Por Ricardo Cravo Albin

“Impensável uma eleição presidencial sem debate entre os candidatos”. Jornalista Pompeu de Sousa – no debate Contra a Censura. 1994 em Brasília.

Acabei de assistir ao primeiro debate em que o Jornal Nacional entrevistou Bolsonaro. A seguir, e por sorteio, vêm Ciro, Lula e Tebet, os mais bem pontuados nas pesquisas.

Creio que, a cada vez que o público brasileiro assiste a esses encontros, mais se esclarece em quem votar no já vizinho mês de outubro.

As informações produzidas pelos candidatos e seus entrevistadores ajudam decisivamente o eleitor a tomar posições mais acertadas, funcionando como uma diretriz de essência para o aclaramento das possíveis confusões, divergências e dúvidas provocadas pelo habitual destempero e quase sempre promessas vãs – chamadas, desde que o mundo é mundo – de “eleitoreiras”. No noticiário profuso de cada candidato, a tendência do eleitor é ser vítima de perplexidades. As entrevistas individuais dos quatro candidatos à Presidência pela TV Globo se desenvolvem nos dias subsequentes aos que escrevo, e chamo à atenção pelo rigor, goste-se ou não, do casal de entrevistadores William Bonner e Renata Vasconcellos, que me parecem não ultrapassar o bom senso, a educação e o respeito, embora chegando ao limite, um limite jornalístico que beirou neste primeiro encontro até a momentos de suspense. A boa convivência entre entrevistadores e entrevistado se manteve, contudo. O calendário de entrevistas exclusivas com os candidatos deveria prosseguir pelos veículos da imprensa profissional, que já devem começar a tornar públicas suas entrevistas. E, como diria Millôr, quanto mais desabridas e desafiantes (resguardando sempre a polidez necessária), tanto melhor.

Quanto aos debates, em especial os mais desejados com os candidatos à Presidência, esses se afunilam e se tornam cada vez mais difíceis. Acentuo aqui que já houve o primeiro confronto entre candidatos aos governos estaduais, do qual mal sei dos resultados em acolhimento público, por parte de pesquisas de audiência.

Fato a se lamentar, e daqui deixo expresso meu inconformismo que, malgrado os esforços do consórcio de jornais, as campanhas dos dois candidatos presidenciais mais apontados pelas pesquisas ainda não se comprometeram aos debates no prazo estipulado pelos patrocinadores, ou seja, a imprensa, ou seja, a opinião pública “latu sensu”.

Para dissabor dos veículos, e de todos nós eleitores, os dois parecem ter fugido ao confronto público. Estão eles, ao que se vê, mais estimulados a se dirigirem a seus pequenos “guetos”, em ambientes apenas “favoráveis”. Ou seja, falar o que lhes possa ser mais benéfico. Uma lástima…

Claro está que não parece haver dúvida de que esse será o caminho mais confortável para os disputantes ao cargo máximo do país. Mas o empobrecimento para os eleitores e – que fique igualmente claro – também para os fujões fica exposto. Dolorosamente.

Não há como não considerar outro lado da moeda: os “debatinhos” patrocinados por youtubers, podcasters ou influencers devem ser assistidos majoritariamente pelo eleitorado já cativo e suficientemente convencido de que o candidato patrocinado será o melhor. Isso valerá a pena, pergunto eu? Tão somente para contabilizar quantos mais votos o candidato contratado por seu próprio pessoal terá a mais (ou a menos…) nesses debates comprometidos apenas com a turma tradicional do amém, do “sim senhor”?…

Tanto Bolsonaro quanto Lula, se fugirem mesmo da imprensa, agem mal, porque evitam os confrontos eleitorais feitos em todos os países democráticos do mundo.

Certamente, insisto, que ninguém muito menos eu, seríamos ingênuos ao acreditar que os debates públicos dos candidatos preferenciais pelas pesquisas não poderiam ser um incômodo para os contendores. Mesmo o que de fato, pode ocorrer – uma Espada de Dâmocles em suas cabeças. Mas eles deveriam se acudir De uma verdade de primícia, “quem está na chuva é para se molhar”.

Trata-se, a meu ver, de um comportamento infantil. Indesejável. E grosseiro para com o eleitor que quer a verdade nos olhos do candidato.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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