Por Rogério Marques –
Vejo muitas pessoas indignadas com a cassação do mandato do deputado federal Deltan Dallangnol, ex-coordenador da Operação Lava Jato. Da mesma forma, essas pessoas ficarão indignadas se o mesmo acontecer com o ex-juiz Sérgio Moro, atualmente senador, o que não será surpresa.
Para os indignados, a cassação de Dallagnol foi uma “vingança”, uma “vitória da corrupção”. Nem o próprio Dallagnol acredita nisso.
Para escapar de processos administrativos disciplinares, que poderiam torná-lo inelegível, pediu exoneração do cargo de procurador da República. Sabe muito bem que o passado o condena.
Interessados em obter notoriedade e em apoiar golpes, em vez de fazer justiça, Moro e Dallagnol cometeram crimes contra muitos acusados de corrupção. Crimes que ficamos sabendo graças à série de reportagens “Vaza Jato” — as conversas vazadas entre o então juiz Moro e o procurador Dallagnol, reveladas pelo periódico virtual The Intercept Brasil.
Importante lembrar que os dois chegaram onde chegaram com o apoio de empresas jornalísticas que, sem a menor visão crítica, e como sempre fomentando golpes, transformaram Moro em “herói nacional”.
Os defensores de tais práticas têm a mesma concepção tosca dos que defendem ações policiais truculentas, até mesmo a tortura e o assassinato dos suspeitos de crimes comuns. Acreditam que direitos humanos são invenção de defensores de bandidos. Os “patriotas” do 8 de janeiro rezam todos por essa cartilha.
Essas pessoas aplaudem Dallagnol e Moro como aplaudem ou se omitem diante das ações de grupos policiais como o Bope, da Policia Militar. Durante treinamento nas ruas próximas ao quartel, no Rio, os soldados, submetidos a doutrinações dignas do nazifascismo, cantam, para quem quiser ouvir, palavras de ordem sinistras:
“Homem de preto qual é sua missão? Entrar pela favela e deixar corpos no chão.”
Os defensores de Moro, Dallagnol e das polícias truculentas estão juntos e misturados. O bolsonarismo revolveu e trouxe à superfície essa lama podre que há séculos polui o Brasil.
Acabar com essas práticas vai ser tão difícil quanto tornar este país socialmente mais justo. Talvez seja este o maior desafio do novo governo, se não for mais uma vez golpeado antes disso.
ROGÉRIO MARQUES – Jornalista com mais de 50 anos de profissão, atuou principalmente no diário Correio da Manhã e TV Globo como editor do Fantástico e Globo Repórter.
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