Redação

Em dezembro de 2019, um homem perguntou ao presidente Jair Bolsonaro se ele tinha comprovantes dos empréstimos que usa como álibi para os depósitos suspeitos feitos pelo ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O presidente na ocasião respondeu: “Pergunta para a sua mãe o comprovante que ela deu para o seu pai”.

Neste domingo (23), durante uma visita do presidente à Catedral de Brasília, um repórter do jornal O Globo perguntou sobre cheques no valor total de R$ 89 mil que teriam sido depositados entre 2011 e 2016 por Queiroz e a esposa dele, Márcia Aguiar, na conta de Michelle.

Mensagem de apoio a Bolsonaro: ameaças a jornalistas desnudam deterioração institucional (Reprodução)

Dessa vez o presidente respondeu: “vontade de encher tua boca com uma porrada, tá? Seu safado”.

Desde que foi desferida, a ameaça de agressão física ao jornalista do Globo gerou uma onda de reações que incluem notas de repúdio de diferentes entidades ligadas a liberdade de expressão, condenação de políticos, artistas e personalidades públicas, além de uma forte repercussão na imprensa internacional, manchando ainda mais a imagem do país lá fora.

Diante da forte repercussão negativa, apoiadores do presidente se mobilizaram em sua defesa, adotando, dentre outras estratégias, a tese de que a agressão foi sinal de defesa à esposa e de integridade de Bolsonaro. Bolsonaristas lançaram mão até de um áudio manipulado para culpar o jornalista, num tipo de retórica que desnuda a deterioração da situação institucional brasileira.

Mobilizados pela estrutura digital de apoio a Bolsonaro, muitos brasileiros foram às redes sociais afirmar que jornalistas merecem “tomar porrada na boca” e dizer que o presidente “só errou” em não agredir o repórter.

No lado das entidades em defesa da democracia e da imprensa, Abraji, Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres Sem Fronteiras se solidarizam ao jornalista do Globo e lembraram, em nota conjunta, que a reação de Bolsonaro foi incompatível com sua posição “no mais alto cargo da República” e “com as regras de convivência em uma sociedade democrática”.

“Um presidente ameaçando ou agredindo fisicamente um jornalista é típico de ditaduras, não de democracias”, descreveu o texto das entidades.

Repercussão internacional

A nova agressão de Bolsonaro à imprensa está tendo grande repercussão fora do país. O “ABC”, da Espanha, por exemplo, lembrou que não é a primeira vez que Bolsonaro responde de forma agressiva a perguntas sobre Queiroz.

Na Inglaterra, Sky News, Guardian, Independent e Daily Mail também destacaram a ameaça em suas editorias de temas internacionais, assim como as agências AFP e Reuters.

O texto da Reuters, aliás, foi reproduzido no site do New York Times.

Na Argentina, Clarín e La Nación se preocuparam em contextualizar o episódio, informando que Flavio Bolsonaro é investigado por desviar o salário de funcionários de seu gabinete quando era deputado estadual.

Repúdio da sociedade civil

A resposta do presidente ao repórter do Globo desencadeou uma onda de críticas não apenas de políticos e entidades jornalísticas e de direitos humanos. O repúdio acabou viralizando nas redes sociais.

No Twitter, a pergunta do repórter que irritou Bolsonaro foi repetida mais de 1 milhão de vezes em menos de 24 horas. Segundo o professor Fabio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ela foi replicada mil vezes a cada 40 segundos.

Em nota, o jornal O Globo afirmou que “tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população”.


Fonte: Portal Imprensa