e dedicar-se, sem prazo definido.

O senhor está querendo dar um prazo e eu como uma protetora de animais, uma “advogada” não posso aceitar isso, de forma alguma, jamais!

Quando abraçamos a causa animal, não pensamos em nós. Não temos esse direito e o senhor sabe disso. Nós pensamos neles o tempo inteiro, a vida toda, sem prazo definido.

No caso do livro de Saint Exupéry, o Pequeno Príncipe é cativado pela rosa , o que quer dizer que ele se tornará responsável por ela. E no seu caso? Já imaginou quantos cativou e ainda cativa com cada atitude sua em prol dos animais?

Em março deste ano, Dra. Maria Teresa Ferraz, da Associação Bigodes do Bunker resgatou dos escombros de Petrópolis, cidade imperial brasileira, uma linda gatinha. Deu-lhe o nome de Amirah. Fiquei emocionada com tamanha homenagem.

Não pude adotá-la, porque tenho cachorros ciumentíssimos, mas fico pensando : será que Amirah conseguiu um lar? Será que está bem?

Nós, protetores de animais, vivemos sempre em alerta. Há sempre algo a fazer por eles e sabe o que aprendi, senhor Delon? Aprendi que nós não conseguimos sair da causa “à francesa”. Sabe por quê, senhor Alain, o Delon?

Não há porta de saída, portanto não há “au revoir”.

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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