Por Amirah Sharif –

Direito dos Animais.

Alguém já ouviu falar em Diego Saldanha? Não? Então, vou falar um bocadinho desse curitibano, que foi criador da primeira ecobarreira, uma estrutura flutuante criada por ele, feita com galões de 50 litros amarrados com cordas e uma rede de proteção.

A missão

A jornada do ativista Diego Saldanha começa bem cedo. De Colombo, na região metropolitana de Curitiba, ele vai até o Ceasa escolher frutas para revendê-las a seus clientes em mercados, frutarias e restaurantes.

“Comecei ajudando o pai e a mãe, né. Daí a gente começou a pegar gosto pela coisa e ficou. O pai e a mãe saíram de cena e eu continuei com o trabalho de vendas de frutas. O volume diário é em torno de 150 a 200 caixas de frutas entre pêssego, uva, ameixa, morango..”, comentou Diego.

A afinidade com o meio ambiente se estende para além do trabalho principal. O rio Atuba, que fez parte das brincadeiras de criança de Diego, sofria com o acúmulo de lixo.

“O projeto do rio começou quando eu notei que ele estava morrendo aos poucos. Trazia meus filhos para a beira do rio e ficava triste de ver tanto lixo passando. Foi quando eu comentei com eles que o pai ia fazer alguma coisa para trazer uma vida melhor para o rio Atuba. Foi aí que eu tive a ideia de fazer umas barreiras, colocar no rio e ficar captando tudo o que parar. Todo dia eu ia lá olhar. Vi que estava cheio de lixo e acabou virando um projeto de vida, uma missão.”, explicou Diego Saldanha. E conclui: “eu sou um vendedor de frutas e um ativista ambiental”. E é mesmo!!!

Copia e cola

A simplicidade da barreira e a engenhosidade de Diego Saldanha chamam a atenção de escolas, instituições e defensores do meio ambiente em outras cidades do Brasil e do mundo, que já copiaram a ideia.

“Juntei alguns galões recicláveis de 50 litros, comprei aquelas redes de proteção usadas em sacada de prédio, amarrei e acabei costurando. Mas não é simplesmente colocar no rio, tem todo um mecanismo por trás. Uma margem tem uma corda que fica fixa e na outra tem um rolamento que permite a barreira se movimentar para cima e para baixo de acordo com as cheias do rio, porque se dá uma chuva e o rio enche, a barreira vai subindo com a correnteza da água. A hora que desce, ela abaixa de novo. Faça chuva ou faça sol, três vezes por semana, eu faço a limpeza. Percebi uma melhora na comunidade. Nunca mais o rio encheu e invadiu casas e também percebi a presença de peixes e aves que não se via mais por aqui”, continuou o ativista.

Diego Saldanha recebeu o troféu do prêmio “Ecologia e Ambientalismo” da Câmara Municipal de Curitiba – Junho de 2018. (Reprodução)

Destino do lixo

Tudo que é retirado do rio é separado. O que é reciclável segue para a venda e o dinheiro é usado para ajudar nas ações e projetos ambientais. Há objetos inusitados que vão para um museu, onde é possível fazer visitas.

Procurando Nemo

Há uma cena no filme “Procurando Nemo” em que Marlin, pai do peixinho, e Dory são engolidos por uma baleia. Eles ficam “agarrados” na língua da baleia, que pede para que eles vão para o fundo de sua garganta. Marlin diz que não, porque ela quer comê-los. Dory orienta-o para seguir o conselho da baleia. E ele, desconfiado, lhe pergunta: como saber se não vai dar nada errado? Ela diz: não sei.

E aí eles se soltam para a morte. Só que a baleia os liberta e os deixa exatamente onde eles queriam ir.

source.gif Aprendi muito com esse filme infantil. Tudo queremos controlar. No momento em que os peixinhos soltaram a língua da baleia, não foi uma queda, foi um voo. Só que os humanos ficam “agarrados” àquilo que lhes dá segurança e aí não voam.

Eis um diálogo interessante do filme “Procurando Nemo” entre Marlin e Dory:

– Oi , enfezadinho do oceano, quando a vida decepciona, qual é a solução?

– Não sei qual é a solução.

– Continue a nadar, continue a nadar, continue a nadar …

Traduzindo para os humanos: teime, persista, faça a diferença. Diego Saldanha fez.

O pajé

É interessante que quando alguém quer nos dar um spoiler de um filme, não gostamos, não queremos saber o final, mas, na nossa vida, é diferente. Queremos descobrir o próximo passo o tempo todo.

Um conhecido estava fazendo uma visita a uma tribo de índios e aí ele perguntou ao pajé se eles iriam conseguir ir até àquele igarapé, fazer aquela trilha.

E o pajé respondeu:

– Vamos saber…

Moral da história: vamos lá e vamos fazer a diferença para vivermos melhor no nosso planeta.

Vambora!

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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